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Técnica existe há mais de século
ESPECIAL PARA A FOLHA
De acordo com tese da professora Cristiana Parente, da Universidade Federal do Ceará, a técnica
do retrato pintado existe há mais
de um século.
Iniciou-se com o retoque ou o
restauro necessário às imagens.
Em 1842, nos Estados Unidos, Richard Beard patenteou um método para a pintura em daguerreótipos. Os fotógrafos montavam o
ateliê e contratavam artistas plásticos para pintar as fotografias.
Nessa época, utilizavam-se tons
pastéis e sóbrios. A burguesia
consumidora queria reproduzir a
postura da nobreza do século 18.
No estúdio de Beard, trabalhou
um cearense que trouxe a técnica
para o Brasil, chegando a produzir fotografias para a Casa Imperial no país.
As cores mais agressivas começaram a ser utilizadas com o desenvolvimento tecnológico. Ao
mesmo tempo, a burguesia abandonava essa técnica pela nova fotografia colorida que se desenvolvia. Os retratistas foram obrigados a se popularizarem, com trabalhos feitos para as populações
da periferia e do interior.
O retrato pintado existe no
mundo inteiro, mas é mais frequente no mundo católico, que
cultua muito mais a imagem que
os protestantes.
Hoje, é possível encontrar no
Village, em Nova York, uma loja
que presta esse tipo de serviço. Ou
também no "NY Nex" (páginas
amarelas da cidade), que traz
anúncios de coloração manual.
Mestre Julio
Porém é no fundo do quintal de
uma casa simples em Fortaleza
que se encontra um dos mais habilidosos retratistas do mundo, o
Mestre Julio.
Além da habilidade do retrato,
da proporção correta e do conhecimento de técnica fotográfica, ele
cria uma narrativa para o personagem. Segundo o fotógrafo José
Albano, "o seu Julio aprendeu a
ler a alma das pessoas".
Mestre Julio também realiza o
sonho das pessoas, mesmo que
seja apenas no retrato pintado.
Coloca vestido de noiva e paletó
em pessoas que nunca tiveram dinheiro para usar nada disso. Ou
ainda rejuvenesce o personagem
ou coloca brinco e colar de pérolas nas mulheres que só podem
realizar sonhos por meio do traço
do retratista.
Mão em cena
O traço de Julio dos Santos está
presente no filme de Joe Pimentel.
O diretor utiliza somente a mão
do artista em cena, mas é o suficiente para o espectador compreender a ingênua beleza desses
retratos e a importância documental na memória familiar das
classes populares no Brasil.
Mestre Julio abandonou o convento em Garanhuns (PE) aos 12
anos e começou a trabalhar por
necessidade há 44 anos, após a separação dos pais.
O pai cedeu um espaço para o
amigo Antenor Medeiros montar
um ateliê de pintura com laboratório fotográfico. Julio trabalhou
com Medeiros até 1970, montando depois seu próprio ateliê.
Diferentemente de quando começou, ele não circula mais de casa em casa para conseguir trabalho. Esse trabalho agora é dos
vendedores, que ficam com a
maior parte do lucro. A maioria
dos fregueses não sabe quem é o
autor dos retratos.
Mesmo assim, fez trabalhos que
o envaidecem, como o convite de
casamento de Regina Casé. É dele
também a galeria de retratos dos
prefeitos de Fortaleza.
Ele guarda alguns segredos de
sua técnica, mas basicamente são
reproduções em 3 x 4, feitos em
preto-e-branco e posteriormente
colorizados. Utiliza pincéis, pedaços de algodão ou o próprio dedo
para pintar com crayon, tinta látex e tinta a óleo com gasolina.
Questionado sobre a possibilidade de o mundo informatizado
fazer seu trabalho desaparecer, ele
responde: "O que o computador
faz hoje, eu crio amanhã".
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