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ANÁLISE
"Cabocla" foge de fórmula "realista"
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
As novelas estão em alta novamente -talvez porque
andem experimentando formas
menos naturalistas de representar. Como bem comentou a colunista da Folha Bia Abramo há algumas semanas, "Celebridade" e
"Da Cor do Pecado" capricham
na vilania. O desejo extremo de
vingança leva às vias de fato. Lutas
corporais deixam hematomas na
pele, mas não tiram o fôlego de
personagens incansáveis na arte
de renovar chantagens.
Cenários e figurinos cariocas
contemporâneos dão um toque
de verossimilhança aos personagens caricaturais.
A nova novela das seis, "Cabocla", um remake de Benedito Ruy
Barbosa, que estreou anteontem,
também se afasta -mas de maneira diferente- da fórmula
"realista" que fez o sucesso do gênero a partir de fins dos anos 60.
Como outros trabalhos do autor, que agora supervisiona suas
filhas, responsáveis pela adaptação do original, a história é distanciada no tempo e no espaço.
"Cabocla" se passa em uma pequena cidade fictícia de coronéis
no início do século. A capital faz o
contraponto convencional, comparecendo em situações características da paisagem urbana, ou
ainda com rápidas inserções documentais em preto-e-branco. É
da capital que vêm formosas professoras, engajadas na dura tarefa
de civilizar.
Cenários e figurinos dão a tônica de fábula nostálgica à estrutura
dramática perfeitamente convencional. A marca autoral se mostra
no visual. A partir de "Pantanal"
as novelas de Benedito contribuíram para desmistificar versões limitantes do que seja a "linguagem
televisiva". Seqüências longas,
com planos gerais, enfatizam a
vastidão da paisagem rural. A
música regional marca o ritmo
pausado da narrativa previsível.
Envolvimento amoroso entre filhos de coronéis inimigos formados no ambiente arejado da cidade marca o conflito de geração.
Oposições de classe e gênero estão
garantidas no interesse não correspondido da "patroazinha" pelo peão do inimigo de seu pai, ou
na paixão anunciada entre o
"doutor coronelzinho" tísico e a
beldade rústica.
"Cabocla" sugere um veio cômico no qual Tony Ramos e Patrícia Pillar aparecem confortáveis.
De resto a produção cuidada e
adequada ao horário "cor-de-rosa" não promete surpresas.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
CABOCLA. Quando: de seg. a sáb., às
18h05, na Globo.
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