São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2010

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CRÍTICA TEATRO

Ácido, "Piscina" opõe arte e amizade

Texto do inglês Mark Ravenhill explora a dificuldade em lidar com quem "sempre se dá bem"

CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA

Em sua 14ª versão, o Cultura Inglesa Festival reafirmou a tradição de divulgar textos britânicos inovadores e inéditos no Brasil ao premiar como vencedor, em maio passado, "Piscina (Sem Água)", de Mark Ravenhill, mesmo autor das peças "Shopping and Fucking" e "Polaróides Explícitas".
Célebre pela abordagem de temas controvertidos, diálogos afiados e ironia cortante, em "Piscina (Sem Água)", Ravenhill recorre ao confronto entre a amizade e a arte como uma descarga disruptiva para o drama.
Na trama, amigos de longa data se reúnem na luxuosa casa da única artista bem-sucedida do grupo, quando um acidente inesperado acaba forçando-os a encarar a irritação, muitas vezes inadmissível, de se relacionar com quem "sempre se dá bem".
Com um deles em coma, os outros amigos passam a chafurdar sobre o corpo que agoniza, até que decidem fotografá-lo e então utilizar as imagens do sofrimento alheio como um possível trampolim para o mundo das artes. "Quando um de nós sobe, o outro tem de descer", proferem várias vezes, deixando bem claro qual é o mote do conflito.

CORO
Ambas tradução e direção de Felícia Johansson acertam na acidez e no retrato satírico do vaivém que assalta as amizades segundo oscilações de sucesso e fracasso profissional.
Neste texto cheio de reviravoltas, não há personagens fixos. Os atores funcionam como um coro de vozes e arremessam ora declarações carinhosas, ora ofensas de boca cheia num ritmo abrupto e cômico.
Ao saltar entre diferentes comportamentos, a rapidez coreográfica dos intérpretes é catalisada por painéis móveis, que adquirem várias funções cênicas em um cenário ágil concebido por Marcelo Larrea.
Como um quarteto, as atrizes Ester Laccava e Einal Falbel revelam um domínio mais hábil da fronteira tênue entre bondade e perversidade. Em vez de comprometer o equilíbrio do espetáculo, porém, o tom mais dissonante de William Amaral e a brandura de Renato Caldas acabam por garantir nuances entre as vozes.
O resultado é a quebra da sensação do coletivo. Quando o coro se individualiza, o universo se torna mais prosaico e familiar. Com isso, a fragilidade nas amizades sobrepõe como tema central, domesticando a pretensão do próprio texto em discutir o valor da arte em situações limítrofes.


PISCINA (SEM ÁGUA)
QUANDO sáb., às 21h; dom., às 18h; até 12/9
ONDE teatro Cultura Inglesa Pinheiros (r. Deputado Lacerda Franco, 333, Pinheiros, tel. 0/xx/11/3814-0100)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom




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