São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2000


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Jota Quest adere a ecologia, paz, amor e rock'n'roll em "Oxigênio"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Oxigênio", terceiro álbum da banda mineira Jota Quest, vem à tona sustentado num quadrilátero de palavras de ordem: ecologia, pacifismo, amor e rock'n'roll.
É a equação encontrada pelo quinteto para reagir ao que se costuma chamar de trajetória comercial meteórica. Pois entre o primeiro CD, "J. Quest" (de 96, 100 mil cópias vendidas), todo baseado em soul e funk, e o de agora, bem roqueiro, tudo mudou.
A bordo do hit "Fácil" (de "De Volta ao Planeta...", de 98, 800 mil cópias), a banda foi alavancada à posição de líder do segmento pop-rock, a ponto de sua "grife" terminar impressa em latinhas de Fanta, em ambiciosa estratégia conjunta de marketing.
Se o plano levou à conquista de fartas parcelas de público, conduziu a críticas a "Fácil" ("fácil, extremamente fácil/ pra você e eu e todo mundo cantar junto"), para uns uma canção direta no alvo, para outros perverso (e fácil) atalho à fórmula do sucesso.
O que pensam os rapazes que começaram com enormes e estilizadas perucas black e chegam a 2000 cheios de músculos e/ou (é o caso do vocalista Rogério Flausino, 27) de cabelos tingidos de roxo, tal qual uma... Fanta Uva?
Sobre a capa de "Oxigênio", ilustrada por um homem em chamas. "É como se fosse a vingança da floresta, o homem é que pega fogo", diz Flausino. "Não, acho que é mais o piquenique na floresta", rebate o guitarrista Marco Túlio Lara, 26. "O CD tem essa temática do ambiente, que é coerente com a capa", termina o tecladista Márcio Buzelin, 29.
Sobre a constituição de "Oxigênio". Flausino: "Ele é inteiro positivo, o mais Jota Quest de nossos discos". Buzelin: "A gente só acrescentou elementos à influência black. Ficaram mais presentes o rock e a eletrônica".
Sobre a abundância de letras de amor no CD. Flausino: "Será que o sucesso não nos torna pessoas mais sensíveis, a fim de encontrar a pessoa que nos complete? Às vezes penso que é isso". Buzelin: "Não falamos de amor para fazer sucesso. Amor é uma coisa que todo mundo sente, que não restringe público". Lara: "Ser popular e ter uma linguagem acessível à maioria das pessoas não é fácil. É difícil conseguir ser simples". Flausino: "Falar de amor com poesia e delicadeza, sem precisar falar de cheiro de lençol, é difícil".
Por falar em difícil, e sobre o hit "Fácil"? Lara: "Uma preocupação que tivemos foi de não fazer um "Fácil" 2. Não existe a fórmula do sucesso, mas a fórmula de não fazer sucesso é a mentira, é fazer algo em que não se acredita".
Sobre o tom politicamente correto de algumas letras. Flausino: "Você tem de ser correto, não incorreto. Vou falar de liberação de maconha? Pelo amor de Deus".
Sobre se a correção política não contrasta com a fúria mercadológica do contrato com a Fanta. Flausino: "Um coisa não tem nada a ver com a outra, a aliança não denigre nada". Lara: "Só viabiliza possibilidades que não tínhamos antes, infra-estrutura de shows".
O baixista PJ, 27, brande sua foto no encarte do CD, em que veste uma camisa estampada por Sid Vicious, dos Sex Pistols, com uma Fanta na mão. Buzelin arremata: "A rebeldia do rock pode estar aí. Dane-se se fazemos propaganda da Fanta. Isso é rebelde". Flausino: "A letra do jingle fala de futuro, de amor. Usamos para mandar mensagens positivas".
Criticariam então a pose politicamente incorreta do Planet Hemp? Flausino: "O som é muito bom, mas a mensagem, não. Eles são bons falando da sacanagem dos políticos, mas não dá para ficar pedindo a liberação da maconha". Ah, os Jota não estranham que tanto eles quanto os Hemp se abriguem sob o mesmo selo, Sony. "Não dá para cobrar ideologia de gravadora", finca Lara.

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