São Paulo, segunda, 12 de outubro de 1998

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MODA
Temporada de desfiles termina em Milão

ERIKA PALOMINO
enviada especial a Milão

Terminou anteontem a temporada de desfiles do prêt-à-porter de Milão, primavera-verão 99. O circo da moda já está instalado em Paris, onde as maisons desfilam suas coleções até o dia 20.
Nesse final, importantes marcas italianas mostraram suas propostas, em estilos bastante diferentes.
A pedra preciosa do prêt-à-porter de Milão chama-se Marni. É o chamado "talk of the town", a marca que se transformou na coqueluche entre "stylists" e editores de moda depois da última temporada ("mídia junkies" da moda podem se lembrar das botas tipo pata de cachorro gigantes, presentes em todos os editoriais, e das campanhas na "Vogue Itália").
Até a sisuda jornalista Susy Menkes, do jornal "International Herald Tribune" usou, no desfile, um casaco de inverno Marni.
Pois na sexta-feira, às 9h30, lá estávamos todos nós, empolgados e curiosos. Recebidos com café e pássaros cantando, em clima de manhã, num prédio do centro histórico de Milão, vimos que a Marni não decepcionou (apesar do desfile um pouco alongado).
Desenhado pela estilista Consuelo Castiglioni, com styling (edição e imagem) de Lucinda Chambers, a marca, uma conhecida casa de couro, conseguiu sintetizar o "mood" da temporada, com um hippismo romântico, leve, elaborado e tranquilo, em atmosfera "Terceiro Milênio", cheio de ideais de conforto e beleza.
O toque de futurismo/esporte ficava por conta de jaquetas de couro verde-água levemente brilhantes e maquiagem em amarelo metalizado; as meninas usavam tamancos com pele de vaca.
Ironicamente, a modernidade em Milão não vem da agressividade e do choque, mas da delicadeza e da poesia. Ao som de antigas caixinhas de música, as roupas compunham uma silhueta longa, em que o vestido é a peça mais importante.
A imagem se forma de muita sobreposição e efeito trompe-l'oeil de vestidos que parecem saia e blusa. As saias em si, essas são abaixo do joelho, enquanto os vestidos são acima do tornozelo, tudo muito à vontade, sem regras.
Casacos de finos feltros em cores lavadas completam calças-pijama em algodão e vestes de musselina, esvoaçantes, enquanto um poncho branco compõe com texturas o look de Gisele Bundchen.
Cores marcantes: lilás, pink, verde, azul e amarelo. A estampa de pequenas flores vermelhas sobre o branco amarra a coleção.
Missoni foi outra satisfação da sexta, com seus grafismos artísticos (Delaunay, Frank Stella, entre outros) a serviço de uma moda simples, segura e extremamente estética. Roupa bonita mesmo.
Sempre com listras horizontais, a marca cria uma mulher alongada. Uma espécie de boina segura os cabelos, lembrando vagamente a imagem de nostálgicas peregrinas.
Vestidos e saias são novamente influentes, ganhando bordados (em pontos grandes) ou camadas em cores diferentes, misturando o cru a tons como o lilás, o verde e o salmão. A saia-lenço é uma forma que aparece, encaminhando o desfile para terminar em longos sem manga com fios de lurex.
Dolce & Gabanna, já um clássico milanês, esperado por todos, não empolgou tanto, com idéias um pouco desgastadas.
Apresentou sua conhecida silhueta em forma de violão, dessa vez com tecido holográfico duro, em verde, azul, amarelo e vermelho, que acabou virando um inconveniente plástico que dobrava embaixo, atrapalhando o andar.
Estruturas de corseletes se aplicavam a eles, em looks em crepe pesado preto, variando para largas faixas horizontais, a lembrar a amarração dos quimonos, com apliques de pequenas pérolas.
Outros orientalismos vêm nas capas estampadas com bordado em lilás, verde ou dourado, evoluindo para mangas-morcego em preto. O desfile termina com vestidos-sereia de duas caudas, em musselina de seda cor-de-pele, em cinza esfumaçado e bege, com shortinhos dourados por baixo.
Alberta Ferretti mostrou coleção de formas retas e contemporâneas, com o marrom como cor base e o vermelho escuro de contraponto.
Ilustrações feitas de pontos de costura ao contrário eram a principal idéia, mas o conjunto cansou por sua ambição cool. De toda forma, roupa de extrema qualidade, padrão italiano.
O todo-poderoso Giorgio Armani encerrou a temporada na tarde de sábado, em Milão, com zilhões de variações em torno do cinza e das pantalonas com forros transparentes sobrepostos. Blazer, tomara-que-caia e blusas com echarpes completavam o verão supercomercial do estilista.



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