São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2011

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CRÍTICA DRAMA

"Savana Glacial" delineia o sonho de superação da dor

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

"Savana Glacial", do grupo Físico de Teatro, propõe uma narrativa que se constrói pelo apagamento, na soma de lacunas que vão se empilhando no desfiar de uma história vaga.
O espetáculo revela um novo coletivo experimental e reafirma o dramaturgo Jô Bilac como uma promissora novidade no teatro brasileiro contemporâneo.
Como autor convidado pelo grupo, ele propôs um processo aberto de trabalho em que o texto fosse uma incógnita a ser decifrada de maneira coletiva.
Esse projeto se refletiu na encenação, que patina em diversas direções até se acomodar em uma possível leitura, mesmo assim incerta.
De qualquer modo, a engenhosa trama que sustenta as muitas variáveis enunciadas sugere ter havido a participação decisiva de um especialista.

VERSÕES E FATOS
O eixo dramático, a princípio vago, mas depois flagrante, é o distúrbio de memória de uma personagem.
Supostamente, ela sofre de uma incapacidade de fixar vivências. Suas recordações são fugazes ao ponto de ela precisar de um caderno para manter um contato mínimo com a realidade.
Estão dadas as circunstâncias para se armar um jogo ilimitado de potenciais versões dos fatos, envolvendo um marido escritor e uma vizinha enxerida.
A direção de Renato Livera, também ator e idealizador da produção, é segura.
Ele explora o amplo espaço cênico de que dispõe com desenvoltura, esparramando os deslocamentos e explorando generosamente os vazios e as vastidões momentâneas que os curtos-circuitos ficcionais instauram.

COREOGRAFIA
São notáveis, ainda, nas incisões diretivas, lampejos de coreografia que apontam para uma linguagem característica do grupo, mixando cenas dialógicas realistas com pontuações quase bailadas de tão precisas.
As atrizes Camila Gama e Andreza Bittencourt desempenham com energia as figuras femininas. Elas se revezam nos estranhamentos oferecidos nas muitas situações coloquiais em que se confrontam.
Curiosamente, e isso parece arte de uma dramaturgia indecisa entre o realismo e um registro mais onírico, o pano de fundo desse quebra-cabeças que se mostra impossível de montar não deixa de ser um triângulo amoroso.
Como indica o personagem do escritor, no que seria o prólogo do espetáculo, "tudo é ficção a não ser a dor". Esta, para quem a deveras sente, é percebida como realidade instransponível.
"Savana Glacial" esboça o sonho de superação desse estorvo, ou pelo menos de seu olvido.

SAVANA GLACIAL
QUANDO de terça a quinta, às 21h30; sessão extra à 1h30 no domingo (Virada Cultural); até 5/5
ONDE Sesc Belenzinho (r. Padre Adelino, 1.000, tel.0/xx/ 11/ 2076-9700)
QUANTO de R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO bom




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