São Paulo, domingo, 12 de junho de 2005

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"OS SONHADORES"

Maio de 68 volta em clima de "remake"

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

H á uma utopia em "Os Sonhadores" que extrapola o mito do Maio de 68 -na ótica norte-americana- mais evidente agora, ocasião do lançamento do DVD no Brasil.
Dentro dos conceitos e da simbologia do cinema, outro mito que sustenta o filme, Bernardo Bertolucci mergulha numa ampla lógica do "remake", apesar de a história do estudante americano e dos gêmeos franceses que se entregam a jogos eróticos em um apartamento não ser uma refilmagem propriamente dita.
Além de obra saudosista e homenagem a um período histórico, "Os Sonhadores" representa a incapacidade de refazer a vida pregressa, as pontes falhas entre o passado e o presente, as falibilidade da memória e de um "remake" (este que é uma versão de algo já feito, portanto sempre sujeito a comparações ideológicas).
Nos extras, a utopia fica clara. Se o filme tenta não sobrepor as questões políticas à história, o material do DVD vai em sentido oposto. No principal deles, um making of de 52 minutos produzido pela BBC, Bertolucci diz que tentou, de alguma forma, unir 1968 aos dias atuais. Explica, dessa forma, por que convocou os atores Jean-Pierre Kalfon e Jean-Pierre Léaud a interpretarem a si mesmos na seqüência de protesto em frente à Cinemateca Francesa -repetem o ato de ler um manifesto assinado por Jean-Luc Godard na ocasião da demissão do fundador, Henri Langlois.
Já o documentário de 14 minutos, "Out of Window: Events in France, May 1968", analisa exclusivamente o cenário político do período; nele, o roteirista Gilbert Adair, que, assim como Bertolucci, mantém laços autobiográficos com o longa, faz um esforço de memória e relembra o cheiro que exalava nas ruas francesas após os protestos: resíduos de gás lacrimogêneo misturado ao lixo.
O embate entre fantasia e realidade, que já perpassa as referências cinéfilas do filme, vem ainda em questões mais exteriores. Louis Garrel (Theo), por exemplo, diz que sonhava em atirar um coquetel molotov; quando a idéia é aceita e realmente entra no roteiro, arrepende-se da sugestão. Ou, ainda, o último extra, que explicita a lógica do "remake": videoclipe do cover de "Hey Joe" (Jimi Hendrix) executada pelo ator Michael Pitt e a banda Twins of Evil -uma fagulha de sexo, drogas e rock'n'roll em meio ao sonho de política, cinema e sexo.


Os Sonhadores
   
Direção: Bernardo Bertolucci
Distribuidora: Fox; R$ 35, em média


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