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CELEBRIDADES
Gramado quer atrair com caras famosas
Presidente do festival diz que evento perdeu glamour com o foco no cinema latino
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Débora Falabella E Roberto Bontempo em "Dois Perdidos Numa Noite Suja", de José Joffily |
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Brasileiros de um lado, latinos
de outro. Pelo segundo ano consecutivo, o Festival de Cinema de
Gramado -que abre hoje sua 30ª
edição- estabelece competições
distintas para os filmes nacionais
(cinco títulos inéditos concorrem
a 14 Kikitos) e estrangeiros (quatro produções realizadas entre
2000 e 2002 na Argentina, no Chile, no México e no Uruguai disputam entre si seis troféus).
O destaque ao cinema nacional,
viabilizado pelo recente aumento
no volume da produção, não é decisão estética, mas econômica. A
organização do festival julga que a
mostra "perdeu glamour" quando se voltou à cinematografia dos
países vizinhos. Os atores de lá
não são conhecidos aqui, e isso
solapou o frisson dos turistas que
movimentam, durante a semana
de realização da mostra, aproximadamente R$ 12 milhões na
economia da cidade gaúcha.
O tradicional desfile de estrelas
em Gramado, muitas delas forjadas na TV e não no cinema, não é,
portanto, acessório na definição
do festival. Enoir Zorzanello, seu
presidente, diz, na entrevista a seguir, que o festival busca o equilíbrio entre o caráter de festa imodesta (o orçamento deste ano alcança R$ 3 milhões) e a condição
de espaço de debate do cinema.
Mais uma vez aderindo à última
tendência, Gramado inaugura este ano uma grade competitiva de
documentários e escala produções em HD, suporte que dispensa a película cinematográfica, na
disputa de longas de ficção. A premiação ocorre no dia 17.
Folha - Assim como a produção do
Brasil, a dos demais países latinos
vem recuperando fôlego. Por que o
festival preferiu dar enfoque ao cinema nacional, deixando os filmes
latinos em mostra paralela?
Enoir Zorzanello - Optamos no
ano passado por dar espaço
maior ao cinema brasileiro. Até
2000, tínhamos uma competição
internacional com oito ou nove
filmes, sendo seis ou sete estrangeiros e um ou dois brasileiros.
O que a gente viu? O festival foi
perdendo seu encanto, seu glamour. Infelizmente, a cinematografia latino-americana não tem a
força do cinema norte-americano. Um ator ou um cineasta que é
conhecidíssimo no México ou na
Argentina, aqui no Brasil não é.
Como a nossa produção foi melhorando, agora temos em competição até cinco filmes brasileiros que concorrem entre si a 14
Kikitos e até cinco filmes estrangeiros concorrendo entre si.
Folha - Quando o sr. cita a celebridade de artistas está, indiretamente, se referindo à movimentação
econômica que o festival produz
por seu poder de atração turística?
Zorzanello - Também é isso. Mas
a própria imprensa questionava
essa história de não ter mais o cineasta brasileiro de primeira ponta, o ator, a atriz. Tínhamos muitos atores estrangeiros bons, mas
não eram aqueles atores conhecidos como os de Hollywood. Essas
pessoas não chamavam tanta
atenção. O rádio, a TV e o jornal
querem noticiar o que é mais conhecido, mais famoso.
Há jornais que se pautam pela
qualidade, pela cultura, pelo que
representa a cinematografia, mas
nem tudo é assim. Estamos procurando o equilíbrio. Acho que
estamos contentando o cinema
latino-americano, ao abrir esse
espaço, e também estamos conseguindo um certo contentamento
com o cinema nacional.
Folha - Por isso Gramado mantém
a tradição de convidar rostos famosos não só no cinema como na TV?
Zorzanello - Também é isso, mas
não é só festa. Gramado hoje -e
sempre primou por isso- é um
local de discussões, de debate, de
troca de idéias, de fórum durante
o festival. Discute-se muito o cinema. Isso nós não perdemos.
O que a gente quer, e aí a palavra
festival diz tudo, é que tenha glamour, estrelas, que é o que acontece com o Festival de Cannes.
Mas tem que ter oportunidade
para quem está iniciando mostrar
sua cara. A gente tem essa preocupação. Não é só a questão do rosto
bonito, mas pessoas talentosas.
Por exemplo, estamos trazendo
como convidados este ano Walmor Chagas, que é um setentão,
Lima Duarte, Eva Wilma, quer dizer, nomes que dispensam comentários. Também estamos trazendo outros atores com carinha
bonita e tal. Ou tantos outros que
têm cara feia. Não se trata disso.
Folha - O sr. disse que o festival
procura incentivar o debate. Qual
é, na sua opinião, a questão central
do cinema brasileiro atual?
Zorzanello - O que se discute
muito é a distribuição e a exibição. Esse é um mercado infelizmente muito fechado. Quem
manda é o cinema internacional.
A classe cinematográfica busca
um espaço maior para a exibição.
Folha - Por que o festival abriu
competição de documentários?
Zorzanello - Era uma reivindicação antiga desses produtores.
Neste ano, o Brasil tem muito
mais produção de documentários
do que de ficção. É uma categoria
que está muito em evidência.
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