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"ORFEU NEGRO"/DVD
Filme é o clássico da "macumba para turista"
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
O moleque empina uma pipa do alto do morro, e a canção, famosa, nos fala da felicidade
como uma pluma de vôo leve,
mas vida breve. Num raro sopro
de inspiração poética, o diretor
Marcel Camus encontra, no curto
vôo da pipa, a metáfora de "Orfeu
Negro", filme em que busca, na
euforia passageira do Carnaval, a
eternidade de um mito.
Explosão de Eros, vizinhança de
Tanatos: no transe dionisíaco do
Carnaval, o amor e a morte unem
tragicamente os destinos de Eurídice (Marpessa Dawn) e de Orfeu
(Breno Mello). Mas chega de poesia. Camus não tem talento para
ela. Os laivos de poesia órfica de
seu filme devem ser atribuídos a
Vinicius de Moraes, autor da peça
("Orfeu da Conceição") da qual
Camus se apropriou.
Segundo a lenda, foi passando
as férias no Rio, à espera do dinheiro para finalizar seu primeiro
longa ("Mort en Fraude"), que
Camus, encantado com a cidade,
aprendeu com Vinicius que, no
Brasil, "felicidade de pobre" é "a
grande ilusão do Carnaval". Na
lenda da versão de Vinicius, Orfeu, o cantor dos imortais, desce
do morro, o seu Olimpo, para
buscar Eurídice no inferno que é o
caos da cidade pós-Carnaval.
Já a "felicidade de Camus" foi a
"grande ilusão de Cannes". Cegado pela Palma de Ouro no Festival
e o Oscar de filme estrangeiro que
recebeu por "Orfeu Negro", o cineasta embrenhou-se cada vez
mais na trilha do exotismo barato,
provando que sua fama era mesmo "fogo de palha" que, tal como
a pluma de Vinicius, dependia da
força dos ventos.
Os que cultuam "Orfeu Negro"
(1959) vislumbram sua poesia, e
os que o detratam salientam sua
inautenticidade. E o fato é que nenhum outro filme estrangeiro reforçou tanto a imagem clichê do
Brasil exótico quanto o de Camus.
"Orfeu Negro" é o clássico da
"macumba para turista".
Na época, enquanto sua nouvelle vague consagrava-se nesse
mesmo Festival de Cannes que
premiou Camus, Jean-Luc Godard denunciava, nas páginas da
revista Cahiers du Cinéma, o exotismo "cartão-postal" de "Orfeu
Negro". Ele, que estivera no Brasil
na juventude, não entendia como
o hábil diretor de fotografia Jean
Bourgoin fora inventar de competir, através de tantos filtros coloridos e rígidos, com a suavidade
da luz natural do Rio.
Orfeu Negro
Direção: Marcel Camus
Produção: Brasil/França/Itália, 1959
Com: Marpessa Dawn, Breno Mello,
Lourdes de Oliveira
Distribuidora: Versátil
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