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MÚSICA
Discos remasterizados acrescentam apenas dois CDs à caixa lançada em 2002; músico completaria 60 anos em 2005
Relançamentos celebram mas não inovam Raul Seixas
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
O próprio site oficial de Raul
Seixas (www.raulseixas.com.br)
informa: desde 1981, quando estava vivo e gravando, ainda que já
em decadência, foram produzidas
23 coletâneas de sua obra. Mesmo
para um músico prolífico que tivesse vivido mais do que os parcos 44 anos de Raulzito, é um número obviamente exagerado.
No ano em que chegaria aos 60
-nasceu em 28 de junho de 1945,
em Salvador (BA)-, Raul ganha
mais um relançamento de seus
discos, travestido de homenagem.
Ciente de que a idolatria é fonte
inesgotável de renda, a Universal
remasteriza, acrescenta algumas
"faixas-bônus" e põe na praça oito discos da metamorfose ambulante, ao
preço médio de R$ 25 cada um.
Seis dos atuais "relançamentos"
já tinham sido relançados na caixa "Maluco Beleza", em 2002
-sendo que esta pelo menos tinha o atrativo de vir com um livreto contando a história do músico, com fotos inéditas. As "novidades" ficam por conta da volta
de "O Baú do Raul" (1992) e "Documento Raul Seixas" (1998), ou
seja, o póstumo do póstumo.
Fica dado o aviso aos fãs: não se
iludam, vocês certamente já têm
tudo o que está aqui, mesmo que
em outros formatos. A quem poderia, então, interessar esse lançamento? Aos mais novos, que não
conhecem a obra do maluco beleza, e aos que conhecem por tabela,
superficialmente -muitos dos
quais devem achar insuportável a
idolatria em torno do músico.
Entende-se a antipatia que
Raulzito provoca em muitos. O
grito de "toca Raul!" se tornou tão
freqüente em qualquer lugar em
que haja um som rolando e um
público jovem -universitário,
principalmente- que virou até
piada. É justamente aí, entre a reverência dos que o adoram e a ironia dos que o detestam, que Raul
Seixas deve ser ouvido.
Foi ele, um amante do rock
americano de Elvis e do britânico
dos Beatles, que fundiu o ritmo
com o baião e mostrou que se casavam perfeitamente. Foi ele o
primeiro a passear com a mesma
desenvoltura -e, às vezes, no
mesmo disco- pelo brega, sertanejo, tango, violão à la Bob Dylan
e rock n" roll clássico.
Tome-se como exemplo "Krig-ha, Bandolo!" (referência ao grito
de guerra de Tarzan, que quer dizer "cuidado, aí vem o inimigo"),
seu primeiro disco-solo. É uma
experiência única: do rock-macumba de "Mosca na Sopa" (onde
Raul já avisava que pintou para
abusar) à anticonformista "Ouro
de Tolo", o disco se desenvolve
com os ritmos se alternando de
maneira nunca antes vista.
Mesmo que seja pelo respeito
aos mais velhos: ouça e descubra
esse moleque maravilhoso que faria agora 60 anos.
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