São Paulo, sábado, 12 de junho de 2004

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Sexo e pop moldam o corpo de Aninha

DA REPORTAGEM LOCAL

Ao longo de seus recém-completados 50 anos, milhares de "coelhinhas" já tiraram as roupas na revista "Playboy". Nenhuma foi tão cobiçada quanto Aninha.
"Despida" pela primeira vez em 1962, pelos quadrinistas Harvey Kurtzman, criador da revista "Mad", e Will Elder, a estrela da série "Little Annie Fanny" vai finalmente mostrar todos os seus ângulos para os brasileiros em uma série de quatro volumes que começa a ser publicada nesta segunda-feira pela editora Abril.
Os outros números, todos em cores e formato de revista, saem no segundo semestre de 2004 e no primeiro semestre de 2005.
Com participação especial de artistas como Frank Frazetta, Larry Siegel e Al Jaffee, a primeira edição de "Aninha, Bonita e Gostosa" reúne as 22 histórias iniciais da personagem, que encantou os leitores americanos até 1988 com seu misto de ingenuidade, cultura pop e, claro, muita sacanagem.
"[O criador da "Playboy", Hugh] Hefner nos pediu uma personagem que fosse baseada na "Aninha, a Pequena Órfã", sua tira favorita quando criança. Mas o tempo a transformou nesse requintado pedaço de mau caminho, uma Marilyn Monroe encarnada!", lembrou por e-mail à Folha Elder, hoje com 82 anos.
Adicione a isso as qualidades estéticas de Brigitte Bardot e Jayne Mansfield e pronto. "Ela tinha um par de grandes e belos... olhos... Era encantadora e confiava em todo o mundo -apesar do desejo que tinham em tirar-lhe a roupa."
Entre os "desejosos" dessa primeira edição, há um rol de famosos que inclui Federico Fellini, Marcello Mastroianni, Marlon Brando, John F. Kennedy, Fidel Castro e uma dezena de outras personalidades do passado às quais precisaríamos acrescentar uma outra dezena de notas explicativas -sim, a revista as traz.
Cria da liberação sexual da década de 60, a HQ pegou no pé também das feministas. "Retratamos o movimento em algumas histórias, mas fazíamos isso com todos os aspectos da vida cultural e social da época e não tivemos muitos problemas", contou Elder.
O único deles era o pulso firme do editor da "Playboy". "Não houve censura, mas Hefner tinha de aprovar as histórias. A palavra final sempre foi dele."
Foi por esse motivo que, apesar de velhos conhecidos -Hefner viu o trabalho de Kurtzman ainda em 1954, ano em que "Mad" e "Playboy" tiveram lançamento quase simultâneo-, os dois só foram trabalhar juntos efetivamente no início dos anos 60.
"Harv, não acredito que o problema que enfrentamos seja realmente uma deficiência sua em relação à "Playboy". (...) O único problema real com o trabalho que você nos apresentou é que ele não é engraçado", escreveu numa carta que o editor da revista trocara com o criador de Aninha.
O que Hefner queria era "um personagem que pudesse ser tolo e ao mesmo tempo sábio. Ingênuo, mas ético. Ele inocentemente pactua com o mal ao mesmo tempo em que adere ao bem". E, o mais importante, que a história usasse a sátira para falar com o leitor "sofisticado" da então jovem e promissora publicação.
Morto em 1993, Kurtzman foi ainda editor da revista "Help!", que lançou nomes do "underground comix" americano como Robert Crumb e Gilbert Shelton.
Por fim, passado tanto tempo, a Folha perguntou a Elder como seria Aninha hoje. "É difícil dizer. Houve uma total perda de inocência na sociedade, mas a chave dela sempre foi o seu eterno otimismo de Cândido." Que ninguém venha dizer então que Aninha é só feita de sexo... (DA)


ANINHA, BONITA E GOSTOSA - VOL. 1 (1962-1965). Autores: Harvey Kurtzman e Will Elder. Lançamento: Abril. Quanto: R$ 19,95 (116 págs., cor).


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