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Comida
Comer, comer
Com melhores cardápios, motéis podem poupar casais das filas dos restaurantes no Dia dos Namorados
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Só há uma coisa pior do que
ficar faminto na fila do restaurante no Dia dos Namorados:
ficar faminto na fila do motel
no Dia dos Namorados. (Não
necessariamente nesta ordem.)
Hoje o dia promete ser infernal
para centenas de casais que padecerão em duas longas filas.
E se ambas se transformassem numa só? Não sabemos de
restaurantes (senão os de hotel) que ofereçam suítes aos
pombinhos para algo que poderíamos chamar, com certa licença médica (na falta da poética), de coito pós-prandial. Em
compensação, motéis servem
refeições.
Fato esse que pode acender a
esperança em muitos corações
e corpos de que a comilança
desta noite possa ser conseguida com uma única fila. E com
bons resultados, dado que, de
uns anos para cá, alguns motéis
buscaram o reforço de profissionais de gastronomia.
A reportagem não teve tempo -nem vigor físico, a bem da
verdade- de testar uma gigantesca gama de motéis. Mas a visita a alguns deles pode dar
uma pálida luz de esperança ao
atormentado leitor.
Discrição
Uma visita ao Lumini Motel
(todas as visitas foram para os
quartos mais simples) mostra
como alguns cuidados, movidos por uma mentalidade hoteleira, começam a ser tomados
nestes locais. Para começar, o
quarto, que é clean e discreto,
tem um frigobar, com um kit
básico -águas, refrigerantes,
até vinho espumante. Ou seja:
se bater uma sede a qualquer
momento, não é preciso esperar pelo serviço de quarto. Depois, bela surpresa: o quarto já
tem uma mesa montada para
dois, com copos e pequenas taças, além de toalha e guardanapos de pano -um luxo.
O menu tem um toque profissional -a assessoria da ótima consultora Ana Soares, que,
além de idéias de pratos, fornece as massas da sua Mesa III
(por exemplo, cappellette de vitela e amêndoas com molho de
shiitake). São várias opções, em
geral convencionais, mas bem
executadas, como um salmão
com legumes grelhados ou um
bife ancho com molho de alho e
óleo mais arroz biro-biro e farofa. Para beber, cerca de 30 vinhos, a maioria deles importados e
de boa procedência, servidos
em taças apropriadas.
Outra boa pedida foi o Acaso
Motel. Quartos também com
decoração discreta, despojada,
munidos do necessário frigobar. Cardápio com pratos na
maioria previsíveis, mas com
uma seção especialmente interessante, os "Especiais Acaso",
onde estão as recomendações
do chef que criou os pratos,
Tony Farah, que vem de um
histórico com experiência na
área hoteleira (no hotel Sheraton do Rio) e ainda no bar Pirajá, de São Paulo.
Nessa ala do cardápio, há
pratos bem executados e saborosos, como o salmão no vapor
com pimenta-rosa e purê de
mandioquinha e o carré de cordeiro com mostarda de Dijon
ao pesto com hortelã e cuscuz
marroquino. Para acompanhar, cerca de 40 vinhos escolhidos na lista da Enoteca Fasano e servidos em belas taças.
Sem fôlego
Quem deixou a desejar foi o
Studio A, que estreou nesta semana um novo serviço de cozinha e vinhos, mas, em seus primeiros dias, ainda não mostrou
resultados.
À parte o problema dos quartos escuros, negros, que não favorecem a fruição da comida ou
do vinho, os pratos criados pela
chef Renata Buosi pecam no
acabamento (o robalo ao curry
e avelãs cheio de espinhas, o filé
ao champagne seco de tão passado); e os vinhos, escolhidos
pela sommelière Gabriela
Monteleone, são bons mas
poucos -e servidos em tacinhas pequenas.
Fora o desconforto de um saca-rolha primitivo que requer
preparo físico -numa ocasião
em que o fôlego costuma já estar curto.
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