São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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LIVROS/LANÇAMENTOS

"LERO-LERO" E "ADÍLIA LOPES - ANTOLOGIA"

Cacaso inaugura coleção

"Ás de Colete" resgata poetas inéditos e ausentes

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

O nome da coleção é "Ás de Colete", e seus primeiros títulos indicam o rumo do projeto das editoras Cosac & Naify e 7 Letras: ocupar o espaço onde a poesia está ausente, devolvendo aos leitores poetas esquecidos pelo mercado editorial -ou que por uma razão ou outra permaneceram inéditos. No primeiro caso está o mineiro Cacaso. No segundo, a portuguesa Adília Lopes.
Lopes, uma poeta de 42 anos, tem uma antologia de seus versos lançada, enquanto "Lero-Lero" reúne as poesias escritas por Cacaso (Antônio Carlos Ferreira de Brito, morto em 87, aos 43 anos) entre 1967 e 1985. Assim começa a "Ás de Colete".
"Nossa parceria está ligada à experiência na revista "Inimigo Rumor", e os nomes escolhidos para a coleção passam pelo elenco de autores com os quais a revista trabalhou", diz Carlito Azevedo, 41, coordenador da coleção, poeta e editor na 7 Letras.
"Em relação ao Cacaso, pensamos na sua ausência, no fato de sua produção não estar mais disponível", diz ele. "Adília foi outra escolha dos editores; queríamos de qualquer maneira lançá-la."
A poeta, em seu país, é considerada uma inovadora, estando muito próxima de Cacaso e, como diz a crítica literária Flora Süssekind, em posfácio escrito para o volume, ela adora contar histórias.
Um exemplo está no poema "Caprichos", que integra a antologia editada pela Cosac & Naify e 7 Letras: "Conheci uma menina/ muito caprichosa a comer/tinha dias que só comia chocolate/ou então ovos mexidos/diziam dela "está a chocolate'/como se diz de Picasso/que teve uma fase azul".

Química perversa
Cacaso, assim como Lopes, é também todo um programa. Ele surgiu como líder, ocupando o papel de ideólogo do que ficou conhecido como "geração mimeógrafo". Poetas que divulgavam seus poemas de uma maneira, em uma palavra do período, o final dos anos 70 e início dos 80, "alternativa".
"O lirismo de Cacaso estava em um ponto de adensamento", fala o crítico Davi Arrigucci Jr. "Sua morte, que aconteceu tão cedo, interrompeu esse processo. Ele possuía uma química perversa, um frescor juvenil, uma descoberta do mundo, uma ingenuidade malandra que brinca com os poetas românticos e os modernistas. Mas havia um negrume em meio a isso."
Quanto à "poesia marginal", Arrigucci comenta: "Eles estavam muito próximos dos primeiros modernistas. Havia uma graça, a novidade do cotidiano brasileiro, porque eram poetas militantes. Mas, nos versos de Cacaso, há ainda o gosto pela oralidade. E isso aparece nas letras de canções".
Cacaso foi letrista de Edu Lobo, Tom Jobim e Francis Hime, entre outros compositores. "Ele era um hippie que gostava de trabalhar", afirma Arrigucci.
E o que mais virá com a "Ás de Colete"? A resposta está com Carlito Azevedo: "A coleção manterá sua coerência. Planejamos o lançamento do peruano Antonio Cisneros, que, penso, é o maior poeta de língua espanhola vivo. O volume se chamará "Como uma Figueira no Campo de Golfe'".
Além de Cisneros, os leitores podem esperar ainda pelo norte-americano Frank O'Hara (1926-1966), que foi ligado à geração beat. O volume dedicado a ele receberá o título de "Uma Coca-Cola com Você".
"Queremos proporcionar uma leitura diferenciada e podemos ainda resgatar alguns poetas que ficaram distantes do público brasileiro", diz Azevedo. Esse é, enfim, o projeto. Bons momentos com a poesia.


LERO-LERO. De: Cacaso. Editora: Cosac & Naify e 7 Letras (coleção "Ás de Colete"). Quanto: R$ 35 (304 págs.).


ADÍLIA LOPES - ANTOLOGIA. De: Adília Lopes. Editora: Cosac & Naify e 7 Letras (coleção "Ás de Colete"). Quanto: R$ 28 (240 págs.).


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