São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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Crítica/"Stardust - O Mistério da Estrela"

Excesso de efeitos visuais estraga fantasia

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

O cinema e todos os dispositivos audiovisuais que vieram depois dele -animação, vídeo, games, computação gráfica- realizaram o sonho da arte desde suas origens: poder transformar em imagem ao alcance coletivo mesmo os mais delirantes produtos da imaginação.
A fantasia não é nem nunca foi um território exclusivo dos filmes, mas encontra na sala escura, na tela grande e no som estereofônico condições quase perfeitas de transporte para outros mundos. É necessário, no entanto, mais que perfeição técnica para encantar.
"Stardust - O Mistério da Estrela" toma como ponto de partida uma história de Neil Gaiman, escritor britânico talentoso que restaura um universo fabuloso em suas ficções. O relato pertence à mesma tradição de sagas como "Guerra nas Estrelas" e "O Senhor dos Anéis", com mundos paralelos cheios de perigos, um herói, uma mocinha a ser salva e um final feliz que consiste na vitória do bem sobre o mal.
Estamos aqui no terreno do feitiço. Há uma bruxa que persegue uma loirinha (de fato uma estrela cadente), a fim de roubar seu coração, comê-lo e assim ganhar a vida eterna. Há um jovem rapaz também encantado pelos eflúvios da paixão. E, por fim, o filho de um rei enfeitiçado pela ambição do poder, capaz de eliminar seus irmãos para conquistar o trono.
Por outro lado, a história busca um selo de nobreza ao fazer referências reiteradas a personagens e situações das tragédias de Shakespeare: "Hamlet", na figura do rei morto e da disputa pelo trono, e "Macbeth", no trio de feiticeiras. E o próprio Shakespeare reaparece como capitão de um navio fantasma.
Mas o problema desses filmes carregados de efeitos especiais acaba consistindo naquilo que eles mais investem. Tudo é articulado por uma lógica inflacionária que visa constantemente a saturação total dos sentidos.
Aqui, mais uma vez, o ritmo incessante das peripécias, a música melosa que nunca pára de tocar e o excesso visual roubam do espectador o direito de fantasiar. E o feitiço vira contra o feiticeiro quando essa magia sufoca a mágica da imaginação.


STARDUST - O MISTÉRIO DA ESTRELA
Direção:
Matthew Vaughn
Produção: Inglaterra/EUA, 2007
Com: Charlie Cox, Sienna Miller
Quando: em cartaz nos cines Anália Franco, Bristol e circuito
Avaliação: ruim


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