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DA RUA
Auto-retrato
de borracheiro
FERNANDO BONASSI
˛
No meio da estrada deserta, meu coração solitário só
conta os carneirinhos mortos dos caminhões frigoríficos. Entardeceres dourados
repetidos me enchem o saco
de qualquer um. Essas mulheres peladas que, capazes
de tudo, acenam das folhinhas nunca passearam por
aqui. Então ficou encardido.
Deixou pneus. Torço pela
ereção dos pregos dispersos
no asfalto. O que dos outros
murcha me põe comida no
prato. Dormiria num sofá
abandonado não fosse minha cadela suja, melhor
amiga do homem. Cheiro
cola pra viajar tranquilo.
Em todos os meus erros
passo essa borracha negra.
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