São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2000


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O RETORNO
Rapper agradece camelôs por vender CDs piratas
Racionais preparam disco novo, com distribuição pela Sony Music

TOM CARDOSO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mais maduros e menos radicais, mas mantendo ainda a mesma verve que fez deles o maior grupo do rap nacional, os Racionais MCs estão preparando seu quinto disco.
Desde o lançamento de "Sobrevivendo no Inferno" (1998), o quarto CD da banda, Mano Brown, Edi Rock, KL Jay e Ice Blue -os Racionais MCs- só têm motivos para comemorar.
O CD já vendeu mais de 1 milhão de discos, número alcançado graças à pirataria (estima-se que foram mais de 300 mil os CDs vendidos ilegalmente) e ao carisma da banda. O sucesso dos Racionais MCs foi tanto que eles acabaram conquistando desde os "manos" da periferia até a burguesia paulistana.
Apesar de terem alcançado tamanho sucesso, o grupo continua cultivando a fama de mau. Os Racionais se recusam a aparecer nas duas principais emissoras de televisão do país; são avessos a entrevistas e querem distância das grandes gravadoras.
Porém, para surpresa de todos que acompanham o percurso do grupo, os rappers assinaram recentemente uma parceria de distribuição com o selo Black Groove, que pertence à Sony Music, mas fizeram questão de afirmar que a multinacional não vai poder "apitar nada nas gravações do disco".
Em entrevista exclusiva à Folha, Edi Rock conversou sobre os planos do grupo para o ano 2000.
Além de lançar um disco no fim do ano, eles pretendem investir na carreira internacional, cantando em português, sem se preocupar se serão compreendidos.
"Os americanos que se virem para traduzir as nossas letras", disse Edi, que também falou de política, dos problemas na Febem e aproveitou para agradecer os camelôs pelos discos piratas vendidos. "A gente está perdendo dinheiro, mas ao mesmo tempo garantimos o emprego de muito camelô da cidade."

Folha - Os Racionais MCs venderam cerca de 1 milhão de cópias do disco "Sobrevivendo no Inferno". Desse total, 300 mil foram vendidas ilegalmente. A banda se sente lesada ou pretende entrar para alguma campanha contra a pirataria de discos?
Edi Rock -
É complicado tomar uma decisão contra ou a favor. Eu só sei que agradecemos aos camelôs pela divulgação do nosso trabalho. Perdemos dinheiro, mas ao mesmo tempo garantimos o emprego de muita gente na cidade. O camelô é hoje o espelho do país do desemprego e da falta de oportunidade.

Folha - Mesmo perdendo dinheiro com a pirataria, vocês venderam mais de 700 mil discos nas lojas e lotam todos os shows em que se apresentam. Vocês ficaram ricos?
Edi Rock -
De jeito nenhum. Estamos inadimplentes até hoje, o prejuízo é muito grande. É claro que melhorei de vida, mas nunca vou ficar rico, pois tenho muita gente para ajudar aqui na minha região.

Folha - Há pouco tempo, o grupo rejeitava a união com multinacionais na promoção de seus discos. Como é ter a Sony Music como parceira na distribuição do próximo CD?
Edi Rock -
A gente só topou esse acordo por causa do Primo Preto, nosso mano, que trabalha no Black Groove (selo da Sony Music dedicado à música negra). Além disso, não fomos nós que assinamos esse contrato, e sim o nosso selo, a Cosa Nostra. A Sony só irá melhorar a nossa distribuição, não vai poder apitar em nada nas gravações.

Folha - Vocês já fizeram vários shows em unidades da Febem. Como estão vendo essas constantes rebeliões? Você acha que um menino de 16 anos deve ir para a cadeia?
Edi Rock -
Não. Sou a favor da recuperação desses menores. A miséria é a grande responsável por essas rebeliões. O que um jovem ou trabalhador pode fazer com R$ 150 por mês? Não tendo saída, acaba metendo os cano (sic) mesmo.

Folha - Você já tem candidato a prefeito de São Paulo?
Edi Rock -
Estou na dúvida entre Marta (Suplicy) e (Luiza) Erundina. Sempre votei no PT. Os Racionais já fizeram muita campanha para o PT, que é o único partido que sempre deu apoio ao movimento hip hop.

Folha - Como estão os preparativos para o novo disco? Vocês pretendem seguir carreira internacional?
Edi Rock -
Ainda é muito cedo para falar do próximo trabalho. Por enquanto, cada um está cuidando de seus projetos individuais. Vamos entrar em estúdio em julho, e o disco vai sair no fim do ano. A carreira internacional não é uma prioridade, mas vamos lançar nossos discos lá fora.

Folha - Vão cantar em inglês?
Edi Rock -
Não. Os americanos que se virem para entender as nossas letras. A gente aqui não vive traduzindo as letras deles? Por que eles não podem fazer o mesmo?



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