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Sexo e pop moldam
o corpo de Aninha
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao longo de seus recém-completados 50 anos, milhares de
"coelhinhas" já tiraram as roupas
na revista "Playboy". Nenhuma
foi tão cobiçada quanto Aninha.
"Despida" pela primeira vez em
1962, pelos quadrinistas Harvey
Kurtzman, criador da revista
"Mad", e Will Elder, a estrela da
série "Little Annie Fanny" vai finalmente mostrar todos os seus
ângulos para os brasileiros em
uma série de quatro volumes que
começa a ser publicada nesta segunda-feira pela editora Abril.
Os outros números, todos em
cores e formato de revista, saem
no segundo semestre de 2004 e no
primeiro semestre de 2005.
Com participação especial de
artistas como Frank Frazetta,
Larry Siegel e Al Jaffee, a primeira
edição de "Aninha, Bonita e Gostosa" reúne as 22 histórias iniciais
da personagem, que encantou os
leitores americanos até 1988 com
seu misto de ingenuidade, cultura
pop e, claro, muita sacanagem.
"[O criador da "Playboy", Hugh]
Hefner nos pediu uma personagem que fosse baseada na "Aninha, a Pequena Órfã", sua tira favorita quando criança. Mas o
tempo a transformou nesse requintado pedaço de mau caminho, uma Marilyn Monroe encarnada!", lembrou por e-mail à Folha Elder, hoje com 82 anos.
Adicione a isso as qualidades estéticas de Brigitte Bardot e Jayne
Mansfield e pronto. "Ela tinha um
par de grandes e belos... olhos...
Era encantadora e confiava em todo o mundo -apesar do desejo
que tinham em tirar-lhe a roupa."
Entre os "desejosos" dessa primeira edição, há um rol de famosos que inclui Federico Fellini,
Marcello Mastroianni, Marlon
Brando, John F. Kennedy, Fidel
Castro e uma dezena de outras
personalidades do passado às
quais precisaríamos acrescentar
uma outra dezena de notas explicativas -sim, a revista as traz.
Cria da liberação sexual da década de 60, a HQ pegou no pé
também das feministas. "Retratamos o movimento em algumas
histórias, mas fazíamos isso com
todos os aspectos da vida cultural
e social da época e não tivemos
muitos problemas", contou Elder.
O único deles era o pulso firme
do editor da "Playboy". "Não
houve censura, mas Hefner
tinha de aprovar as histórias. A palavra final sempre foi dele."
Foi por esse motivo
que, apesar de velhos conhecidos -Hefner viu o
trabalho de Kurtzman ainda
em 1954, ano em que "Mad" e
"Playboy" tiveram lançamento
quase simultâneo-, os dois só
foram trabalhar juntos efetivamente no início dos anos 60.
"Harv, não acredito que o problema que enfrentamos seja realmente uma deficiência sua em relação à "Playboy". (...) O único
problema real com o trabalho que
você nos apresentou é que ele não
é engraçado", escreveu numa carta que o editor da revista trocara
com o criador de Aninha.
O que Hefner queria era "um
personagem que pudesse ser tolo
e ao mesmo tempo sábio. Ingênuo, mas ético. Ele inocentemente pactua com o mal ao mesmo
tempo em que adere ao bem". E, o
mais importante, que a história
usasse a sátira para falar com o leitor "sofisticado" da então jovem e
promissora publicação.
Morto em 1993, Kurtzman foi
ainda editor da revista "Help!",
que lançou nomes do "underground comix" americano como
Robert Crumb e Gilbert Shelton.
Por fim, passado tanto tempo, a
Folha perguntou a Elder como seria Aninha hoje. "É difícil dizer.
Houve uma total perda de inocência na sociedade, mas a chave
dela sempre foi o seu eterno otimismo de Cândido." Que ninguém venha dizer então que Aninha é só feita de sexo...
(DA)
ANINHA, BONITA E GOSTOSA - VOL. 1
(1962-1965). Autores: Harvey Kurtzman
e Will Elder. Lançamento: Abril. Quanto:
R$ 19,95 (116 págs., cor).
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