São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2000


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Mais de 250 bailarinos vivem crise estrutural
Corpos estáveis se transformam em repartições

Divulgação
Cena de "Trêsmaisum", de Henrique Rodovalho, para a Cia. de Danças de Diadema



Grupos de dança mantidos pelo Estado abrem novas temporadas e enfrentam burocracia


ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Balé da Cidade de São Paulo, que abriu nova temporada esta semana, e o Ballet do Teatro Municipal do Rio, que estréia o clássico "La Bayadère" na próxima quinta, ilustram os dilemas enfrentados no Brasil pelo estreito rol das companhias de dança estáveis, isto é, mantidas pelo Estado -e cada vez mais ameaçadas pela burocratização, pelo espectro da repartição pública.
Em pequena quantidade, considerando-se as dimensões do país, nem sempre desfrutando da estabilidade que identifica sua condição, os principais grupos brasileiros e seus mais de 250 bailarinos convivem com restrições crônicas. Uma das mais citadas é a falta de uma lei de aposentadoria, que paralisa o desenvolvimento dos elencos.
No Ballet Teatro Guaíra de Curitiba, a quantidade de intérpretes com idade avançada para atuar nos palcos, mas ainda obrigados a dançar até os 60 anos, gerou um período de inércia artística, que só agora começa a ser recuperado, graças a soluções alternativas, como a criação de uma segunda companhia.
Outra dificuldade das companhias brasileiras é contar com orçamentos prévios, que lhes permitam programar com antecedência as produções de cada temporada. Isso afeta os repertórios, tornando-se quase nula a chance de convidar coreógrafos internacionais, que não se sujeitam às decisões de última hora.
Salários baixos e necessidade de sobreviver por meio de atividades paralelas também impõem limitações à carreira de bailarinos brasileiros, que hoje "engordam" os elencos de muitas companhias estrangeiras.
O melhor salário é pago hoje pelo Balé da Cidade de São Paulo, em que os bailarinos recebem, em média, R$ 2.900, nem sempre em dia. "Atualmente, trabalhar nesta companhia é quase um privilégio", diz Ivonice Satie, ex-bailarina e hoje diretora artística do grupo paulistano.

Falta de ousadia
Com a burocracia, as companhias também perdem agilidade para cultivar atuações mais intensas. "No Brasil os coreógrafos acabam criando pouco e não podem errar, ao contrário da Europa, onde as companhias lidam melhor com os riscos relativos às obras mais ousadas ou experimentais", diz Antonio Carlos Cardoso, diretor do Balé do Teatro Castro Alves, de Salvador.
Sem tradição, os corpos estáveis brasileiros ainda não conseguem apresentar referências culturais imediatamente reconhecíveis, como acontece com o Ballet da Ópera de Paris, o New York City Ballet e até mesmo com o Ballet do Teatro Colón de Buenos Aires.


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