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Crítica/"O Conto do Amor"
Romance de estréia segue tradição de "O Nome da Rosa" e "O Código Da Vinci"
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
O título, "O Conto do
Amor", sugere à primeira vista que se trata
da história de uma paixão. Essa
é, de fato, uma das formas de
amor abordadas no livro de
Contardo Calligaris, mas há outras, que, misturadas, criam a
teia de afetos presentes no
enredo: há o amor entre pai e filho, há o amor interrompido no
passado que deixa marcas na
história dos envolvidos, há o
amor aparentemente simples
que, para ser levado adiante, irá
requerer desprendimento e coragem.
Carlo Antonini, o protagonista da obra, é um italiano que
mora em Nova York, onde ensina psicopatologia, e volta para
seu país em busca do sentido de
uma conversa que tivera com o
pai pouco antes de ele morrer,
12 anos antes. Nela, o homem
que passara a vida toda imerso
em seus estudos sobre a Renascença conta para o filho uma
experiência estranha que vivenciara na juventude no convento do Monte Oliveto Maggiore, próximo a Siena: "Ao entrar no claustro, tive a sensação
imediata, distinta, nítida de que
conhecia os afrescos perfeitamente, cada cena, cada figura,
cada pincelada".
O ponto de partida é interessante, e a complexidade das relações amorosas é abordada
com delicadeza. O problema de
"O Conto do Amor" é que ele se
filia a uma tradição narrativa já
bastante desgastada e diluída,
que tem seu marco de origem
genial, nessa formulação, em
"O Nome da Rosa", de Umberto
Eco, e seu maior best-seller em
"O Código Da Vinci", de Dan
Brown.
Entre seus mais comuns ingredientes, estão o uso de questões da história da igreja e da
arte didaticamente expostas, as
constantes referências eruditas
ou supostamente eruditas, os
toques autobiográficos, a assimilação no texto de roteiros turísticos e a investigação detetivesca que se vale de coincidências e das intuições brilhantes
(e às vezes altamente improváveis) do herói. No Brasil, o esquema já fora adaptado, por
exemplo, por Isaías Pessotti,
em romances como "O Manuscrito de Mediavilla" e "Aqueles
Cães Malditos de Arquelau".
Infelizmente, em sua estréia
na ficção, Contardo Calligaris
não consegue escapar do peso
dessa linhagem.
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura
da Escola de Artes, Ciências e Humanidades
(EACH) da USP.
O CONTO DO AMOR
Autor: Contardo Calligaris
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 34 (128 págs.)
Avaliação: regular
Lançamento: sábado (26/4), na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (av.
Paulista, 2.073), às 11h
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