São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2008

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Discursos em Gramado lamentam cinema atual

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO

Com um gesto, na abertura do 36º Festival de Gramado, anteontem, o comediante cearense Renato Aragão sintetizou o choque entre o passado e o presente no cinema brasileiro e lançou uma interrogação sobre o futuro.
Homenageado da noite, Aragão tinha um troféu Kikito na mão direita e uma placa de bronze na esquerda, quando a apresentadora Renata Boldrini anunciou que a noite lhe reservava "mais uma surpresa".
Presente do estúdio Sony -que lançou em junho passado o 47º filme de Aragão, "O Guerreiro Didi e a Ninja Lili"-, a "surpresa" era um laptop da geração Blu-Ray, tecnologia que grava filmes em alta definição.
Aragão olhou o aparelho de soslaio, fez uma careta e o gesto: ergueu o troféu Kikito bem alto e encarou o público, altivo, como a declarar que ele prefere o cinema.
Em discurso minutos antes, o comediante mencionara os modestos resultados de seu mais recente filme (245 mil espectadores até agora), atribuíra o sucesso do passado "às crianças de ontem, que são vocês, os adultos de hoje" e reclamara da concorrência com os blockbusters americanos.
"Essa homenagem vem no momento certo, em que eu preciso de mais estímulo", disse. Durante a tarde, em entrevista coletiva, Aragão havia citado o computador, que prende a atenção das crianças, como seu rival contemporâneo.
A noite seguiu com a exibição de dois filmes e mais declarações sintomáticas do quadro atual do cinema brasileiro.
Ao apresentar "Dias e Noites", de Beto Souza, fora de competição, a produtora e atriz Naura Schneider agradeceu "antes de mais nada aos patrocinadores". Depois, "à equipe que participou do filme".
O diretor Murilo Salles, 57, "emocionado" de abrir a competição nacional com "Nome Próprio", já em cartaz em dez cidades, citou que este é seu quinto longa. "Infelizmente, cineasta brasileiro faz pouco filme." Ambos os trabalhos tratam da condição da mulher na sociedade brasileira.


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