São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

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Droga é assunto de vários longas

LEON CAKOFF
enviado especial a Veneza

Há filmes em Veneza decididamente contra as drogas. Alguns são ruins, obras da imaginação caótica e junkie, de um viciado evidente como Abel Ferrara, na competição com "New Rose Hotel".
O resultado é desastroso e incoerente como o discurso de um drogado pregando contra o fim do mundo. Outro que resulta nocivo e desastroso é "Celebrity" (Woody Allen). Ele comete o ultraje de expor uma suposta intimidade de Leonardo DiCaprio cheirando cocaína, fumando maconha e bebendo. Péssimo exemplo para os "teenagers" que o têm como ídolo.
Mas há coisas ótimas, como o filme da italiana Francesca Archibugi ("L'Albero delle Pere"), onde uma mãe se consome diante dos olhos dos filhos. "Pere", em italiano, é gíria para designar seringa.
Tem também a grata surpresa americana "Hurlyburly", de Anthony Drazan, uma overdose verborrágica situada nos bastidores luxuosos do próprio cinema, com a paranóica relação de quatro amigos, onde outra vez a cocaína representa o seu mais verdadeiro papel: o de um Rambo devastador.
De Portugal, a cocaína foi personagem da comédia de João Botelho, "Tráfico". Ela é acidentalmente descoberta na praia por uma família classe média, que assim ingressa em seu comércio.
Fica a dúvida sobre o real papel da cocaína no novo longa do consagrado e polêmico Emir Kusturica, que mostrou em competição o anárquico "Black Cat, White Cat".
Um mafioso cigano cheira durante o filme inteiro. Cheira-se como se bebe e fuma em seu longa, como se cada movimento fosse parte de uma mesma e contínua mobilização em busca do estopim de um grande barril de pólvoras.
O melhor enquadramento do sexo como droga poderosa veio com a apresentação especial do francês "L'Ennui" (O Tédio), de Cédric Kahn, inspirado no romance "La Noia", de Alberto Moravia.
Um professor de filosofia em crise matrimonial (Charles Berling) conhece uma adolescente gordinha (Sophie Guillermin), que acaba de matar um velho pintor de tanto transar com ele. O professor será a sua nova vítima sexual.



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