São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 2002

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CELEBRIDADES

Gramado quer atrair com caras famosas

Presidente do festival diz que evento perdeu glamour com o foco no cinema latino

Divulgação

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Débora Falabella E Roberto Bontempo em "Dois Perdidos Numa Noite Suja", de José Joffily


SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Brasileiros de um lado, latinos de outro. Pelo segundo ano consecutivo, o Festival de Cinema de Gramado -que abre hoje sua 30ª edição- estabelece competições distintas para os filmes nacionais (cinco títulos inéditos concorrem a 14 Kikitos) e estrangeiros (quatro produções realizadas entre 2000 e 2002 na Argentina, no Chile, no México e no Uruguai disputam entre si seis troféus).
O destaque ao cinema nacional, viabilizado pelo recente aumento no volume da produção, não é decisão estética, mas econômica. A organização do festival julga que a mostra "perdeu glamour" quando se voltou à cinematografia dos países vizinhos. Os atores de lá não são conhecidos aqui, e isso solapou o frisson dos turistas que movimentam, durante a semana de realização da mostra, aproximadamente R$ 12 milhões na economia da cidade gaúcha.
O tradicional desfile de estrelas em Gramado, muitas delas forjadas na TV e não no cinema, não é, portanto, acessório na definição do festival. Enoir Zorzanello, seu presidente, diz, na entrevista a seguir, que o festival busca o equilíbrio entre o caráter de festa imodesta (o orçamento deste ano alcança R$ 3 milhões) e a condição de espaço de debate do cinema.
Mais uma vez aderindo à última tendência, Gramado inaugura este ano uma grade competitiva de documentários e escala produções em HD, suporte que dispensa a película cinematográfica, na disputa de longas de ficção. A premiação ocorre no dia 17.

Folha - Assim como a produção do Brasil, a dos demais países latinos vem recuperando fôlego. Por que o festival preferiu dar enfoque ao cinema nacional, deixando os filmes latinos em mostra paralela?
Enoir Zorzanello -
Optamos no ano passado por dar espaço maior ao cinema brasileiro. Até 2000, tínhamos uma competição internacional com oito ou nove filmes, sendo seis ou sete estrangeiros e um ou dois brasileiros.
O que a gente viu? O festival foi perdendo seu encanto, seu glamour. Infelizmente, a cinematografia latino-americana não tem a força do cinema norte-americano. Um ator ou um cineasta que é conhecidíssimo no México ou na Argentina, aqui no Brasil não é.
Como a nossa produção foi melhorando, agora temos em competição até cinco filmes brasileiros que concorrem entre si a 14 Kikitos e até cinco filmes estrangeiros concorrendo entre si.

Folha - Quando o sr. cita a celebridade de artistas está, indiretamente, se referindo à movimentação econômica que o festival produz por seu poder de atração turística?
Zorzanello -
Também é isso. Mas a própria imprensa questionava essa história de não ter mais o cineasta brasileiro de primeira ponta, o ator, a atriz. Tínhamos muitos atores estrangeiros bons, mas não eram aqueles atores conhecidos como os de Hollywood. Essas pessoas não chamavam tanta atenção. O rádio, a TV e o jornal querem noticiar o que é mais conhecido, mais famoso.
Há jornais que se pautam pela qualidade, pela cultura, pelo que representa a cinematografia, mas nem tudo é assim. Estamos procurando o equilíbrio. Acho que estamos contentando o cinema latino-americano, ao abrir esse espaço, e também estamos conseguindo um certo contentamento com o cinema nacional.

Folha - Por isso Gramado mantém a tradição de convidar rostos famosos não só no cinema como na TV?
Zorzanello -
Também é isso, mas não é só festa. Gramado hoje -e sempre primou por isso- é um local de discussões, de debate, de troca de idéias, de fórum durante o festival. Discute-se muito o cinema. Isso nós não perdemos.
O que a gente quer, e aí a palavra festival diz tudo, é que tenha glamour, estrelas, que é o que acontece com o Festival de Cannes. Mas tem que ter oportunidade para quem está iniciando mostrar sua cara. A gente tem essa preocupação. Não é só a questão do rosto bonito, mas pessoas talentosas.
Por exemplo, estamos trazendo como convidados este ano Walmor Chagas, que é um setentão, Lima Duarte, Eva Wilma, quer dizer, nomes que dispensam comentários. Também estamos trazendo outros atores com carinha bonita e tal. Ou tantos outros que têm cara feia. Não se trata disso.

Folha - O sr. disse que o festival procura incentivar o debate. Qual é, na sua opinião, a questão central do cinema brasileiro atual?
Zorzanello -
O que se discute muito é a distribuição e a exibição. Esse é um mercado infelizmente muito fechado. Quem manda é o cinema internacional. A classe cinematográfica busca um espaço maior para a exibição.

Folha - Por que o festival abriu competição de documentários?
Zorzanello -
Era uma reivindicação antiga desses produtores. Neste ano, o Brasil tem muito mais produção de documentários do que de ficção. É uma categoria que está muito em evidência.


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