São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2008

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CINEMA / ESTRÉIAS

No Brasil, diretor mira público via TV

Com "excelente experiência" em minissérie que realiza para a Globo, cineasta diz que não pensa em fazer filmes no país

Embora escolha TV, diretor refuta diagnóstico de crise de público no cinema brasileiro e tenta "empurrar" produção nacional ao mercado externo


DA REPORTAGEM LOCAL

Neste trecho da entrevista, Fernando Meirelles avalia que a atriz Julianne Moore tem chances no Oscar com seu papel em "Ensaio sobre a Cegueira", porque a Academia de Hollywood "às vezes faz justiça"; fala sobre a pressão do sucesso e aborda sua relação com TV e cinema no país. (SA)

 

FOLHA - Você disse que vai dirigir apenas para a televisão no Brasil e que, no cinema, fará sempre projetos internacionais. Por quê?
MEIRELLES
- Falei isso embalado pela excelente experiência que tem sido fazer [a minissérie para a Globo] "Som e Fúria". Está sendo tão bom fazer TV. Para que vou fazer cinema? Minha motivação maior é público. "Som e Fúria" provavelmente será visto por 12 milhões de pessoas, sendo pessimista. Se eu fizesse o filme de maior sucesso nos últimos 30 anos no Brasil, não teria esse público. [O maior sucesso nacional desta década, "Dois Filhos de Francisco" (2005), teve público de 5,4 milhões.] Mas vamos relativizar. Falo isso, mas, daqui a dois anos, posso estar fazendo um filme aqui no Brasil.

FOLHA - Os pífios resultados de bilheteria dos filmes brasileiros neste ano demonstram a falência do projeto industrial de cinema no país?
MEIRELLES
- Acho que não. Este ano ainda não acabou. Alguns filmes podem reverter a porcentagem [do produto nacional] do mercado interno [em torno de 7%]. Todo ano há filmes para todas as faixas de público. No cinema americano também é assim. Não acho que haja falência. Ao contrário, penso que é uma indústria cada vez mais sólida, que está se consolidando com essa produção crescente ano a ano.

FOLHA - Você foi apontado como o 20º diretor latino mais poderoso do mundo pela revista "Hollywood Reporter" em 2007. É a melhor colocação de um brasileiro. Para que serve esse poder?
MEIRELLES
- Botar o cinema brasileiro no mercado internacional é minha bandeira. Estou tendo a possibilidade de produzir filmes de diretores novos, indicar colegas para fazer filmes fora, fazer formação de roteiristas aqui. Se eu der alguma contribuição para o cinema brasileiro, vai ser no sentido de trazer um pouco o cinema internacional para cá e empurrar um pouco o nosso para o mercado externo.

FOLHA - Por causa da fama, sente-se pressionado a não errar?
MEIRELLES
- Talvez por mim. Mas a pressão para não errar não é tão grande quanto minha vontade de experimentar coisas. Não deixo de me arriscar porque posso vir a errar. "Ensaio sobre a Cegueira" é prova disso. Tinham me oferecido projetos mais seguros, mais fáceis. Tenho essa tendência de ir para a coisa mais arriscada.

FOLHA - Seus dois filmes anteriores somam oito indicações ao Oscar. Qual é sua expectativa para este?
MEIRELLES
- Acho que este não tem muito a cara do Oscar. É um filme mais autoral. Por outro lado, a [atriz] Julianne [Moore] está sempre mencionada nas listas prévias. Se alguém tiver alguma chance nesse filme, é ela, até porque já foi indicada quatro vezes, nunca ganhou e fez um trabalho sensacional em "Ensaio sobre a Cegueira". A Academia tem isso. Às vezes, eles fazem justiça.

FOLHA - Depois de "Cidade de Deus", você se voltou a um modelo de produções internacionais de orçamento médio e declinou das superproduções? Ter o corte final é condição para que faça um filme?
MEIRELLES
- Sim. Não vou dizer nunca, mas acho que dificilmente vou topar um projeto em que não tenha o corte final.


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