São Paulo, domingo, 12 de abril de 2009

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Na corte com as estrelas

O ex-mauricinho de Ipanema que virou advogado das celebridades

Rafael Andrade/Folha Imagem
Ricardo Brajterman na Hollywood brasileira

Já era alta noite quando um telefonema tirou da cama o advogado carioca Ricardo Brajterman (pronuncia-se "Braiterman"), 37, no dia 16 de março, relata a repórter Denise Menchen. Pouco tempo depois, já de terno, ele deixava o apartamento onde vive, no Leblon, na zona sul do Rio, em direção à delegacia do bairro. Parado por policiais sob suspeita de dirigir alcoolizado, o ator Selton Mello o aguardava para realizar o teste do bafômetro. O resultado deu negativo, e a opção pelo terno se mostrou correta: no dia seguinte, sua foto ao lado de Selton numa delegacia, no meio da madrugada, foi reproduzida à exaustão em sites e colunas.

 


Sócio do escritório Sergio Bermudes, do Rio, Brajterman é um dos advogados mais procurados pelas celebridades brasileiras em apuros. Os pedidos de ajuda muitas vezes nada têm a ver com o mundo jurídico. Um ator famoso já o procurou porque estava com medo de deixar o motel onde estava, em razão da marcação cerrada de um fotógrafo em frente ao estabelecimento. Outro, porque teve o cartão bancário "engolido" por um caixa eletrônico num domingo à noite. Mas o filão do advogado, é claro, é outro: proteger os artistas do assédio abusivo de paparazzi.
 


"As pessoas confundem uma pessoa pública com um banheiro público, ao qual todos podem ter acesso", compara Brajterman, que diz que, se não houver interesse público que justifique sua divulgação, informações sobre a esfera pessoal não devem ser exploradas.
 


Ele reconhece que é tênue o limite entre os direitos constitucionais à privacidade e à liberdade de expressão. Diz que recorre aos tribunais apenas quando os atos são reiterados e têm maior potencial ofensivo. "Enquanto não tiver como provar o abuso de direito, nem entro no caso. Espero o sujeito dar a corda para se enforcar."
 


Foi assim que ele obteve na Justiça, em 2006, a liminar que impediu a RedeTV! de exibir imagens da atriz Carolina Dieckmann em seus programas humorísticos. Assediada pelos apresentadores do "Pânico na TV", que chegaram a contratar um guindaste para filmar seu apartamento, ela recebeu uma indenização de R$ 50 mil.
 


O caso ganhou destaque e levou à porta de Brajterman outros famosos insatisfeitos. Conhecida do advogado desde os tempos de colégio, a cantora Preta Gil procurou-o ao achar que o "Pânico" a havia ridicularizado ao exibir um caldo (mergulho forçado) que ela levou na praia de Ipanema.
 


"Eles fizeram uma sátira de muito mau gosto e aquilo me atingiu demais. Percebi que toda a minha paciência tinha chegado ao fim", lembra Preta, que, ao lado de Luana Piovani e Dado Dolabella, é mais um cliente de Brajterman que hoje está livre do assédio do "Pânico" - programa a que o advogado diz assistir sem dar uma única risada. "Não acho graça no humor feito de forma apelativa, escatológica, grosseira e agressiva."
 

O advogado obteve também uma liminar proibindo o paparazzo Gabriel Reis de se aproximar de Danielle Winits e sua família. A ação foi movida depois que a atriz teve uma discussão com o marido registrada pelo fotógrafo, que seguia o casal em um shopping do Rio. "Tudo o que é feito de tocaia e cria um constrangimento ilegal é ilícito e gera dano moral", afirma Brajterman. "Ele é uma pessoa muito sensata, objetiva e profissional", agradece Winits.
 


Em muitos casos, segundo o advogado, o dano pode ser material. "Quando um site na internet disponibiliza o vídeo da Daniella Cicarelli na praia, está lucrando com isso", diz ele, que não advogou no caso, mas é a favor da proibição da exibição das cenas íntimas da modelo com um namorado na Espanha. "Ela estava em um lugar público e assumiu o risco de abrir sua intimidade para as pessoas que estavam ali. Mas não se pode levar isso para milhões de olhos na internet", defende. Em outro caso polêmico que não está sob sua responsabilidade, Brajterman considera que Roberto Carlos tem o direito de não querer ver sua vida exposta na biografia "Roberto Carlos em Detalhes", de Paulo Cesar de Araújo, cuja publicação e circulação está proibida pela Justiça. "A história da pessoa pertence apenas a ela. Ela tem o direito de preservá-la."
 


O advogado ressalva que a decisão de entrar ou não na Justiça cabe apenas àquele que teve a privacidade devassada. "A intimidade é um patrimônio. Para muitos atores, é interessante abrir mão desse patrimônio em determinados momentos", afirma o carioca, que conhece bem o meio artístico - aos dez anos, por insistência da mãe, ele começou a cursar teatro no colégio Andrews, em Botafogo, de onde partiu para o grupo Tablado. Foi lá que manteve os primeiros contatos com atores como Cláudia Abreu, Malu Mader, Marcelo Serrado, Maurício Mattar e Selton Mello, entre outros.
 


Além de colocá-lo no palco em peças como a rodriguiana "Bonitinha, mas Ordinária", a experiência no Tablado fez com que Brajterman se envolvesse também com os bastidores das montagens. Aos 17, ele fez a iluminação de "Confissões de Adolescente", de Maria Mariana. Por pouco não abriu uma produtora. Acabou optando por prestar vestibular para direito e jornalismo.
 


Quando estava no terceiro período da faculdade, foi chamado por Bruno Lara Resende, filho do jornalista e escritor Otto Lara Resende, para produzir uma peça. O espetáculo, um fracasso de público, aproximou-o de um amigo de Bruno que trabalhava no já badalado escritório de Sérgio Bermudes, do qual hoje é sócio. No novo trabalho, um antigo professor de teatro, Daniel Herz, procurou-o, insatisfeito com a lei que assegurava pagamento de meia-entrada para todos os espectadores com até 21 anos. A vitória na Justiça com essa ação fez Brajterman voltar a frequentar o círculo dos antigos amigos artistas. Primeiro os assessorava na assinatura de contratos, na compra de imóveis e nas ações de divórcio. Com o tempo, passou a defender também a privacidade dos famosos.
 


Namorado de Flávia Alessandra na adolescência, ele reatou o relacionamento com a atriz em 2003, mas pouco apareceu na mídia durante os cerca de dois anos em que permaneceu ao lado dela. "A gente não ia muito a estreias e a outros eventos", desconversa ele, que atualmente mora com a galerista Maria Cristina Magalhães Pinto, da Arte em Dobro.
 


Além da atuação no escritório, ele dá aula na PUC-Rio e trabalha com o deputado estadual Alessandro Molon (PT), de quem foi tesoureiro na candidatura derrotada à Prefeitura do Rio no ano passado. Os dois se conheceram na universidade - Molon como aluno, Brajterman como professor - e iniciaram uma amizade que o tirou do palco onde se desenrolam as pequenas tragédias dos clientes famosos. "Sou um mauricinho de Ipanema", diz. "Passei a conhecer o Rio de verdade."


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