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CINEMA/ESTRÉIA
"OS QUERIDINHOS DA AMÉRICA"
Comédia romântica dirigida por Joe Roth foi feita para o público de Julia Roberts
Sátira desnatura-se em autocelebração
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
A única cena boa de "Os
Queridinhos da América" é
aquela em que Julia Roberts e
John Cusack acordam, depois de
uma noite de amor, e conversam
tapando a boca com os lençóis para não contaminar o ambiente
com o seu mau hálito matinal.
Essa cena vai contra uma extensa e incompreensível tradição
hollywoodiana: a dos beijos matinais apaixonados, cenas de amor
que desconhecem, em seu romantismo, o mau hálito e o mau
humor comuns a qualquer despertar (a falta de glamour, enfim).
De resto, o filme de Joe Roth, sério candidato a pior do ano, permanece fiel a uma das tradições
mais inglórias de Hollywood: a
das pseudo-auto-sátiras. Não que
Hollywood seja incapaz de uma
autocrítica. Vincent Minnelli
(com "Assim Estava Escrito" e "A
Cidade dos Desiludidos") e Billy
Wilder ("Crepúsculo dos Deuses") já conseguiram, mas seus filmes são a exceção que confirma
uma regra segundo a qual toda
autocrítica acaba se desnaturando
em autocelebração.
"Os Queridinhos da América"
começa prometendo flagrar a realidade dos bastidores da indústria
e acaba se revelando mais uma
comédia romântica ao gosto do
público cativo de Julia Roberts. O
potencial crítico do filme equivale
ao de uma revista de fofocas: não
há sátira aqui, apenas a revelação
de um previsível amontoado de
segredos íntimos e profissionais.
O hiato existente entre a imagem pública dos astros e sua vida
privada é o mote do roteiro burocrático de Billy Crystal e Peter Tolan. A dupla vai na contramão do
clássico de Wilder, "Crepúsculo
dos Deuses", a maior sátira que
Hollywood fez a si mesma.
Se seguisse o mote de Wilder, o
filme de Roth deveria ser protagonizado por Tom Cruise e Nicole
Kidman e trazer, no papel do espanhol, Antonio Banderas (seu
verdadeiro modelo) ou Penélope
Cruz, a suposta nova namorada
de Cruise.
Billy Cristal faz o assessor de imprensa encarregado de juntar o
recém-separado casal "queridinho da América", Gwen (Catherine Zeta-Jones) e Eddie (John Cusack), para a estréia do mais recente filme da dupla, dirigido por
um cineasta excêntrico (Christopher Walken) ao estilo Kubrick.
Os traumas de Eddie, o bofe espanhol de Gwen e a paixão da irmã e
assistente desta, Kiki (Roberts),
pelo antigo cunhado prometem
complicar a tarefa.
Protagonista, roteirista e produtor do filme, Crystal é o maior responsável por essa bomba. Nada é
pior, em cinema, do que uma sátira malfadada e pior do que uma
bem-sucedida.
Os Queridinhos da América
America's Sweethearts
Direção: Joe Roth
Produção: EUA, 2001
Com: Julia Roberts, Billy Crystal,
Catherine Zeta-Jones, John Cusack
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Belas Artes, Center Norte,
Ibirapuera, Interlagos, Lapa, Pátio
Higienópolis, Shopping D e circuito
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