São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2008

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Comida

Comer, comer

Com melhores cardápios, motéis podem poupar casais das filas dos restaurantes no Dia dos Namorados

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Só há uma coisa pior do que ficar faminto na fila do restaurante no Dia dos Namorados: ficar faminto na fila do motel no Dia dos Namorados. (Não necessariamente nesta ordem.) Hoje o dia promete ser infernal para centenas de casais que padecerão em duas longas filas.
E se ambas se transformassem numa só? Não sabemos de restaurantes (senão os de hotel) que ofereçam suítes aos pombinhos para algo que poderíamos chamar, com certa licença médica (na falta da poética), de coito pós-prandial. Em compensação, motéis servem refeições.
Fato esse que pode acender a esperança em muitos corações e corpos de que a comilança desta noite possa ser conseguida com uma única fila. E com bons resultados, dado que, de uns anos para cá, alguns motéis buscaram o reforço de profissionais de gastronomia.
A reportagem não teve tempo -nem vigor físico, a bem da verdade- de testar uma gigantesca gama de motéis. Mas a visita a alguns deles pode dar uma pálida luz de esperança ao atormentado leitor.

Discrição
Uma visita ao Lumini Motel (todas as visitas foram para os quartos mais simples) mostra como alguns cuidados, movidos por uma mentalidade hoteleira, começam a ser tomados nestes locais. Para começar, o quarto, que é clean e discreto, tem um frigobar, com um kit básico -águas, refrigerantes, até vinho espumante. Ou seja: se bater uma sede a qualquer momento, não é preciso esperar pelo serviço de quarto. Depois, bela surpresa: o quarto já tem uma mesa montada para dois, com copos e pequenas taças, além de toalha e guardanapos de pano -um luxo.
O menu tem um toque profissional -a assessoria da ótima consultora Ana Soares, que, além de idéias de pratos, fornece as massas da sua Mesa III (por exemplo, cappellette de vitela e amêndoas com molho de shiitake). São várias opções, em geral convencionais, mas bem executadas, como um salmão com legumes grelhados ou um bife ancho com molho de alho e óleo mais arroz biro-biro e farofa. Para beber, cerca de 30 vinhos, a maioria deles importados e de boa procedência, servidos em taças apropriadas.
Outra boa pedida foi o Acaso Motel. Quartos também com decoração discreta, despojada, munidos do necessário frigobar. Cardápio com pratos na maioria previsíveis, mas com uma seção especialmente interessante, os "Especiais Acaso", onde estão as recomendações do chef que criou os pratos, Tony Farah, que vem de um histórico com experiência na área hoteleira (no hotel Sheraton do Rio) e ainda no bar Pirajá, de São Paulo.
Nessa ala do cardápio, há pratos bem executados e saborosos, como o salmão no vapor com pimenta-rosa e purê de mandioquinha e o carré de cordeiro com mostarda de Dijon ao pesto com hortelã e cuscuz marroquino. Para acompanhar, cerca de 40 vinhos escolhidos na lista da Enoteca Fasano e servidos em belas taças.

Sem fôlego
Quem deixou a desejar foi o Studio A, que estreou nesta semana um novo serviço de cozinha e vinhos, mas, em seus primeiros dias, ainda não mostrou resultados.
À parte o problema dos quartos escuros, negros, que não favorecem a fruição da comida ou do vinho, os pratos criados pela chef Renata Buosi pecam no acabamento (o robalo ao curry e avelãs cheio de espinhas, o filé ao champagne seco de tão passado); e os vinhos, escolhidos pela sommelière Gabriela Monteleone, são bons mas poucos -e servidos em tacinhas pequenas.
Fora o desconforto de um saca-rolha primitivo que requer preparo físico -numa ocasião em que o fôlego costuma já estar curto.


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