São Paulo, sábado, 12 de maio de 2001

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EXPOSIÇÃO

Evento abre a temporada deste ano do Instituto Cultural Itaú

Mostra incide sobre a luz em obras de arte brasileiras

Divulgação
"Paisagem Imaginante", de Guignard, que está na mostra do Itaú


DA REPORTAGEM LOCAL

Explicitar como a luz aparece, seja como elemento físico ou conceitual, em dois séculos de arte no Brasil, é a intenção de "Trajetória da Luz na Arte Brasileira", exposição que abre hoje a temporada 2001 do Instituto Cultural Itaú.
O mesmo eixo temático orienta outros eventos da programação do instituto ao longo do ano (veja alguns em quadro abaixo).
O responsável por dar à luz esse marco inicial é Paulo Herkenhoff, que tem no currículo a curadoria-geral da Bienal de São Paulo de 98 e é curador-adjunto do MoMA de Nova York desde 99. Ele também prepara, para julho, um livro sobre "A Trajetória da Luz".
Herkenhoff selecionou, com a assistência de Valéria Piccoli, cerca de 200 obras, de mais de 120 artistas dos séculos 19 e 20. As peças provêm de 70 diferentes fontes.
O longo passeio se inicia com Nicolas Taunay (1755-1830), para Herkenhoff "o melhor pintor das Américas naquele momento".
O "momento" é o da consolidação do neoclássico, com a chegada da missão francesa ao Rio, para onde o grupo foi importado por d. João 6º, com o objetivo de injetar cultura à nova corte.
Nas telas de Taunay, a luz tem caráter "moral", diz Herkenhoff, apontando como a torre de uma igreja, por exemplo, surge mais clara. "Ela ilumina, no sentido político, o que é preciso acentuar."
Nessa seção da mostra está também o célebre "Panorama da Cidade de São Paulo em 1821", de Palliére, primeiro registro em tela da cidade ("uma certidão").
Herkenhoff ressalta que a exposição não segue uma divisão estritamente cronológica, mas estabelece "diálogos" entre épocas diferentes. Assim, nessa mesma sala, uma alta torre de livros, de madeira, feita por Sandra Cinto (1968) para a mostra, aborda o tema sob a ótica do iluminismo: a luz como sinônimo de conhecimento.
Na sequência, a luz "moral" dá lugar a uma luminosidade "naturalista", conquistada pelos artistas que partem para a pintura ao ar livre. Herkenhoff destaca outro francês, Vinet (1817-76).
Uma mudança mais radical é marcada pelos italianos Eliseu Visconti (1866-1944) e Castagneto (1851-1900), representantes do impressionismo brasileiro.
O segundo, especialmente, ocupa a atenção de Herkenhoff. "Ele pinta sob um excesso de luz." O resultado são quadros alvos em que as cores das edificações e objetos apenas se intuem.
A reação do genovês Castagneto à luz tropical dá a pista para a principal diferença entre o impressionismo feito no Brasil e a matriz francesa: enquanto lá a luz é mais dissimulada, aqui os artistas se valem do alto-contraste.
Castagneto, para a curadora-assistente Valéria Piccoli, é o "ponto de inflexão" desse andar da mostra. A partir dele se articula a passagem para artistas do século 20, sempre em obras "brancas".
A fotografia encontra, nesse ponto, o seu espaço na mostra. O gênero, cuja matéria-prima é a luz, "tomaria o prédio inteiro", diz Herkenhoff. Então ele fez um recorte: as obras escolhidas têm uma linguagem metalinguística, ou seja, explicitam o processo fotográfico. Claudia Andujar, nascida em 1931, é um dos destaques.
A visita ao piso acima se abre com Anita Malfatti (1889-1964), Tarsila do Amaral (1886-1973) e Carlos Oswald (1882-1948), que traz ares de "novidade": a luz elétrica, ora em lâmpadas escondidas em lanternas chinesas, ora em faróis de carros, que a chuva reflete em ruas asfaltadas. Posto à sombra, um detalhe: os tílburis, então recém-ultrapassados pelo progresso -os automóveis.
Para Herkenhoff, a "grandeza máxima da luz que se transforma em cor", eixo do andar, está em Volpi (1896-1988). Já para definir Iberê Camargo (1914-94), e sua "qualidade extraordinária de arrancar iluminações da pintura espessa", o curador cita o poeta Ferreira Gullar, para quem a luz salta dos quadros do artista gaúcho como "gemas arrancadas do caos".
No piso mais alto, todas as obras têm a luz como "elemento construtivo", explica Valéria Piccoli. São peças de artistas como Abraham Palatnik (1928), Julio Plaza (1938) e Nelson Leirner (1932).
Um exemplo interativo estará à disposição nesse andar: numa mesa, o paulista Rubens Mano (1960) colocará várias máscaras translúcidas, que podem ser levadas pelo visitante. Olhando através delas, somente ficam visíveis sombras e borrões, lembrando a importância da luz.
O piso Leôncio, o mais baixo de todos, foi reservado para a questão da transparência, com ênfase em artistas do século 20, como o concretista Geraldo de Barros (1923-98). (FA)


TRAJETÓRIA DA LUZ NA ARTE BRASILEIRA - Obras de arte feitas no Brasil nos séc. 19 e 20. Curadoria: Paulo Herkenhoff e Valéria Piccoli (assistente). Onde: Instituto Cultural Itaú (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/238-1700; www.itaucultural.org.br). Quando: abertura hoje, às 12h, com performance de Michel Groisman, às 13h, para convidados; de ter. a sex., das 10h às 21h; sáb., dom. e feriados, das 10h às 19h; até 9/9. Quanto: grátis.




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