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"Foi das decisões mais pensadas"
Academia diz que escolha de Lessing estava "em discussão havia um tempo" e veio "no momento certo"
Opção foi considerada surpresa por causa de leitorado pequeno da escritora, que disse ter esquecido o anúncio ontem
DO ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT
Escritora de leitorado pequeno em relação ao sucesso de crítica e grande número de obras
publicadas (cerca de 50 títulos), Doris Lessing alcançou
notoriedade sobretudo em sua
abordagem da emancipação da
mulher, viés de sua obra intimamente ligado à sua vida.
Aos sete anos, foi enviada para um internato feminino. Antes dos 14, ela interrompeu sua
educação formal, trabalhando
em seguida como babá, telefonista, estenógrafa e jornalista.
Teve uma formação intelectual
autodidata, a exemplo da sul-africana Nadine Gordimer,
agora sua colega de Nobel.
Também como Gordimer,
Lessing voltou-se para questões como o racismo, sem falar
na sua militância comunista e
antinuclear. No entanto, acabou mais associada ao ideário
do movimento feminista. O que
não é surpresa. Mãe de dois filhos, certa vez declarou que as
mulheres da geração de sua
mãe viram suas vidas parar
após a maternidade. "Algumas
delas ficaram bem neuróticas."
A primeira aproximação com
o tema foi na semi-autobiográfica série "Children of Violence" (filhos da violência), publicada entre 1952 e 1969, em que
criou o que a Academia Sueca
chamou de "versão moderna
dos romances de formação das
escritoras do século 19". Com
"O Carnê Dourado", de 1962,
ela alcançou a fama criando
uma espécie de alter-ego.
Esquecimento
Horace Engdahl, da Academia, disse que o nome de Lessing "já estava em discussão havia algum tempo, e agora era o
momento [de premiá-la]". "Podemos dizer que foi uma das
decisões mais pensadas na história do Nobel", afirmou.
Mesmo tendo sido considerada um azarão, a autora disse
não ter se surpreendido. "Isso
[estar entre os cotados] era falado fazia 40 anos. Não se pode
ficar na expectativa todo ano",
comentou, sobre ter "esquecido" o anúncio e saído para ir ao
mercado -ela recebeu a notícia, de compras na mão, pela
imprensa, na porta de sua casa.
O italiano Umberto Eco, autor de "O Nome da Rosa", elogiou a escolha em Frankfurt: "É
uma ótima pessoa, certamente
merece o Nobel". Nicholas
Pearson, seu editor na Fourth
State, festejou o prêmio dizendo que seus livros "mudaram a
face da literatura pela descrição
da vida interior das mulheres".
Nem todos celebraram. Em
declaração ao jornal alemão
"Frankfurter Allgemeine",
Marcel Reich-Ranicki, importante crítico literário do país,
disse que a escolha foi "decepcionante". Para ele, que diz ter
lido "talvez três" livros de Lessing, sem ter se impressionado
com nenhum deles, o mundo literário anglo-saxônico tem escritores mais significativos.
Leia trecho de "O Sonho Mais Doce"
O jornalista EDUARDO SIMÕES viajou a convite
do Instituto Goethe de São Paulo.
Colaborou SYLVIA COLOMBO, da Reportagem Local
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