São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 2002

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Mostra "Um Só Pecado" reúne em SP autores de um filme só; raros, quatro longas têm cópias novas

FILHOS ÚNICOS

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"É minha única obra maldita. Estreou no Carnaval e não foi vista por ninguém", diz o humorista, escritor, artista plástico e músico Jô Soares, sobre "O Pai do Povo" (1976), único filme que leva sua assinatura como diretor.
O título abre hoje em São Paulo a mostra "Um Só Pecado". Ao lado dele estão outros 23 filmes que permanecem como únicas realizações no cinema de seus autores.
Do clássico "Limite" (1931), de Mário Peixoto, ao recente "Crede-Mi" (1997), de Bia Lessa e Dany Roland, a seleção reúne diretores que dedicaram a vida ao cinema -apesar da obra de volume minúsculo, caso de Peixoto- e aqueles que flertaram com a arte de filmar no intervalo de uma carreira no teatro (José Celso Martinez Corrêa, Antunes Filho), ou na música (Caetano Veloso, Jorge Mautner), entre outros exemplos.
"O Pai do Povo" é uma comédia "sobre um país pobre que tem a sorte de ter a matéria-prima", na definição de seu diretor. Depois da explosão de três bombas atômicas no planeta, um habitante da ilha Silvestria, "que é o Brasil em miniatura", segundo Jô, transforma-se no único homem fértil da Terra. A partir daí, ocorrem intrigas políticas e econômicas.
Para promover as duas sessões do longa (uma para convidados, hoje, e outra para o público, no dia 17), o Sesc, que organiza o festival, financiou uma cópia do filme, que tinha somente negativos, na Cinemateca do MAM, no Rio.
Foram feitas novas cópias de três outros filmes: "Cleo e Daniel", do escritor Roberto Freire, "Gimba - Presidente dos Valentes", do diretor teatral Flávio Rangel, e "Compasso de Espera", do encenador Antunes Filho.
Antunes planeja fazer um segundo longa. "Mas preciso pensar bem no que filmar, porque não quero falar bobagem. Gosto do cinema que tem razão de ser."
O diretor classifica "Compasso de Espera" (1973) como uma espécie de crítica e autocrítica. "Eu era da turma do [restaurante paulistano" Gigetto. Todo mundo discutia e não fazia nada. Coloquei tudo no filme, o patrulhamento, o blablablá e tratei do negro com suas contradições."
O longa de Antunes Filho aborda um triângulo amoroso formado por um negro e duas brancas. "Naquela época, eu estava muito influenciado por Godard. Hoje, faria algo mais cinematográfico, menos palavroso."
Antunes afirma que o cinema é "exaustivo". "Quando você filma, fica fora de si." Mais ainda nas condições de produção de "Compasso de Espera": "Eu tinha de varrer, limpar, lavar copo, prato. Da próxima vez quero um pouco mais de infra-estrutura. Luxo, não, porque o luxo estraga tudo".
Única mulher na mostra, Paula Gaitán, viúva de Glauber Rocha, pretende lançar o documentário "Uaká" (1988) no ano que vem. Premiado em festivais, o filme nunca estreou. "Ele ficou pronto numa época muito ruim para o cinema brasileiro", diz Gaitán. "Mas estou tranquila, porque é supercontemporâneo."
Gratuita, a mostra "Um Só Pecado" desenha um novo cartão-de-visitas para o Cinesesc, endereço das sessões. "O objetivo é valorizar uma programação menos comercial", diz o diretor de programação Luiz Alberto Zakir.


UM SÓ PECADO. Mostra de realizadores de um único filme. Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075, tel. 0/xx/11/3082-9213). Quando: de amanhã a 23/12. Hoje, só para convidados. Quanto: grátis.



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