São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2011

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Paulo José atualiza peça de Boal escrita durante o exílio

Foco sai da denúncia política na nova versão de "Murro em Ponta de Faca", realizada 33 anos após a primeira

Encenador opta por destacar os aspectos emocionais e autobiográficos do texto dos anos 1970

GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

Paulo José dirige "Murro em Ponta de Faca", de Augusto Boal, 33 anos após encenar a obra pela primeira vez. Obra emblemática do teatro engajado dos anos 1970, a peça foi escrita durante o exílio do autor (1971-1986).
Realizada em 1978, a primeira montagem apresentou a dramaturgia deste que se tornaria um dos grandes nomes do teatro do século 20. Na ocasião, Paulo José enfatizou a mensagem política do texto. Na nova versão, que inicia temporada hoje em São Paulo, o foco recai sobre aspectos emocionais da trama.
A peça apresenta o drama de três casais de exilados que se veem obrigados a dividir o mesmo espaço físico, enfrentando suas diferenças e a falta de liberdade.
"O veículo de interesse agora é a humanidade que a peça apresenta, através dessa situação de abandono e maus-tratos em que os personagens se encontram", explicou Paulo José à Folha.
Ele se atém ao essencial para compor sua encenação. O cenário se resume a algumas malas, que simbolizam a condição de transitoriedade dos personagens e, ao serem usadas também como bancos e mesas, remetem o modo precário em que vivem.
Através de cartas e telefonemas, Paulo José conversou algumas vezes com o fundador do Teatro do Oprimido durante o processo de ensaios da primeira montagem.

PERSONAGENS
Para ele, a peça é quase autobiográfica. "É muito pessoal, bem diferente do resto do teatro de Boal. Os personagens são aqueles que ele conheceu durante o exílio", diz.
O espetáculo se passa em países onde Boal viveu, como França, Equador e México. Cada casal representa um universo da sociedade. Além dos personagens Paulo e Maria, que aparecem como intelectuais, há os burgueses e os operários.
Paulo é músico e, conforme afirma o diretor, simboliza o dramaturgo. É o mais idealista dos seis personagens e quem melhor se adapta. Decide permanecer exilado por ideologia e opta em "dar murro em ponta de faca", por uma questão de consciência.
Apesar da luta contra o mal de Parkinson, Paulo José, 74, se mostra em pleno domínio de sua arte: mantém uma invejável produtividade artística, se dividindo entre televisão, teatro e cinema.

MURRO EM PONTA DE FACA
QUANDO sex. e sáb., às 21h30, e dom., às 18h30; até 18/9
ONDE Sesc Belenzinho (r. Padre Adelino, 1.000, tel. 0/xx/11/2076-9700)
QUANTO de R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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