São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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Música - Crítica/"Clássicos do Funk" e "Neo-Funk"

Coletâneas apontam herança do pancadão

Discos reúnem de Claudinho e Bucheca a Bonde do Rolê

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Era difícil ser adolescente no Rio em 1995 e não ouvir o Big Mix, programa do DJ Marlboro na RPC FM; que dirá pensar que o funk carioca, inculto e belo, viraria tendência pop para Diplo, M.I.A. e outros nomes da hora.
A alquimia era fácil: miami bass, melodia de domínio público, um refrão, tinha-se "rap".
E quando o morro quer dançar, não adianta purista explicar o que é funk.
Catarse marginal, o funk seria descoberto pelos instruídos, que o adaptariam ao culto classe média. Eis que surge "Clássicos do Funk" e "Neo-Funk". Pena que o primeiro tenha um encarte pobre para sua elogiável perspectiva histórica.
Abre com o antêmico "Rap da Felicidade", dos MCs Cidinho e Doca, talvez o mais bem-sucedido da geração, e fecha com "Feira de Acari", de MC Batata -de 1990, que precedeu a "onda" vinda com a RPC.
Em "Bonde da CDD", Cidinho e Doca ainda jogam partido alto e sutis louvações ao "movimento", ou seja, ao tráfico -o que depois eclodiria no "proibidão", o lado gangsta do funk.
A se lamentar, a ausência do "Rap do Borel", de William e Duda, que, tocado à exaustão, varreu 1995.
Mas não se escondia a incipiência, gritante nos mais românticos. Se Buchecha fazia a ótima "Nosso Sonho", Claudinho, morto em 2002, era tragicamente desafinado. Marcinho, por sua vez, era piegas, fanho, sofrível.
Só que tudo que se dança vira ouro, e aí vieram os recriadores -o funk alternativo. Referências cult, piadas mais rebuscadas, ou só tosca irreverência envenenada nos samplers.
Curado pelo DJ Chernobyl, da gaúcha Comunidade Ninjitsu (que iniciou a onda), o CD coleta pérolas do gaúcho Edu K, dos paranaenses Bonde do Rolê e Impostora, os ótimos cearenses do Montage e até cariocas, como Turbo Trio e MC HC's -que resgatam Cidinho.
Se vale? Óbvio. Não cabe purismo no pancadão, gênero que desde o batismo era uma incorreção. Perde-se em sociologia, ganha-se em baile, e a batida da favela enfim pode se orgulhar de ter o seu merecido lugar.


CLÁSSICOS DO FUNK e NEO-FUNK
Artista:
Vários
Gravadora: Som Livre
Quanto: R$ 29 (cada um)
Avaliação: bom ("Neo Funk") e ótimo ("Clássicos do Funk")


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