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ERUDITO
Concerto comandado pelo maestro John Neschling teve Villa-Lobos, Jacob do Bandolim e Brahms
Grandeza da Osesp em Nova York só será medida mais tarde
ARTHUR NESTROVSKI
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
A dimensão real desse concerto só se vai medir daqui a
algum tempo: em meses, ou anos.
Quando o maestro Neschling voltou pela quinta vez ao palco, suado e desgrenhado, com a linda orquestra de frente para a platéia e
as mil e tantas pessoas que enchiam o Avery Fischer Hall, em
Nova York, anteontem, aplaudindo de pé e pedindo bis, a impressão que se tinha era de que a
Osesp havia dado início, ali mesmo, a outro ciclo de vida.
E como ela representa, hoje, a
música brasileira, ao que parece
somos todos nós que, nalguma
medida, temos vida nova pela
frente.
Que o bis tenha sido o "Prelúdio" das "Bachianas Brasileiras nš
4", de Villa-Lobos (1887-1959), fazia, então, todo sentido. Não apenas porque é uma peça tão conhecida do repertório pouco conhecido da nossa música, mas também
porque:
1) as cordas mereciam este presente, depois do que fizeram no
Brahms;
2) o programa abriu com o "Uirapuru", também de Villa-Lobos,
e o bis fechava, portanto, o círculo
simbólico da tarde, já tão cheia de
símbolos.
O próprio "Uirapuru" carregava sua massa de alusões. Foi a
mesma peça que a Osesp tocou no
histórico concerto em Buenos Aires, há dois anos, ponto alto de
sua primeira viagem internacional, pela América Latina.
E se naquela ocasião já se encenava a reinvenção de Villa-Lobos
como grande compositor -depois de décadas sem uma orquestra que lhe fizesse justiça-, esse
"Uirapuru" agora, no Lincoln
Center, foi como o rito de passagem dos nossos índios de fraque,
assumindo deveres e direitos da
vida adulta.
Levou alguns minutos, três ou
quatro. Depois, aconteceu. A música passou para outro estágio.
Lindos solos de Bridget Bolliger
(flauta) e do spalla Cláudio Cruz,
em particular.
Depois disso, com a orquestra
senhora da sala, foi a vez dos irmãos Assad solarem o "Concerto
para Dois Violões, Cordas e Percussão" de Marlos Nobre (1939).
Solaram com a fluência e entrosamento de sempre.
E, como sempre, foram prejudicados pela amplificação. Na Sala
São Paulo, não se escutava os violões. Aqui, ouvia-se bem -mas
com timbres falsos (segunda e terceira cordas transfiguradas). A
música, de sua parte, faz o que pode, para se sustentar na vizinhança grandiosa de Villa-Lobos e
Brahms.
Um arranjo incrível de "Noites
Cariocas" (Jacob do Bandolim),
no bis, com os violões à toda, serviu para encerrar as brasilidades
explícitas.
Segunda parte: a "Segunda Sinfonia" de Brahms (1833-97). Não
é o que se espera de uma orquestra brasileira. Mas John Neschling
só cresce nessas horas de perigo.
Regendo assim, com o mundo e
Brahms por testemunha (e os críticos nova-iorquinos?), entrou de
corpo inteiro na música e fez a
Osesp tocar com uma vibração
nova.
As coisas foram de bom para
melhor e de melhor para excelente, até o exuberante "Allegro con
Spirito". Muito espírito -e é
mesmo o que se espera, agora, de
uma orquestra brasileira digna do
nome.
Resumo do ovacionado concerto: uma grande orquestra brasileira. O que fizer daqui para a frente
vai definir muita coisa, mas o que
já fez define o que nós somos. Para os outros e para nós mesmos,
na Sala São Paulo ou na Broadway
iluminada, depois da bênção da
chuva leve, no fim da tarde de domingo.
Avaliação:
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
O jornalista Arthur Nestrovski viajou a
convite da Osesp.
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