São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES

Coleção de 1.515 obras será disposta de acordo com a decoração original do espaço; fundação estuda novo pavilhão

Casa de Ema Klabin será museu em 2005

ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Extremo bom gosto e dinheiro para pô-lo em ação ou compulsão? A questão, apesar de não ter a mínima importância diante da história e do valor de cada peça da coleção de Ema Gordon Klabin, herdeira do império de celulose Klabin, Irmãos e Cia., não sai da cabeça de quem visita sua casa -uma mansão de arquitetura visivelmente atemporal, repleta de telas, esculturas e objetos de arte decorativa em cada recanto.
Os interessados em conhecer (ou rever) as peças em seu "habitat natural" poderão percorrer cada cômodo e ver de perto a mesma decoração do tempo em que sua proprietária vivia na casa número 43 da rua Portugal, no Jardim Europa, em São Paulo. É o endereço do novo museu Fundação Cultural Ema Gordon Klabin, cuja abertura está prevista para o início de 2005.
No lar de Ema, peças exóticas de arte africana e pré-colombiana dividem o espaço com obras das civilizações gregas, etruscas e orientais, com os grandes mestres europeus e com os brasileiros das primeiras gerações modernas, de Portinari a Brecheret. Isso sem falar em todas as peças de arte decorativa que "inundam" a casa. No total, são 1.515 peças -das quais cerca de 200 foram exibidas na Pinacoteca do Estado, de março a maio deste ano, na exposição "Universos Sensíveis".
Para evitar que qualquer obra sofra danos, as visitas ocorrerão duas vezes por semana e serão monitoradas e organizadas em grupos de, no máximo, 12 pessoas. "Nós teremos um cuidado especial com o público. Quando as pessoas vêem uma cadeira, vão logo sentando, sem levar em conta que é uma peça do século 18", explica o curador Paulo Costa.
A idéia de fazer da casa de Ema Gordon Klabin um museu veio dela própria. Em 1978, solteira e sem filhos, Ema criou uma fundação para que sua coleção recebesse os devidos cuidados e atenção depois de sua morte. Os trabalhos de catalogação começaram em 1997 e, desde julho, a casa passa por reformas.
A construção de 900 m2 -divididos em um hall de entrada, uma galeria, uma sala de estar, uma sala de jantar, uma sala de música, uma biblioteca e duas suites- fica localizada em um terreno de 4.000 m2, dos quais boa parte é ocupada por jardins.
Costa destaca que o espaço oferece ao visitante uma idéia de representação de uma classe social e época -denunciadas pelos banheiros da casa, principalmente pelo utilizado por Ema, que é dividido em sub-salas para cada função do cômodo.
A grande novidade da casa Klabin, ainda em estudo, é a construção de um pavilhão com ares de estufa projetado por Pedro Mendes da Rocha, com espaço para eventos e uma sala de exposições temporárias nos fundos do terreno. Para isso, Costa começou a captar recursos.

Público e privado
A abertura do museu Klabin reforça os exemplos de transição de acervos privados para o conhecimento público. Além dela, outra coleção famosa no Estado, a Nemirovsky, está exposta por meio de um acordo de comodato de cinco anos entre a Fundação José e Paulina Nemirovsky e a Pinacoteca do Estado. Durante o período, obras da coleção podem ser exibidas em novas mostras. "Mestres do Modernismo", que expõe parte da coleção, está em cartaz até junho de 2005.
O diretor da Pinacoteca, Marcelo Araujo, afirma que a prática não é recente e que novos acordos já estão em estudo.
No MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio, o regime de empréstimo foi a saída para compor um acervo depois que o original foi destruído por um incêndio em 1978. Cerca de 3.500 obras do acervo atual pertencem à coleção de Gilberto Chateaubriand.


Texto Anterior: Arquitetura: Brasil mostra sua metamorfose na Bienal de Veneza
Próximo Texto: Sede carioca realiza atividades
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.