São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

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Pesos-penas armam luta livre

Na briga dos minidicionários, Objetiva lança "Houaiss" para tentar bater "Aurélio"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Os pesos-pesados estão no ringue há três anos. Agora é a vez dos pesos-penas. Chega às livrarias na próxima semana a nova edição do minidicionário "Houaiss", concebida para tentar acabar com a hegemonia do "Aurélio" no setor dos pequenos. Entre os grandes, os dois travam há três anos uma intensa disputa pela liderança.
Os mínis valem mais do que pesam. Como são eles que os governos compram para a rede escolar, seu faturamento é muito maior do que o dos grandes. Só neste ano o governo federal gastou R$ 20,2 milhões para comprar 3.349.920 minidicionários. E foi apenas para "reposição", como se diz. Em 2001, ano de compra pesada, foram adquiridos 20.231.351 exemplares.
Da lista de 2004, 48,7% foram "Aurélios". Com essa renda, por exemplo, a Objetiva cobriria praticamente tudo o que já investiu no "Houaiss" (R$ 11 milhões).
O novo míni da Objetiva foi preparado de olho no edital que o Ministério da Educação lançará até o fim do ano. O percurso até o paraíso é longo: o dicionário passará pela avaliação das escolas em 2005, será negociado em 2006 e entregue aos estudantes em 2007.
Não há dúvida de que será comprado, já que o edital não prevê exclusividade - em 2004, 14 dicionários foram negociados. A pergunta é: conseguirá desbancar o "Aurélio" do trono?

Disputa
"A concorrência é saudável, mas o "Houaiss" não assusta. Imaginamos ser possível até ampliar a liderança entre os mínis. "Aurélio" é sinônimo de dicionário", afirma Giem Guimarães, diretor comercial da editora Nova Didática, do grupo escolar Positivo. O grupo paranaense comprou em 2003 os direitos do "Aurélio", que durante 28 anos foi publicado pela Nova Fronteira.
Para Guimarães, "quantidade não é qualidade", mas os números são armas da Objetiva para provar que o pequeno "Houaiss" é melhor que seu concorrente - a mesma estratégia utilizada no lançamento do grande, em 2001. Ele tem mais páginas, mais caracteres, mais espaço para gramática e enciclopédia. Na comparação entre os mínis, só o número de verbetes é igual.
Mas Roberto Feith, dono da Objetiva, garante que seu produto não é apenas maior. "O "Houaiss" é, hoje, o mais completo dicionário de língua portuguesa. Quisemos dar a mesma excelência ao míni, para que ele também se torne um paradigma. Passamos os últimos 16 meses desenvolvendo um puro-sangue", exalta ele.
O primeiro míni "Houaiss" foi lançado ainda em 2001, mas, segundo o próprio Feith, não era mais do que uma versão reduzida do grande. Como não houve tempo para participar do edital daquele ano, e os editais são trienais, o editor iniciou um projeto mirando 2004: criar um míni novo, voltado para o Ensino Fundamental (8 a 16 anos) e para as exigências do MEC.
"Para fazer um produto de excelência e eficaz para os estudantes, pesquisamos livros adotados em algumas das principais escolas do país, revisamos todos os verbetes e acrescentamos um grande número de informações gramaticais", diz o filólogo Mauro Villar, diretor do Instituto Antônio Houaiss, responsável pelo dicionário. Villar é sobrinho de Houaiss (1915-1999), que idealizou e iniciou a obra.
O novo míni tem recursos direcionados para quem se inicia na língua, como indicação de pronúncia e separação de sílabas. Como em todo dicionário voltado para estudantes, o vocabulário é adequado à idade dos leitores. Mostrar a origem etimológica das palavras - marca do grande "Houaiss" - e outros recursos técnicos aparecem apenas em alguns verbetes com funções específicas. Também há gírias e palavras estrangeiras de uso corrente
O "Aurélio" que o Positivo inscreverá no edital do MEC não é o míni que está nas livrarias, mas a versão "Escolar". Alegando razões estratégicas, o grupo não informa que modificações estão sendo feitas no "Escolar" nem em que mês será lançado o "Dicionário Aurélio -Quarta Edição Revisada e Ampliada", uma cartada para tentar recuperar a hegemonia entre os grandes.

Acordo
Na guerra dos mínis, a Objetiva conta com uma aliada de peso para enfrentar o Positivo: a editora Moderna. A empresa do grupo espanhol Santillana fará a impressão, comercialização e distribuição dos pequenos "Houaiss".
O acordo de cinco anos foi fechado porque, sendo uma das maiores editoras de livros didáticos do país, a Moderna tem estrutura montada para atingir todas as escolas do país, algo impossível para a Objetiva. Seus 300 visitadores vão freqüentemente às escolas oferecer produtos, entre os quais estará agora o míni "Houaiss".
"Ter um dicionário de alta qualidade é muito importante para atingirmos a liderança desse mercado altamente competitivo que é o de livros didáticos", diz o diretor-geral da Moderna, Andrés Cardó. Ática, Scipione, FTD e Saraiva são outras grandes do setor.
Dos 30 mil exemplares que a Moderna imprimirá no primeiro mês, 13 mil serão distribuídos gratuitamente em escolas particulares, numa estratégia de divulgação que almeja efeitos no início do ano letivo de 2005. O Positivo tem uma rede própria de visitadores para angariar simpatias para o "Aurélio".
Em breve, a Nova Fronteira voltará ao ringue. Uma equipe está preparando uma nova versão do "Caldas Aulete", fora do mercado desde os anos 70.


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