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CINEMA / ESTRÉIAS
No Brasil, diretor mira público via TV
Com "excelente experiência" em minissérie que realiza para a Globo, cineasta diz que não pensa em fazer filmes no país
Embora escolha TV, diretor refuta diagnóstico de crise de público no cinema brasileiro e tenta "empurrar" produção nacional ao mercado externo
DA REPORTAGEM LOCAL
Neste trecho da entrevista,
Fernando Meirelles avalia que
a atriz Julianne Moore tem
chances no Oscar com seu papel em "Ensaio sobre a Cegueira", porque a Academia de
Hollywood "às vezes faz justiça"; fala sobre a pressão do sucesso e aborda sua relação com
TV e cinema no país.
(SA)
FOLHA - Você disse que vai dirigir
apenas para a televisão no Brasil e
que, no cinema, fará sempre projetos internacionais. Por quê?
MEIRELLES - Falei isso embalado
pela excelente experiência que
tem sido fazer [a minissérie para a Globo] "Som e Fúria". Está
sendo tão bom fazer TV. Para
que vou fazer cinema? Minha
motivação maior é público.
"Som e Fúria" provavelmente será visto por 12 milhões de
pessoas, sendo pessimista. Se
eu fizesse o filme de maior sucesso nos últimos 30 anos no
Brasil, não teria esse público.
[O maior sucesso nacional desta década, "Dois Filhos de
Francisco" (2005), teve público
de 5,4 milhões.] Mas vamos relativizar. Falo isso, mas, daqui a
dois anos, posso estar fazendo
um filme aqui no Brasil.
FOLHA - Os pífios resultados de bilheteria dos filmes brasileiros neste
ano demonstram a falência do projeto industrial de cinema no país?
MEIRELLES - Acho que não. Este
ano ainda não acabou. Alguns
filmes podem reverter a porcentagem [do produto nacional] do mercado interno [em
torno de 7%]. Todo ano há filmes para todas as faixas de público. No cinema americano
também é assim. Não acho que
haja falência. Ao contrário,
penso que é uma indústria cada
vez mais sólida, que está se consolidando com essa produção
crescente ano a ano.
FOLHA - Você foi apontado como o
20º diretor latino mais poderoso do
mundo pela revista "Hollywood Reporter" em 2007. É a melhor colocação de um brasileiro. Para que serve
esse poder?
MEIRELLES- Botar o cinema brasileiro no mercado internacional é minha bandeira. Estou
tendo a possibilidade de produzir filmes de diretores novos,
indicar colegas para fazer filmes fora, fazer formação de roteiristas aqui.
Se eu der alguma contribuição para o cinema brasileiro,
vai ser no sentido de trazer um
pouco o cinema internacional
para cá e empurrar um pouco o
nosso para o mercado externo.
FOLHA - Por causa da fama, sente-se pressionado a não errar?
MEIRELLES - Talvez por mim.
Mas a pressão para não errar
não é tão grande quanto minha
vontade de experimentar coisas. Não deixo de me arriscar
porque posso vir a errar. "Ensaio sobre a Cegueira" é prova
disso. Tinham me oferecido
projetos mais seguros, mais fáceis. Tenho essa tendência de ir
para a coisa mais arriscada.
FOLHA - Seus dois filmes anteriores
somam oito indicações ao Oscar.
Qual é sua expectativa para este?
MEIRELLES - Acho que este não
tem muito a cara do Oscar. É
um filme mais autoral. Por outro lado, a [atriz] Julianne
[Moore] está sempre mencionada nas listas prévias. Se alguém tiver alguma chance nesse filme, é ela, até porque já foi
indicada quatro vezes, nunca
ganhou e fez um trabalho sensacional em "Ensaio sobre a
Cegueira". A Academia tem isso. Às vezes, eles fazem justiça.
FOLHA - Depois de "Cidade de
Deus", você se voltou a um modelo
de produções internacionais de orçamento médio e declinou das superproduções? Ter o corte final é
condição para que faça um filme?
MEIRELLES - Sim. Não vou dizer
nunca, mas acho que dificilmente vou topar um projeto
em que não tenha o corte final.
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