São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

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DA RUA
Auto-retrato de borracheiro

FERNANDO BONASSI
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No meio da estrada deserta, meu coração solitário só conta os carneirinhos mortos dos caminhões frigoríficos. Entardeceres dourados repetidos me enchem o saco de qualquer um. Essas mulheres peladas que, capazes de tudo, acenam das folhinhas nunca passearam por aqui. Então ficou encardido. Deixou pneus. Torço pela ereção dos pregos dispersos no asfalto. O que dos outros murcha me põe comida no prato. Dormiria num sofá abandonado não fosse minha cadela suja, melhor amiga do homem. Cheiro cola pra viajar tranquilo. Em todos os meus erros passo essa borracha negra.



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