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MÚSICA
Michael Sullivan reedita sua "música do milhão"
Em CD e DVD, o compositor relê canções que foram megassucesso nos anos 80
Repertório dos álbuns foi lançado originalmente por, entre outros, Tim Maia, Gal Costa, Sandra de Sá, Fafá de Belém e Roberto Carlos
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase ninguém conhece a
voz do pernambucano Ivanilton de Souza Lima, 60. Mas
qualquer brasileiro acima de 25
anos sabe cantar, de cor, ao menos uma dezena das músicas
criadas por ele, sempre sob o
codinome Michael Sullivan.
Parcerias do compositor com
Paulo Massadas criadas nos
anos 80, canções como "Um
Dia de Domingo", "Me Dê Motivo" e outras tantas (veja quadro) alcançaram os primeiros
lugares nas paradas.
E levaram às alturas as vendas dos respectivos intérpretes,
vozes tão díspares quanto as de
Tim Maia e Xuxa, Gal Costa, Alcione e Roberto Carlos.
"Só não vou dizer que éramos
Lennon & McCartney porque
seria heresia", diz Sullivan. "O
mais adequado seria chamar a
dupla de Black & Decker."
Era isso mesmo: música produzida em escala industrial. Sullivan conta que compôs algumas em menos de meia hora.
"Os artistas cantavam a música da moda sem medo de serem felizes", diz. "Todo mundo
vendeu 1 milhão. É o clube do
milhão, a música do milhão."
Fagner, que lançou "Deslizes" em 1988, diz que, de cara,
achou a canção "inadequada"
ao repertório que estava acostumado a cantar. "Eu era puro
demais naquela época", diz.
Mas gravou a música, sem
compromisso de incluí-la no
disco. Quando voltou ao estúdio, no dia seguinte, se deparou
com o argumento irrefutável:
as faxineiras já sabiam cantar
de cor. "Não me achei no direito de não seguir com aquilo. E
ela, depois, abriu o leque do
meu repertório para canções
como "Borbulhas de Amor"."
Se essa comunicação imediata com as classes mais populares já gerava críticas ferrenhas
àquele repertório nos anos 80,
o cerco se fechou ainda mais a
partir da década seguinte.
Sandra de Sá e Fafá de Belém,
intérpretes constantes de Sullivan (mesmo depois do término
da parceria com Massadas, em
1994), sentiram o preconceito.
"Quando gravei "Abandonada", me chamaram de tudo.
Porque bateu na rádio e explodiu", diz Fafá. Sandra emenda:
"E isso rola até hoje. As músicas
dele que lancei só viraram bonitas pra galera depois que cantores "chiques" regravaram".
Sullivan diz ter saudades de
quando as rádios não eram segmentadas e podia-se ouvir, na
sequência, uma música dele e
uma de Chico Buarque.
"Essa segmentação só vai separar mais as pessoas", diz. "Vai
ficar impossível fazer de novo
uma história que abranja todas
as classes da sociedade, uma
música que a patroa ouça com a
empregada."
NA LINHA DO TEMPO
Artista: Michael Sullivan
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 24 (CD) e R$ 32 (DVD)
Ouça sucessos de Sullivan
www.folha.com.br/101311
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