São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2000


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CINEMA
Francês Rousselot, premiado em Berlim, está em SP
Cineasta homenageia ofício do estagiário de direção em "Lepetit"

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

No início da carreira, oito anos atrás, Jean Rousselot trabalhou como estagiário em dois filmes ("Super Mario Bros.", entre eles). Foi o suficiente para dimensionar o ofício do faz-tudo no set de filmagem.
Em "Homenagem a Alfred Lepetit", curta-metragem vencedor do Urso de Ouro da categoria no Festival de Berlim 2000, o diretor francês evoca um sujeito que, hipoteticamente, estagiou em mais de 200 filmes e, aos 70 e poucos anos, não abdica da função e tampouco aceita um assistente.
Mas quem é ou foi Lepetit? O diretor dissimula. "Ficção ou realidade, não importa. O espectador simpatiza com a história desse homem, que foi indicado para um prêmio e não se sabe se irá comparecer à cerimônia", explica Rousselot, 28, em curta passagem por São Paulo para a abertura, na última segunda-feira, da Mostra Eurochannel de Cinema - Curtas e Longas-Metragens, que prossegue até domingo (veja ao lado).
"O estagiário é geralmente o primeiro a chegar ao local de gravação e o último a sair. Ele vai desde servir o melhor cafezinho até suportar os queixumes do diretor e dos atores protagonistas", diz Rousselot.
"Lepetit", que terá mais uma exibição no domingo, mescla depoimentos de personalidades, como o cineasta polonês Roman Polanski e os atores franceses Charlotte Rampling e Jean-Claude Brialy. As declarações se fundem com imagens em preto-e-branco, que reconstituem a memória do homenageado e diluem o que é realidade ou ficção nos nove minutos de história.
Numa das passagens, por exemplo, Polanski afirma que chegou a cancelar um dos seus projetos não pela desistência de John Travolta, como se propagou, mas por causa da impossibilidade de contar com Lepetit na equipe.
É o segundo curta-metragem de Rousselot. O primeiro foi "Amnésie" (Amnésia, 1996). O terceiro, "L'Homme-Boite" (O Homem-Caixa), digital, foi rodado este ano no Japão, mas falta finalizá-lo.
Segundo o diretor, a produção atual de curtas-metragens vive um bom momento na França. Ele calcula que são lançados em média 500 filmes por ano, a maioria com recursos institucionais. Há espaço também para a produção independente.
Rousselot consola-se com a perspectiva de que "curta-metragem não dá dinheiro", mas fica indignado com as condições de distribuição e exibição, tanto no circuito quanto na televisão.
"Os horários destinados à exibição na TV são vergonhosos, geralmente à 1h, concorrendo com filmes pornôs. Nos cinemas, a pressão é para que os curtas sejam cada vez mais curtos, com três a quatro minutos, para garantir a apresentação", explica.
Com a premiação em Berlim, Rousselot ambiciona agora dirigir o seu primeiro longa. O roteiro da comédia "Je Suis Différent" (Eu Sou Diferente) está sendo escrito a quadro mãos com Stephine Massard.



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