|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O RETORNO
Rapper agradece camelôs por vender CDs piratas
Racionais preparam disco novo, com distribuição pela Sony Music
TOM CARDOSO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Mais maduros e menos radicais,
mas mantendo ainda a mesma
verve que fez deles o maior grupo
do rap nacional, os Racionais
MCs estão preparando seu quinto
disco.
Desde o lançamento de "Sobrevivendo no Inferno" (1998), o
quarto CD da banda, Mano
Brown, Edi Rock, KL Jay e Ice
Blue -os Racionais MCs- só
têm motivos para comemorar.
O CD já vendeu mais de 1 milhão de discos, número alcançado
graças à pirataria (estima-se que
foram mais de 300 mil os CDs
vendidos ilegalmente) e ao carisma da banda. O sucesso dos Racionais MCs foi tanto que eles
acabaram conquistando desde os
"manos" da periferia até a burguesia paulistana.
Apesar de terem alcançado tamanho sucesso, o grupo continua
cultivando a fama de mau. Os Racionais se recusam a aparecer nas
duas principais emissoras de televisão do país; são avessos a entrevistas e querem distância das
grandes gravadoras.
Porém, para surpresa de todos
que acompanham o percurso do
grupo, os rappers assinaram recentemente uma parceria de distribuição com o selo Black Groove, que pertence à Sony Music,
mas fizeram questão de afirmar
que a multinacional não vai poder
"apitar nada nas gravações do
disco".
Em entrevista exclusiva à Folha,
Edi Rock conversou sobre os planos do grupo para o ano 2000.
Além de lançar um disco no fim
do ano, eles pretendem investir
na carreira internacional, cantando em português, sem se preocupar se serão compreendidos.
"Os americanos que se virem
para traduzir as nossas letras",
disse Edi, que também falou de
política, dos problemas na Febem
e aproveitou para agradecer os camelôs pelos discos piratas vendidos. "A gente está perdendo dinheiro, mas ao mesmo tempo garantimos o emprego de muito camelô da cidade."
Folha - Os Racionais MCs venderam cerca de 1 milhão de cópias do
disco "Sobrevivendo no Inferno".
Desse total, 300 mil foram vendidas ilegalmente. A banda se sente
lesada ou pretende entrar para alguma campanha contra a pirataria
de discos?
Edi Rock - É complicado tomar
uma decisão contra ou a favor. Eu
só sei que agradecemos aos camelôs pela divulgação do nosso trabalho. Perdemos dinheiro, mas
ao mesmo tempo garantimos o
emprego de muita gente na cidade. O camelô é hoje o espelho do
país do desemprego e da falta de
oportunidade.
Folha - Mesmo perdendo dinheiro com a pirataria, vocês venderam
mais de 700 mil discos nas lojas e
lotam todos os shows em que se
apresentam. Vocês ficaram ricos?
Edi Rock - De jeito nenhum. Estamos inadimplentes até hoje, o
prejuízo é muito grande. É claro
que melhorei de vida, mas nunca
vou ficar rico, pois tenho muita
gente para ajudar aqui na minha
região.
Folha - Há pouco tempo, o grupo
rejeitava a união com multinacionais na promoção de seus discos.
Como é ter a Sony Music como parceira na distribuição do próximo
CD?
Edi Rock - A gente só topou esse
acordo por causa do Primo Preto,
nosso mano, que trabalha no
Black Groove (selo da Sony Music
dedicado à música negra). Além
disso, não fomos nós que assinamos esse contrato, e sim o nosso
selo, a Cosa Nostra. A Sony só irá
melhorar a nossa distribuição,
não vai poder apitar em nada nas
gravações.
Folha - Vocês já fizeram vários
shows em unidades da Febem. Como estão vendo essas constantes
rebeliões? Você acha que um menino de 16 anos deve ir para a cadeia?
Edi Rock - Não. Sou a favor da recuperação desses menores. A miséria é a grande responsável por
essas rebeliões. O que um jovem
ou trabalhador pode fazer com R$
150 por mês? Não tendo saída,
acaba metendo os cano (sic) mesmo.
Folha - Você já tem candidato a
prefeito de São Paulo?
Edi Rock - Estou na dúvida entre
Marta (Suplicy) e (Luiza) Erundina. Sempre votei no PT. Os Racionais já fizeram muita campanha
para o PT, que é o único partido
que sempre deu apoio ao movimento hip hop.
Folha - Como estão os preparativos para o novo disco? Vocês pretendem seguir carreira internacional?
Edi Rock - Ainda é muito cedo
para falar do próximo trabalho.
Por enquanto, cada um está cuidando de seus projetos individuais. Vamos entrar em estúdio
em julho, e o disco vai sair no fim
do ano. A carreira internacional
não é uma prioridade, mas vamos
lançar nossos discos lá fora.
Folha - Vão cantar em inglês?
Edi Rock - Não. Os americanos
que se virem para entender as
nossas letras. A gente aqui não vive traduzindo as letras deles? Por
que eles não podem fazer o mesmo?
Texto Anterior: Videoclipe do grupo concorre a prêmio da MTV Próximo Texto: O contrato: Rap do Pavilhão 9 quer ganhar a classe média Índice
|