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LIVROS/LANÇAMENTOS
"LERO-LERO" E "ADÍLIA LOPES - ANTOLOGIA"
Cacaso inaugura coleção
"Ás de Colete" resgata poetas inéditos e ausentes
MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL
O nome da coleção é "Ás de Colete", e seus primeiros títulos indicam o rumo do projeto das editoras Cosac & Naify e 7 Letras: ocupar o espaço onde a poesia está
ausente, devolvendo aos leitores
poetas esquecidos pelo mercado
editorial -ou que por uma razão
ou outra permaneceram inéditos.
No primeiro caso está o mineiro
Cacaso. No segundo, a portuguesa Adília Lopes.
Lopes, uma poeta de 42 anos,
tem uma antologia de seus versos
lançada, enquanto "Lero-Lero"
reúne as poesias escritas por Cacaso (Antônio Carlos Ferreira de
Brito, morto em 87, aos 43 anos)
entre 1967 e 1985. Assim começa a
"Ás de Colete".
"Nossa parceria está ligada à experiência na revista "Inimigo Rumor", e os nomes escolhidos para
a coleção passam pelo elenco de
autores com os quais a revista trabalhou", diz Carlito Azevedo, 41,
coordenador da coleção, poeta e
editor na 7 Letras.
"Em relação ao Cacaso, pensamos na sua ausência, no fato de
sua produção não estar mais disponível", diz ele. "Adília foi outra
escolha dos editores; queríamos
de qualquer maneira lançá-la."
A poeta, em seu país, é considerada uma inovadora, estando muito
próxima de Cacaso e, como diz a
crítica literária Flora Süssekind,
em posfácio escrito para o volume, ela adora contar histórias.
Um exemplo está no poema
"Caprichos", que integra a antologia editada pela Cosac & Naify e
7 Letras: "Conheci uma menina/
muito caprichosa a comer/tinha
dias que só comia chocolate/ou
então ovos mexidos/diziam dela
"está a chocolate'/como se diz de
Picasso/que teve uma fase azul".
Química perversa
Cacaso, assim como Lopes, é
também todo um programa. Ele
surgiu como líder, ocupando
o papel de ideólogo do que ficou
conhecido como "geração mimeógrafo". Poetas que divulgavam seus poemas de uma maneira, em uma palavra do período, o
final dos anos 70 e início dos 80,
"alternativa".
"O lirismo de Cacaso estava em
um ponto de adensamento", fala
o crítico Davi Arrigucci Jr. "Sua
morte, que aconteceu tão cedo,
interrompeu esse processo. Ele
possuía uma química perversa,
um frescor juvenil, uma descoberta do mundo, uma ingenuidade malandra que brinca com os
poetas românticos e os modernistas. Mas havia um negrume em
meio a isso."
Quanto à "poesia marginal",
Arrigucci comenta: "Eles estavam
muito próximos dos primeiros
modernistas. Havia uma graça, a
novidade do cotidiano brasileiro,
porque eram poetas militantes.
Mas, nos versos de Cacaso, há ainda o gosto pela oralidade. E isso
aparece nas letras de canções".
Cacaso foi letrista de Edu Lobo,
Tom Jobim e Francis Hime, entre
outros compositores. "Ele era um
hippie que gostava de trabalhar",
afirma Arrigucci.
E o que mais virá com a "Ás de
Colete"? A resposta está com Carlito Azevedo: "A coleção manterá
sua coerência. Planejamos o lançamento do peruano Antonio
Cisneros, que, penso, é o maior
poeta de língua espanhola vivo. O
volume se chamará "Como uma
Figueira no Campo de Golfe'".
Além de Cisneros, os leitores
podem esperar ainda pelo norte-americano Frank O'Hara (1926-1966), que foi ligado à geração
beat. O volume dedicado a ele
receberá o título de "Uma Coca-Cola com Você".
"Queremos proporcionar uma
leitura diferenciada e podemos
ainda resgatar alguns poetas que
ficaram distantes do público brasileiro", diz Azevedo. Esse é, enfim, o projeto. Bons momentos
com a poesia.
LERO-LERO. De: Cacaso. Editora: Cosac
& Naify e 7 Letras (coleção "Ás de
Colete"). Quanto: R$ 35 (304 págs.).
ADÍLIA LOPES - ANTOLOGIA. De: Adília
Lopes. Editora: Cosac & Naify e 7 Letras
(coleção "Ás de Colete"). Quanto: R$ 28
(240 págs.).
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