São Paulo, segunda, 12 de maio de 1997.



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MÚSICA
A cantora norte-americana volta feminista em "Sisters of Avalon"; canção título é "um rito de passagem"
'Quero dar poder às mulheres', diz Lauper

Otávio Dias de Oliveira/Folha Imagem
A cantora norte-americana Cindy Lauper, que lançou "Sisters of Avalon", disco com temática feminista


da Reportagem Local

Cindy Lauper tem um gato preto. Sua parceira só usa roupas negras e colocou no filho o nome Merlin. Seu último disco, "Sisters of Avalon", foi gravado num bosque, "sob a energia das árvores". Mas ela jura que é tudo uma grande coincidência.
"Eu não pensei em Avalon, em rei Arthur, não sou inglesa (risos). Venho de New York, de uma família de italianos", afirmou à Folha, por telefone, de seu apartamento em Manhattan.
A cantora, que teve o auge na new wave dos anos 80 -vide o hit "Girls Just Want to Have Fun"- agora abre os shows de outra veterana, Tina Turner, nos EUA.
Feminista declarada, Lauper se alterna na convicção de que é herdeira das bruxas medievais, queimadas apenas por exercerem sua liderança, e na negação a todo custo de fazer música engajada. "Quero só que as pessoas ouçam meu disco", diz, enquanto tenta afastar Nick, o gato preto, de seu almoço. A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Qual a diferença de "Sister of Avalon" para seus outros trabalhos?
Cindy Lauper
- Esse é meu trabalho mais coeso. Eu compus com apenas mais uma pessoa da minha banda ou então sozinha, não soa como vários pedaços desconectados. O germe da idéia veio do trabalho em "Hat Full of Stars".
Folha - Você traz influências de várias partes do mundo para esse trabalho. Como o define?
Lauper
- Minha partner é uma tecladista e nós sempre usamos elementos eletrônicos, especialmente sons sintetizados. Mas como trabalhamos como um time, eu gosto de adicionar coisas acústicas, como violinos, a caixa de música do Tennessee, acordeão etc, porque, para mim, isso traz cor para o trabalho.
Folha - Você é uma feminista?
Lauper
Absolutamente. A única maneira de mudar as coisas, é mudá-las no seu próprio mundo. Direitos femininos são muito importantes para mim. Mas são anos e anos de preconceito.
Folha - Qual é a importância de colocar essas posições no seu trabalho?
Lauper
- O que eu realmente quero fazer é sobre as pessoas e a vida real que eu vejo. Quero escrever canções que dêem poder para mulheres, como "Sisters of Avalon". É uma canção que é um rito de passagem para as mulheres.
Folha - Como chegou a esse nome para o disco?
Lauper
- Jane tem um filho chamado Merlin, e ela se veste de preto o tempo todo, e o marido dela comprou esse livro "21 Rules of Merlin" e no livro havia as "Sisters of Avalon", mulheres que se vestem de preto e elas eram as curandeiras, líderes naturais. Ela estava me contando isso e Jane usa preto o tempo todo e nós começamos a rir e eu pensei: "Sisters of Avalon", esse é um grande nome. Meu agente também gostou.
Folha - Mas, pessoalmente, você é ligada nessa mitologia?
Lauper
- Nesse momento, eu estava lendo "The Mist of Avalon". Mas a canção não tem nada a ver com o livro.
Folha - Vocês gravaram num bosque, foi intencional?
Lauper
- Nós gravamos na floresta, a energia vinha daí, mas não foi intencional, foi no espírito da música.
Folha - Foi uma coincidência?
Lauper
- Mas eu gosto do bosque. Sim, foi uma coincidência. Sabe, essas mulheres eram, na idade média, quando a igreja católica na Inglaterra, eles queimaram muitas mulheres, como se elas fossem bruxas, mas essas mulheres, eram normalmente, as que tinham outra religião lá. Elas eram as líderes espirituais e the curandeiras.
Folha - Você se considera diretamente ligada a isso?
Lauper
- Sim, com certeza. Esse é o único período em que as mulheres tinham poder na sociedade. É uma sociedade onde homem e mulheres viviam juntos. E isso foi tirado de nós. Não nos conhecemos, não conhecemos nossa herança. Não sabemos quem somos. (PATRICIA DECIA)

Disco: Sisters of Avalon Artista: Cindy Lauper Lançamento: Sony Preço: R$ 18,00 (o CD, em média)


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