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O mal
FERNANDO BONASSI
Estou fazendo o mal. Religiosamente. Jogo terra nos
machucados, mudo ordens, inverto processos.
Abuso do que é fraco, pobre e quase morto. A morte.
Nem vejo a morte, cortando tudo em pedaços irreconciliáveis. Compro e não
pago. Empresto e não devolvo. Esfrio e esquento pra
ver trincar. Passo a gilete do
julgamento em cada gesto,
em cada desejo. Mordo a
boca que me beija. A fome
da minha fome que sou eu
assassino. Só espero a hora
em que não há de sobrar
uma gota de inocência que
seja. Fiquei nisso. Deus me
livre e me abençoe na pureza da minha maldade.
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