São Paulo, quarta, 12 de novembro de 1997.




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O mal

FERNANDO BONASSI

Estou fazendo o mal. Religiosamente. Jogo terra nos machucados, mudo ordens, inverto processos. Abuso do que é fraco, pobre e quase morto. A morte. Nem vejo a morte, cortando tudo em pedaços irreconciliáveis. Compro e não pago. Empresto e não devolvo. Esfrio e esquento pra ver trincar. Passo a gilete do julgamento em cada gesto, em cada desejo. Mordo a boca que me beija. A fome da minha fome que sou eu assassino. Só espero a hora em que não há de sobrar uma gota de inocência que seja. Fiquei nisso. Deus me livre e me abençoe na pureza da minha maldade.



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