São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

Karime Xavier/Folha Imagem
O jogador de pólo Fábio Diniz, que está reformando um sobrado de 600 m2 na concessionária do pai para ser a base de sua banda Mustangues


Músicos de famílias tradicionais revelam as vantagens e os dissabores de levar ao palco um sobrenome conhecido

Berço esplêndido

Um sobrado de 600 m2 é a nova "garagem" da banda de rock Mustangues. Cortesia do guitarrista do grupo, Fábio Diniz, 30 anos, que aproveitou a casa desativada no fundo da concessionária Toyota do pai -Arnaldo Diniz, um dos herdeiros do grupo Pão de Açúcar-, para os ensaios. "Vamos fazer um palco, pintar de preto e deixar com cara de pub inglês", diz ele, rodeado por cadeiras, banquetas e sofás que pegou na fazenda da família, em Indaiatuba, reduto do pólo em SP. Fábio é o jogador número 1 do país e decidiu criar a banda em 2004, enquanto disputava, em Palm Beach (EUA), o U.S. Open, a competição mais importante do esporte.

 

Ele pertence a uma geração de músicos que levou para o palco o nome tradicional da família. Uma atitude encarada como rebeldia no século passado e que é hoje apoiada pelos pais. O adjetivo "rebelde", definitivamente, não se aplica ao gaúcho Pedro Verissimo. Ele morou em Porto Alegre na casa do pai, o escritor Luis Fernando Verissimo, até os 32 anos. Quando saiu, já havia decidido trocar a carreira na publicidade pela de vocalista da banda Tom Bloch. Bancou o sonho com recursos próprios. Mas a estrutura financeira e o total apoio da família pesaram na decisão. "Fazer música no Brasil é complicado, então é importante saber que você pode contar com uma ajuda, se for necessário", diz Pedro, agora com 37 anos.
 

Para complementar o orçamento, Pedro ainda faz trabalhos esporádicos como redator publicitário no Rio Grande do Sul. "Mas, de vez em quando, ele assalta a bolsa da mãe", brinca Luis Fernando Verissimo. O filho diz que o sobrenome ajuda. "Coloca uma luz em ti. Mas é ilusão achar que isso vai te resolver a vida."
 

Ele brinca que o parentesco não lhe garantiu uma vaga em uma grande gravadora -os dois discos da Tom Bloch foram feitos de forma independente-, mas ajudou-o a conseguir o primeiro emprego na publicidade. "O diretor da agência foi super franco: "Olha, vou te contratar porque tu é filho do teu pai e, no mínimo, deve ter lido bastante, então deve saber escrever." Mas contratar alguém que sabe cantar e compor nem sempre é a prioridade das gravadoras."
 

Mariana Aydar, 27 anos, filha da publicitária Bia Aydar, teve mais sorte: lançou o disco "Kavita 1", no ano passado, pela gravadora Universal. Ela agora está na fase "eu sou eu, mamãe é mamãe". Já Bia, ex-produtora de artistas como Luiz Gonzaga e Lulu Santos e hoje presidente da agência MPM, se derrete. "Se ela tivesse escolhido fazer medicina, eu teria que montar um consultório. Quando decidiu cantar, perguntei qual seria o "consultório" dela e a Mari quis ir morar fora", conta. A mãe, então, financiou os cursos de música de Mariana nos Estados Unidos e em Paris.
O cantor e guitarrista Nando Miranda tinha em caixa os R$ 10 mil que investiu no primeiro CD de sua banda Jukabala, no final de 2004. O irmão, o cavaleiro Álvaro Affonso de Miranda Neto, o Doda, ajudou levando a mulher, Athina Onassis, aos shows de lançamento dos dois CDs da Jukabala. E milhares de jornalistas no encalço dela. "Ninguém vai comprar meu disco porque sou irmão do Doda. Mas se alguém me conhecer por causa disso e gostar do som, cumpri meu papel."
 

A cantora Daniela Procopio preferiu evitar o vínculo com a mãe, a presidente da Faap, Celita Procopio de Carvalho. Em janeiro do ano passado, ela começou a fazer shows com o nome artístico Dakine.
 

O pseudônimo tem uma explicação mística -"as dakines são seres etéreos que sussurravam os mantras aos monges budistas", diz ela-, que traduz a vontade da artista, de 33 anos, de se "livrar de todos os vínculos", inclusive familiares. Em casa, Daniela se considerava a "ovelha negra". Não se formou advogada, como queria a mãe. Direcionou sua "alma de artista" para o curso de desenho industrial (na Faap, claro), antes de seguir carreira na música. Hoje, ela voltou a ser "Daniela Procopio", nome de seu primeiro CD, que tem lançamento previsto para outubro. O álbum foi gravado em Nova York, com arranjos de Eumir Deodato, que já produziu trabalhos da cantora islandesa Björk.
 

A cantora reclama da "fama" do sobrenome. "Acham que eu tenho dinheiro pra c... e isso me prejudica. Vou pedir bolsa na academia de ginástica, neguinho me tira de milionária e não dá." Nando Miranda cita a mesma preocupação: "Você vai tentar uma negociação de rádio ou fechar um show e as pessoas podem te ver como uma chance de ganhar dinheiro".
 

Mas não há muito do que reclamar. "Quando jovem, eu não podia nem escolher, porque tinha que trabalhar, ajudar meus pais", diz Bia Aydar. "Essa geração teve uma base. Agora, estão realizados." Mesmo que a realização tenha custado um bom dinheiro. "É melhor nem pensar em quanto já gastei com música", diz Pedro Verissimo. Arrependimento? Não! "Escolhi isso porque me dá prazer. Ser rico e infeliz, não dá."


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