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Pesos-penas armam luta livre
Na briga dos minidicionários, Objetiva lança "Houaiss" para tentar bater "Aurélio"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Os pesos-pesados estão no ringue há três anos. Agora é a vez dos
pesos-penas. Chega às livrarias na
próxima semana a nova edição do
minidicionário "Houaiss", concebida para tentar acabar com a hegemonia do "Aurélio" no setor
dos pequenos. Entre os grandes,
os dois travam há três anos uma
intensa disputa pela liderança.
Os mínis valem mais do que pesam. Como são eles que os governos compram para a rede escolar,
seu faturamento é muito maior
do que o dos grandes. Só neste
ano o governo federal gastou R$
20,2 milhões para comprar
3.349.920 minidicionários. E foi
apenas para "reposição", como se
diz. Em 2001, ano de compra pesada, foram adquiridos 20.231.351
exemplares.
Da lista de 2004, 48,7% foram
"Aurélios". Com essa renda, por
exemplo, a Objetiva cobriria praticamente tudo o que já investiu
no "Houaiss" (R$ 11 milhões).
O novo míni da Objetiva foi preparado de olho no edital que o
Ministério da Educação lançará
até o fim do ano. O percurso até o
paraíso é longo: o dicionário passará pela avaliação das escolas em
2005, será negociado em 2006 e
entregue aos estudantes em 2007.
Não há dúvida de que será comprado, já que o edital não prevê
exclusividade - em 2004, 14 dicionários foram negociados. A
pergunta é: conseguirá desbancar
o "Aurélio" do trono?
Disputa
"A concorrência é saudável,
mas o "Houaiss" não assusta. Imaginamos ser possível até ampliar a
liderança entre os mínis. "Aurélio"
é sinônimo de dicionário", afirma
Giem Guimarães, diretor comercial da editora Nova Didática, do
grupo escolar Positivo. O grupo
paranaense comprou em 2003 os
direitos do "Aurélio", que durante 28 anos foi publicado pela Nova
Fronteira.
Para Guimarães, "quantidade
não é qualidade", mas os números são armas da Objetiva para
provar que o pequeno "Houaiss"
é melhor que seu concorrente -
a mesma estratégia utilizada no
lançamento do grande, em 2001.
Ele tem mais páginas, mais caracteres, mais espaço para gramática
e enciclopédia. Na comparação
entre os mínis, só o número de
verbetes é igual.
Mas Roberto Feith, dono da Objetiva, garante que seu produto
não é apenas maior. "O "Houaiss"
é, hoje, o mais completo dicionário de língua portuguesa. Quisemos dar a mesma excelência ao
míni, para que ele também se torne um paradigma. Passamos os
últimos 16 meses desenvolvendo
um puro-sangue", exalta ele.
O primeiro míni "Houaiss" foi
lançado ainda em 2001, mas, segundo o próprio Feith, não era
mais do que uma versão reduzida
do grande. Como não houve tempo para participar do edital daquele ano, e os editais são trienais,
o editor iniciou um projeto mirando 2004: criar um míni novo,
voltado para o Ensino Fundamental (8 a 16 anos) e para as exigências do MEC.
"Para fazer um produto de excelência e eficaz para os estudantes, pesquisamos livros adotados
em algumas das principais escolas
do país, revisamos todos os verbetes e acrescentamos um grande
número de informações gramaticais", diz o filólogo Mauro Villar,
diretor do Instituto Antônio
Houaiss, responsável pelo dicionário. Villar é sobrinho de
Houaiss (1915-1999), que idealizou e iniciou a obra.
O novo míni tem recursos direcionados para quem se inicia na
língua, como indicação de pronúncia e separação de sílabas. Como em todo dicionário voltado
para estudantes, o vocabulário é
adequado à idade dos leitores.
Mostrar a origem etimológica das
palavras - marca do grande
"Houaiss" - e outros recursos
técnicos aparecem apenas em alguns verbetes com funções específicas. Também há gírias e palavras estrangeiras de uso corrente
O "Aurélio" que o Positivo inscreverá no edital do MEC não é o
míni que está nas livrarias, mas a
versão "Escolar". Alegando razões estratégicas, o grupo não informa que modificações estão
sendo feitas no "Escolar" nem em
que mês será lançado o "Dicionário Aurélio -Quarta Edição Revisada e Ampliada", uma cartada
para tentar recuperar a hegemonia entre os grandes.
Acordo
Na guerra dos mínis, a Objetiva
conta com uma aliada de peso para enfrentar o Positivo: a editora
Moderna. A empresa do grupo
espanhol Santillana fará a impressão, comercialização e distribuição dos pequenos "Houaiss".
O acordo de cinco anos foi fechado porque, sendo uma das
maiores editoras de livros didáticos do país, a Moderna tem estrutura montada para atingir todas
as escolas do país, algo impossível
para a Objetiva. Seus 300 visitadores vão freqüentemente às escolas
oferecer produtos, entre os quais
estará agora o míni "Houaiss".
"Ter um dicionário de alta qualidade é muito importante para
atingirmos a liderança desse mercado altamente competitivo que é
o de livros didáticos", diz o diretor-geral da Moderna, Andrés
Cardó. Ática, Scipione, FTD e Saraiva são outras grandes do setor.
Dos 30 mil exemplares que a
Moderna imprimirá no primeiro
mês, 13 mil serão distribuídos gratuitamente em escolas particulares, numa estratégia de divulgação que almeja efeitos no início do
ano letivo de 2005. O Positivo tem
uma rede própria de visitadores
para angariar simpatias para o
"Aurélio".
Em breve, a Nova Fronteira voltará ao ringue. Uma equipe está
preparando uma nova versão do
"Caldas Aulete", fora do mercado
desde os anos 70.
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