|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Música - Crítica/"Clássicos do Funk" e "Neo-Funk"
Coletâneas apontam herança do pancadão
Discos reúnem de Claudinho e Bucheca a Bonde do Rolê
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Era difícil ser adolescente no Rio em 1995 e não
ouvir o Big Mix, programa do DJ Marlboro na RPC
FM; que dirá pensar que o funk
carioca, inculto e belo, viraria
tendência pop para Diplo,
M.I.A. e outros nomes da hora.
A alquimia era fácil: miami
bass, melodia de domínio público, um refrão, tinha-se "rap".
E quando o morro quer dançar,
não adianta purista explicar o
que é funk.
Catarse marginal, o funk seria descoberto pelos instruídos,
que o adaptariam ao culto classe média. Eis que surge "Clássicos do Funk" e "Neo-Funk".
Pena que o primeiro tenha
um encarte pobre para sua elogiável perspectiva histórica.
Abre com o antêmico "Rap da
Felicidade", dos MCs Cidinho e
Doca, talvez o mais bem-sucedido da geração, e fecha com
"Feira de Acari", de MC Batata
-de 1990, que precedeu a "onda" vinda com a RPC.
Em "Bonde da CDD", Cidinho e Doca ainda jogam partido
alto e sutis louvações ao "movimento", ou seja, ao tráfico -o
que depois eclodiria no "proibidão", o lado gangsta do funk.
A se lamentar, a ausência do
"Rap do Borel", de William e
Duda, que, tocado à exaustão,
varreu 1995.
Mas não se escondia a incipiência, gritante nos mais românticos. Se Buchecha fazia a
ótima "Nosso Sonho", Claudinho, morto em 2002, era tragicamente desafinado. Marcinho, por sua vez, era piegas, fanho, sofrível.
Só que tudo que se dança vira
ouro, e aí vieram os recriadores
-o funk alternativo. Referências cult, piadas mais rebuscadas, ou só tosca irreverência
envenenada nos samplers.
Curado pelo DJ Chernobyl,
da gaúcha Comunidade Ninjitsu (que iniciou a onda), o CD
coleta pérolas do gaúcho Edu
K, dos paranaenses Bonde do
Rolê e Impostora, os ótimos
cearenses do Montage e até cariocas, como Turbo Trio e MC
HC's -que resgatam Cidinho.
Se vale? Óbvio. Não cabe purismo no pancadão, gênero que
desde o batismo era uma incorreção. Perde-se em sociologia,
ganha-se em baile, e a batida da
favela enfim pode se orgulhar
de ter o seu merecido lugar.
CLÁSSICOS DO FUNK e NEO-FUNK
Artista: Vários
Gravadora: Som Livre
Quanto: R$ 29 (cada um)
Avaliação: bom ("Neo Funk") e ótimo ("Clássicos do Funk")
Texto Anterior: Crítica/"Desbravadores": Aventura com ares de HQ remete à violência atual Próximo Texto: Crítica/"The New Bossa Nova": Em CD antiestresse, Luciana Souza vira pop Índice
|