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MEMÓRIA
Agonia do mestre Kurosawa era antiga
do enviado a Veneza
Menos um mestre vivo do cinema, mais uma lenda para cultuar e
esquecer com o tempo. O impacto
da morte do genial Akira Kurosawa, desgraçadamente, é perene. O
mestre agonizava fazia tempo.
Não do mal da velhice, prevista e
ensaiada em inúmeros de seus
clássicos, mas do mal do ostracismo. Do abandono em vida.
Fui ao Japão atrás de Kurosawa
em 96, assim como fora a Roma
dez anos antes atrás de Fellini, outro gênio abandonado pela indústria do cinema e pelo público.
O motivo era o mesmo: pedir a
ele a cessão de um de seus maravilhosos desenhos a fim de comemorar os 20 anos da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
O primeiro encontro para discutir o assunto -e não poderia ser
melhor- foi marcado num minúsculo bar chamado "La Jette",
em homenagem ao curta homônimo do francês Chris Marker. A interlocutora foi uma antiga colaboradora do mestre.
A visita a Kurosawa ("que seria
bem formal", já me haviam explicado) esteve bem perto de acontecer. Sua debilitada saúde havia
piorado naquela semana de abril
de 96 em consequência de uma
queda do velho mestre em sua própria casa, quebrando duas costelas. Mesmo assim seus desenhos
foram colocados à disposição da
mostra, todos da sua safra para o
filme anterior, "Sonhos".
A disposição de trabalhar continuava inabalada, diziam-me seus
colaboradores. Kurosawa preparava um "remake" de seu próprio
filme "Barba Ruiva", de 1965.
A gloriosa carreira de Akira Kurosawa será encerrada pela lembrança desse filme em preto-e-branco que ele não refez.
(LC)
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