São Paulo, Segunda-feira, 12 de Abril de 1999
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TELEVISÃO

"Zorra Total" é pouco riso e sem siso

TELMO MARTINO

Colunista da Folha

"Casseta Planeta" à parte, o humor na televisão sofre a eterna opção entre a pedra lascada e a polida. Com a vitória sempre mais previsível da lascada.
Regina Casé acabou de aprender isso. O humor lascado de "A Praça é Nossa" mostrou-lhe que "Muvuca" tinha um "u" a menos para encarar a noite de sábado.
Na tranquilidade das quintas-feiras tem o "Zorra Total", que faz rir uma platéia de empréstimo. Numa abertura totalmente independente do programa, Lima Duarte tenta se humanizar como um humilde funcionário de um grande milionário, que lhe confia pequenas tarefas de ordem pessoal. Excessivamente pessoal para um sorriso. Ou lágrima. Não se sabe o que ele queria.
Esse intrometido tom chapliniano foi cortado pela Cláudia Gimenez, ao telefone agora e sempre como a Bina, aquela personagem que tomou o elevador para o Olimpo da Rede Globo. Pode ser livremente maçante como uma imperatriz. Os submissos condicionados acham graça naquela madame que não larga o telefone nem para socorrer o menino que resolve brincar com uma cobra. O único problema de mulher nova-rica é ver seu telefone não dar linha. Humor para deliciar as empregadas domésticas. E mais ninguém.
Ainda não foi dessa vez que lhe deram um personagem à altura de seu talento. Mas Agildo Ribeiro faz o que pode para arrancar lágrimas de sua empregada que usa a ponta da saia como lenço. Pior sofrimento é o do poderoso Alexandre Pires, às voltas com o Alberto Roberto, ainda a maior inveja do dr. Frankenstein.
Andrea Beltrão até que é bem vinda depois de tanto horror, com sua pontual tensão pré-menstrual. Nessa tensão, ela se compadece dos bichinhos que morrem para virar tudo que é patê nas festas da moda. Não consegue retirar a graça da situação. Ninguém conseguiria.
Muito mais tempo deram a Denise Fraga, na moça feia que quer viver as experiências de uma amiga bonita. Tudo piercings e suas previsíveis consequências. O previsível sempre foi o maior inimigo do humor. O pior que ele resolveu ser o vírus que ataca tudo o que "Zorra Total" mostra para fazer rir.
Renato Aragão não ajuda. O inferno dele nunca serão os outros. Será sempre o Didi. Danielle Winnits se afastou de uma fase de prestígio e se mostrou descartável.
Como a carta marcada de sempre, a "Escolinha do Professor Raimundo" está incluída. Nunca revista, mas -oh, céus- finalmente abreviada. O professor Raimundo é o único cômico tranquilo. Tem nos alunos uma claque garantida. Um deles foi sucinto: "Dá-se a César o que é de César e a Raymundo Nonato o que é de Raymundo Nonato". Diante de uma pergunta boba até a Dona Bela se lamentou ter se matriculado numa "sex school". Não se riu de mais nada. Pouco riso. Dane-se o siso.


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