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Jota Quest adere a ecologia, paz,
amor e rock'n'roll em "Oxigênio"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Oxigênio", terceiro álbum da
banda mineira Jota Quest, vem à
tona sustentado num quadrilátero de palavras de ordem: ecologia,
pacifismo, amor e rock'n'roll.
É a equação encontrada pelo
quinteto para reagir ao que se costuma chamar de trajetória comercial meteórica. Pois entre o primeiro CD, "J. Quest" (de 96, 100
mil cópias vendidas), todo baseado em soul e funk, e o de agora,
bem roqueiro, tudo mudou.
A bordo do hit "Fácil" (de "De
Volta ao Planeta...", de 98, 800 mil
cópias), a banda foi alavancada à
posição de líder do segmento
pop-rock, a ponto de sua "grife"
terminar impressa em latinhas de
Fanta, em ambiciosa estratégia
conjunta de marketing.
Se o plano levou à conquista de
fartas parcelas de público, conduziu a críticas a "Fácil" ("fácil, extremamente fácil/ pra você e eu e
todo mundo cantar junto"), para
uns uma canção direta no alvo,
para outros perverso (e fácil) atalho à fórmula do sucesso.
O que pensam os rapazes que
começaram com enormes e estilizadas perucas black e chegam a
2000 cheios de músculos e/ou (é o
caso do vocalista Rogério Flausino, 27) de cabelos tingidos de roxo, tal qual uma... Fanta Uva?
Sobre a capa de "Oxigênio",
ilustrada por um homem em chamas. "É como se fosse a vingança
da floresta, o homem é que pega
fogo", diz Flausino. "Não, acho
que é mais o piquenique na floresta", rebate o guitarrista Marco Túlio Lara, 26. "O CD tem essa temática do ambiente, que é coerente
com a capa", termina o tecladista
Márcio Buzelin, 29.
Sobre a constituição de "Oxigênio". Flausino: "Ele é inteiro positivo, o mais Jota Quest de nossos
discos". Buzelin: "A gente só
acrescentou elementos à influência black. Ficaram mais presentes
o rock e a eletrônica".
Sobre a abundância de letras de
amor no CD. Flausino: "Será que
o sucesso não nos torna pessoas
mais sensíveis, a fim de encontrar
a pessoa que nos complete? Às vezes penso que é isso". Buzelin:
"Não falamos de amor para fazer
sucesso. Amor é uma coisa que
todo mundo sente, que não restringe público". Lara: "Ser popular e ter uma linguagem acessível
à maioria das pessoas não é fácil.
É difícil conseguir ser simples".
Flausino: "Falar de amor com
poesia e delicadeza, sem precisar
falar de cheiro de lençol, é difícil".
Por falar em difícil, e sobre o hit
"Fácil"? Lara: "Uma preocupação
que tivemos foi de não fazer um
"Fácil" 2. Não existe a fórmula do
sucesso, mas a fórmula de não fazer sucesso é a mentira, é fazer algo em que não se acredita".
Sobre o tom politicamente correto de algumas letras. Flausino:
"Você tem de ser correto, não incorreto. Vou falar de liberação de
maconha? Pelo amor de Deus".
Sobre se a correção política não
contrasta com a fúria mercadológica do contrato com a Fanta.
Flausino: "Um coisa não tem nada a ver com a outra, a aliança não
denigre nada". Lara: "Só viabiliza
possibilidades que não tínhamos
antes, infra-estrutura de shows".
O baixista PJ, 27, brande sua foto no encarte do CD, em que veste
uma camisa estampada por Sid
Vicious, dos Sex Pistols, com uma
Fanta na mão. Buzelin arremata:
"A rebeldia do rock pode estar aí.
Dane-se se fazemos propaganda
da Fanta. Isso é rebelde". Flausino: "A letra do jingle fala de futuro, de amor. Usamos para mandar mensagens positivas".
Criticariam então a pose politicamente incorreta do Planet
Hemp? Flausino: "O som é muito
bom, mas a mensagem, não. Eles
são bons falando da sacanagem
dos políticos, mas não dá para ficar pedindo a liberação da maconha". Ah, os Jota não estranham
que tanto eles quanto os Hemp se
abriguem sob o mesmo selo,
Sony. "Não dá para cobrar ideologia de gravadora", finca Lara.
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