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Mulheres de 30 renovam a dramaturgia carioca
Peças de Daniela Pereira, Carla Faour e Alessandra Colasanti estão em cartaz no Rio e em SP
Temas tratados por elas vão da verborragia acadêmica à inconseqüência adulta; Daniela e Carla já foram indicadas ao Prêmio Shell
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma é flamenguista roxa, fã
de Kid Abelha, soma três indicações ao Prêmio Shell (o mais
importante do teatro brasileiro) em quatro anos e atualmente escreve para Marco Nanini.
Outra é uma atriz que largou
o jornalismo por ter um estilo
"barroco, metafórico" e, na estréia em dramaturgia, emplacou uma menção ao mesmo
prêmio. A terceira já teve loja
em Ipanema, é formanda em
teoria do teatro e, lá pelas tantas, descobriu que "sua viagem
como autora" era um "discurso
intelectual blasé delirante".
Os perfis são de Daniela Pereira de Carvalho, 30, Carla
Faour, 38, e Alessandra Colasanti, 33, dramaturgas respaldadas por público e crítica que
ajudam a renovar a cena do Rio.
Após passagem bem-sucedida pela cia. Os Dezequilibrados
(em que se destacou com "Vida,
O Filme"), Daniela chamou
atenção em 2005, com "Tudo É
Permitido", sobre bem-nascidos que roubam carros por lazer. Em seguida, "Não Existem
Níveis Seguros para o Consumo destas Substâncias" fazia
um retrato desolado de uma repartição pública e dava à autora
a segunda indicação ao Shell:
"É legal ir à festa [do prêmio]
e beber champanhe, mas, na
prática, não sei se muda algo. O
patrocinador se liga em retorno, e autor não dá retorno".
A agenda dela para 2009 sugere que a fala é pura modéstia:
há projetos com Paulo de Moraes, da Armazém Cia. de Teatro (um "quase thriller" sobre
um casal em crise), e Hector
Babenco (a adaptação de
"Hell", diário de uma frívola
teen francesa), além da parceria com Nanini em "La Paz", em
que um homem vai à Bolívia
buscar o filho desaparecido.
É fácil criticar
Em cartaz em São Paulo com
o musical "Tom e Vinicius", Daniela acusa "dificuldades estruturais" no teatro carioca, mas
sai em sua defesa: "É muito fácil dizer que o teatro daqui é
ruim. O Rio passou por anos de
governos massacrantes. Não há
política cultural efetiva, o que
cria dificuldades para que surja
uma produção plural".
Mesmo julgando "brutalmente distintas, formal e tematicamente" as dramaturgias de
sua geração, ela vê "um conjunto de referências parecido".
Para Carla, indicada ao Shell
2008 por "A Arte de Escutar"
(em que uma confidente nata
ouve intrigas e desabafos), "são
as nossas dificuldades que nos
unem, a tentativa de produzir
nossos textos sem patrocínio".
Em cartaz com "Nenê Bonet", adaptação de romance-folhetim de Janete Clair, ela tem
na manga "Açaí e Dedos" (investigação da falta de comunicação numa família) e "Mulherada" ("revisão da figura feminina de Eva a Madonna")
-além de um convite para verter "Arte" em romance.
Alessandra, que escreveu e
atua em "Anticlássico" (na pele
da Bailarina de Vermelho), mix
de sátira à retórica acadêmica e
pensata sobre a arte, vê-se como parte de um "fenômeno de
resistência". "Os apoios institucionais são mínimos. Quem
produz um trabalho de reflexão
artística fica sufocado, pois não
conta com a bilheteria."
Foi Daniela, curadora de um
festival de teatro em 2006, a
primeira a dar trela à bailarina
intelectualóide. A peça curta de
então foi redimensionada e se
desdobrou em blog, vídeos e intervenções -incluindo uma
prevista para a Bienal de SP.
TOM E VINICIUS
Onde ver: teatro Copa Airlines (av. Rebouças, 3.970, SP, tel. 0/xx/11/4003-2330); sex. e sáb, às 21h30; dom., às
18h; até 14/12; de R$ 70 a R$ 100; censura 10 anos
NENÊ BONET
Onde ver: teatro 1 do CCBB (r. 1º de
Março, 66, Rio, tel. 0/xx/21/3808-2020); qua. a dom., às 19h; até 16/11;
R$ 10; censura 14 anos
ANTICLÁSSICO
Onde ver: Casa de Cultura Laura Alvim
(av. Vieira Souto, 176, Rio, tel. 0/xx/
21/ 2267-1647); ter. e qua., às 21h; até
22/10; R$ 25; censura 12 anos
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