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CRÍTICA/"RETRATOS DE FAMÍLIA"
Longa recorre a lugar-comum para filmar esquisitos com bom coração
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O lado cosmopolita e modernizado dos EUA encontra a "América profunda" em
"Retratos de Família". A novidade é que os habitantes da segunda,
em geral mal-tratados pelo cinema, não saem ridicularizados em
comparação com os representantes do primeiro.
Aliás, se alguém aprende algo
no final dessa convivência forçada, é quem sai da metrópole para
mergulhar no interior do país.
Não é assim, contudo, que as
coisas se apresentam no início.
Quando Madeleine (Embeth Davidtz), filha de diplomatas e proprietária de uma galeria de arte
em Chicago, viaja até um vilarejo
na Carolina do Norte para conhecer a obra de um pintor e se hospeda na casa da família do marido
(Alessandro Nivola), o filme parece preocupado em discorrer sobre
o mundo de gente esquizóide.
Para começar, há o pintor, que
se chama David Wark, como o cineasta D.W. Griffith ("Nascimento de uma Nação"), e que, como o
xará, se dedica a temas da guerra
civil norte-americana.
A família do marido, por sua
vez, funciona de acordo com um
padrão difícil de compreender à
primeira vista. O sogro se mantém distante do que o cerca, se dedicando à marcenaria. A mãe,
controladora, talvez seja a explicação para seu comportamento.
A cunhada (Amy Adams)
-que recebeu uma indicação ao
Oscar de atriz coadjuvante e diversos prêmios pelo papel-,
uma tagarela compulsiva, está
grávida, o que ajuda a manter os
nervos da casa à flor da pele. O
marido de Madeleine parece desconfortável em rever a família, depois de três anos distante.
Interiorano que foi estudar cinema em Nova York, o diretor estreante Phil Robinson conduz a
trama com um crescente carinho
pelos personagens. Seu procedimento busca reproduzir, no espectador, a mesma sensação vivida por Madeleine diante deles.
Faz lá algum sentido: o público de
filmes independentes, como este,
é majoritariamente formado por
cidadãos de metrópoles.
Valores familiares e religiosos
são lentamente introduzidos no
cenário, dando início ao processo
de reversão de expectativas.
Robinson e seu roteirista, Angus MacLachlan, usam características narrativas do cinema independente. Há tempos mortos,
aparente desconexão entre situações, comportamentos bizarros,
ausência de música a pontuar os
momentos dramáticos para criar
um drama que, em sua carpintaria dramática, bebe na fonte da
tradição industrial.
"Retratos de Família" é independente pelas restritas condições de produção, e não porque
tenha a oferecer algo que a indústria não possa ou não queira fazer.
Seria razoável, ao menos, esperar
que fugisse dos lugares-comuns
aos quais recorre para arredondar
essa história edificante sobre gente esquisita que tem coração.
Retratos de Família
Junebug
Direção: Phil Morrison
Produção: EUA, 2005
Com: Amy Adams, Embeth Davidtz
Quando: a partir de hoje no HSBC Belas Artes
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