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"OS SONHADORES"
Maio de 68 volta em clima de "remake"
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
H á uma utopia em "Os Sonhadores" que extrapola o
mito do Maio de 68 -na ótica
norte-americana- mais evidente
agora, ocasião do lançamento do
DVD no Brasil.
Dentro dos conceitos e da simbologia do cinema, outro mito
que sustenta o filme, Bernardo
Bertolucci mergulha numa ampla
lógica do "remake", apesar de a
história do estudante americano e
dos gêmeos franceses que se entregam a jogos eróticos em um
apartamento não ser uma refilmagem propriamente dita.
Além de obra saudosista e homenagem a um período histórico,
"Os Sonhadores" representa a incapacidade de refazer a vida pregressa, as pontes falhas entre o
passado e o presente, as falibilidade da memória e de um "remake"
(este que é uma versão de algo já
feito, portanto sempre sujeito a
comparações ideológicas).
Nos extras, a utopia fica clara. Se
o filme tenta não sobrepor as
questões políticas à história, o
material do DVD vai em sentido
oposto. No principal deles, um
making of de 52 minutos produzido pela BBC, Bertolucci diz que
tentou, de alguma forma, unir
1968 aos dias atuais. Explica, dessa forma, por que convocou os
atores Jean-Pierre Kalfon e Jean-Pierre Léaud a interpretarem a si
mesmos na seqüência de protesto
em frente à Cinemateca Francesa
-repetem o ato de ler um manifesto assinado por Jean-Luc Godard na ocasião da demissão do
fundador, Henri Langlois.
Já o documentário de 14 minutos, "Out of Window: Events in
France, May 1968", analisa exclusivamente o cenário político do
período; nele, o roteirista Gilbert
Adair, que, assim como Bertolucci, mantém laços autobiográficos
com o longa, faz um esforço de
memória e relembra o cheiro que
exalava nas ruas francesas após os
protestos: resíduos de gás lacrimogêneo misturado ao lixo.
O embate entre fantasia e realidade, que já perpassa as referências cinéfilas do filme, vem ainda
em questões mais exteriores.
Louis Garrel (Theo), por exemplo, diz que sonhava em atirar um
coquetel molotov; quando a idéia
é aceita e realmente entra no roteiro, arrepende-se da sugestão.
Ou, ainda, o último extra, que explicita a lógica do "remake": videoclipe do cover de "Hey Joe"
(Jimi Hendrix) executada pelo
ator Michael Pitt e a banda Twins
of Evil -uma fagulha de sexo,
drogas e rock'n'roll em meio ao
sonho de política, cinema e sexo.
Os Sonhadores
Direção: Bernardo Bertolucci
Distribuidora: Fox; R$ 35, em média
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