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CINEMA
Francês Rousselot, premiado em Berlim, está em SP
Cineasta homenageia ofício do estagiário de direção em "Lepetit"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
No início da carreira, oito anos
atrás, Jean Rousselot trabalhou
como estagiário em dois filmes
("Super Mario Bros.", entre eles).
Foi o suficiente para dimensionar
o ofício do faz-tudo no set de filmagem.
Em "Homenagem a Alfred Lepetit", curta-metragem vencedor
do Urso de Ouro da categoria no
Festival de Berlim 2000, o diretor
francês evoca um sujeito que, hipoteticamente, estagiou em mais
de 200 filmes e, aos 70 e poucos
anos, não abdica da função e tampouco aceita um assistente.
Mas quem é ou foi Lepetit? O diretor dissimula. "Ficção ou realidade, não importa. O espectador
simpatiza com a história desse
homem, que foi indicado para um
prêmio e não se sabe se irá comparecer à cerimônia", explica
Rousselot, 28, em curta passagem
por São Paulo para a abertura, na
última segunda-feira, da Mostra
Eurochannel de Cinema - Curtas
e Longas-Metragens, que prossegue até domingo (veja ao lado).
"O estagiário é geralmente o
primeiro a chegar ao local de gravação e o último a sair. Ele vai desde servir o melhor cafezinho até
suportar os queixumes do diretor
e dos atores protagonistas", diz
Rousselot.
"Lepetit", que terá mais uma
exibição no domingo, mescla depoimentos de personalidades, como o cineasta polonês Roman
Polanski e os atores franceses
Charlotte Rampling e Jean-Claude Brialy. As declarações se fundem com imagens em preto-e-branco, que reconstituem a memória do homenageado e diluem
o que é realidade ou ficção nos
nove minutos de história.
Numa das passagens, por exemplo, Polanski afirma que chegou a
cancelar um dos seus projetos
não pela desistência de John Travolta, como se propagou, mas por
causa da impossibilidade de contar com Lepetit na equipe.
É o segundo curta-metragem de
Rousselot. O primeiro foi "Amnésie" (Amnésia, 1996). O terceiro,
"L'Homme-Boite" (O Homem-Caixa), digital, foi rodado este ano
no Japão, mas falta finalizá-lo.
Segundo o diretor, a produção
atual de curtas-metragens vive
um bom momento na França. Ele
calcula que são lançados em média 500 filmes por ano, a maioria
com recursos institucionais. Há
espaço também para a produção
independente.
Rousselot consola-se com a
perspectiva de que "curta-metragem não dá dinheiro", mas fica
indignado com as condições de
distribuição e exibição, tanto no
circuito quanto na televisão.
"Os horários destinados à exibição na TV são vergonhosos, geralmente à 1h, concorrendo com
filmes pornôs. Nos cinemas, a
pressão é para que os curtas sejam
cada vez mais curtos, com três a
quatro minutos, para garantir a
apresentação", explica.
Com a premiação em Berlim,
Rousselot ambiciona agora dirigir o seu primeiro longa. O roteiro
da comédia "Je Suis Différent"
(Eu Sou Diferente) está sendo escrito a quadro mãos com Stephine Massard.
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