São Paulo, Sexta-feira, 12 de Novembro de 1999
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CENTENÁRIO
Cidade natal do poeta é "decorada" com textos, recebe o Fórum Nacional Itabira no Século 21 e abriga projeto de Niemeyer
Itabira antecipa 100 anos de Drummond

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte


Itabira (MG), terra natal de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), começa a se preparar para tentar se transformar em referência mundial para estudiosos e admiradores da obra do poeta, cujo centenário de nascimento será em 2002.
O Fórum Nacional Itabira no Século 21 - Centenário de Drummond reúne especialistas em literatura, como o escritor Affonso Romano de Sant'Anna, o professor de literatura da Universidade de São Paulo Augusto Massi, o tradutor e genro do poeta, Manuel Graça Etcheverry, e seu neto, Pedro Graça Drummond.
Ao mesmo tempo, a Prefeitura de Itabira está montando um roteiro poético sobre Drummond. Os locais da cidade, mencionados em seus poemas, estão recebendo placas com os poemas originais.
A iniciativa começou em setembro de 97 com uma homenagem ao santeiro Alfredo Duval, citado em mais de uma poesia de Drummond. O objetivo é incluir um total de 33 locais no roteiro.
Segundo a coordenadora do projeto, Maria Lúcia Gazire de Pinho Tavares, a maioria dos poemas são de "Boitempo". É o caso, por exemplo, dos cemitérios do Cruzeiro e do Rosário, que são títulos de duas poesias do livro, mas há também obras famosas como "José".
Para o professor Antônio Sérgio Bueno, estudioso da obra do poeta, o roteiro integra Drummond novamente a sua cidade natal, além de dar uma nova visão de Itabira aos visitantes. "Sob o olhar de Drummond, a cidade se transfigura e se valoriza", disse.

Memorial
A festa do centenário começou há um ano, com a inauguração do Memorial Carlos Drummond de Andrade, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
O memorial está instalado no pico do Amor, cenário do poema "Ausência", que começa da seguinte maneira: "Subir ao pico do Amor/ e lá em cima/ sentir presença de amor".
O projeto, doado por Niemeyer e patrocinado pela Fundação Vale do Rio Doce, inclui uma sala de convenções para 50 pessoas, salas de apoio e uma galeria para exposição do acervo fotográfico e de informações sobre o poeta.
Em frente ao prédio, Niemeyer projetou um monumento na forma de uma folha de papel retorcida para abrigar o poema "Confidência do Itabirano".
Para o professor Bueno, esse poema é uma "síntese" de sua relação com a cidade natal. "Itabira é apenas uma fotografia na parede, mas como dói!" são seus versos finais.
"Drummond voltou poucas vezes à cidade, e alguns moradores achavam que ele tinha menosprezo, mas isso não era verdade. Ele dizia que pensava e sonhava "itabiranamente" e, por isso, não precisava ir a Itabira", afirmou o professor.
Drummond viveu na cidade com a família até os 16 anos. Durante esse período, esteve internado em colégios de outras cidade.
Depois de formado em farmácia em Belo Horizonte, tentou ser fazendeiro e professor em Itabira, em 1926, mas, logo depois, voltou à capital mineira para trabalhar em um jornal.


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