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CRÍTICA TEATRO
Ácido, "Piscina" opõe arte e amizade
Texto do inglês Mark Ravenhill explora a dificuldade em lidar com quem "sempre se dá bem"
CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA
Em sua 14ª versão, o Cultura Inglesa Festival reafirmou
a tradição de divulgar textos
britânicos inovadores e inéditos no Brasil ao premiar como vencedor, em maio passado, "Piscina (Sem Água)", de Mark Ravenhill, mesmo autor das peças "Shopping and Fucking" e "Polaróides Explícitas".
Célebre pela abordagem de temas controvertidos, diálogos afiados e ironia cortante, em "Piscina (Sem Água)", Ravenhill recorre ao confronto entre a amizade e a arte como uma descarga disruptiva
para o drama.
Na trama, amigos de longa
data se reúnem na luxuosa
casa da única artista bem-sucedida do grupo, quando um
acidente inesperado acaba
forçando-os a encarar a irritação, muitas vezes inadmissível, de se relacionar com
quem "sempre se dá bem".
Com um deles em coma, os
outros amigos passam a chafurdar sobre o corpo que agoniza, até que decidem fotografá-lo e então utilizar as
imagens do sofrimento
alheio como um possível
trampolim para o mundo das
artes. "Quando um de nós sobe, o outro tem de descer", proferem várias vezes, deixando bem claro qual é o mote do conflito.
CORO
Ambas tradução e direção
de Felícia Johansson acertam
na acidez e no retrato satírico
do vaivém que assalta as
amizades segundo oscilações de sucesso e fracasso
profissional.
Neste texto cheio de reviravoltas, não há personagens
fixos. Os atores funcionam
como um coro de vozes e arremessam ora declarações
carinhosas, ora ofensas de
boca cheia num ritmo abrupto e cômico.
Ao saltar entre diferentes
comportamentos, a rapidez
coreográfica dos intérpretes
é catalisada por painéis móveis, que adquirem várias
funções cênicas em um cenário ágil concebido por Marcelo Larrea.
Como um quarteto, as atrizes Ester Laccava e Einal Falbel revelam um domínio
mais hábil da fronteira tênue
entre bondade e perversidade. Em vez de comprometer o
equilíbrio do espetáculo, porém, o tom mais dissonante
de William Amaral e a brandura de Renato Caldas acabam por garantir nuances
entre as vozes.
O resultado é a quebra da
sensação do coletivo. Quando o coro se individualiza, o
universo se torna mais prosaico e familiar.
Com isso, a fragilidade nas
amizades sobrepõe como tema central, domesticando a
pretensão do próprio texto
em discutir o valor da arte em
situações limítrofes.
PISCINA (SEM ÁGUA)
QUANDO sáb., às 21h; dom., às 18h; até 12/9
ONDE teatro Cultura Inglesa Pinheiros (r. Deputado Lacerda Franco, 333, Pinheiros, tel. 0/xx/11/3814-0100)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
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