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Diretor desconstrói "tiranias" do cinema
Em palestra em Porto Alegre, Peter Greenaway diz que enquadramento, ator e texto colocam filmes em "camisa-de-força"
Propostas do cineasta, que rodará longa erótico em São Paulo, incluem ação em vários tempos e mais de um ator em um mesmo papel
EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
O cineasta britânico Peter
Greenaway fez anteontem, em
Porto Alegre, uma palestra de
duas horas marcada pelo bom
humor. Atração da série de
conferências "Fronteiras do
Pensamento", que acontece no
Salão de Atos da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, o
diretor de, entre outros filmes,
"O Cozinheiro, o Ladrão, sua
Mulher e o Amante" (1989),
desconstruiu o que chama de
"tiranias" do cinema.
Trata-se, segundo ele, de elementos como o enquadramento, a câmera, o texto e até mesmo o ator, que colocam o cinema em uma camisa-de-força.
Greenaway, que iniciou sua
fala decretando a morte do cinema, apresentou trechos de
sua "Tulse Luper Suitcases",
série de TV com duração de sete horas. Na tela, o cineasta
mostrou sua proposta de desconstrução das "tiranias", a começar pelo texto. Na tela, ele
explora a imagem das palavras,
expediente de que já lançara
mão em filmes como "A Última
Tempestade" (1991).
O diretor sugeriu que a ação
seja apresentada de modo "cubista", mostrada em tempos diferentes. E que mais de um ator
apareça interpretando um
mesmo papel. "Quero fazer um
cinema rico e estranho que englobe a complexidade da vida",
afirmou.
Também foi exibida uma intervenção de Greenaway sobre
um quadro de Rembrandt, um
pequeno filme em que o diretor
"brinca" com as possibilidades
de enredo sugeridas pelo pintor
na obra, fazendo chover, criando um incêndio, adicionando
trilha sonora etc. O artista holandês aparecerá no próximo
filme de Greenaway, "The
Nightwatching", que deve entrar na mostra competitiva do
próximo Festival de Veneza.
Questionado sobre o porquê
de rodar um filme erótico em
São Paulo, como anunciou antes de vir ao Brasil, Greenaway
disse que "qualquer diretor
sensato vai aonde o dinheiro
está" e que o erotismo no filme
será explícito, algo como "O
Império dos Sentidos" (1976),
de Nagisa Oshima.
Mais cedo, durante uma entrevista coletiva, Greenaway
também anunciou que, além do
filme erótico, vai rodar uma ficção científica chamada "The
Quadruple Fruit" (o fruto quádruplo). No filme, disse o diretor, a arrogância humana é punida pelos deuses, que dividem
homens e mulheres em dois.
"Com isso, é preciso quatro
pessoas para foder e produzir
uma quinta. Imagine como será
difícil convencer três pessoas a
chegarem a um consenso", disse, com ironia.
Além de São Paulo, Greenaway vem tocando projetos de
filmes no País de Gales, onde
nasceu, na China, na Austrália e
no Japão. Ao todo, ele pretende
finalizar três filmes nos próximos cinco anos.
O jornalista EDUARDO SIMÕES viajou a convite
da organização do "Fronteiras do Pensamento"
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