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Mostra "Um Só Pecado" reúne em SP autores de um filme só; raros, quatro longas têm cópias novas
FILHOS ÚNICOS
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
"É minha única obra maldita.
Estreou no Carnaval e não foi vista por ninguém", diz o humorista,
escritor, artista plástico e músico
Jô Soares, sobre "O Pai do Povo"
(1976), único filme que leva sua
assinatura como diretor.
O título abre hoje em São Paulo
a mostra "Um Só Pecado". Ao lado dele estão outros 23 filmes que
permanecem como únicas realizações no cinema de seus autores.
Do clássico "Limite" (1931), de
Mário Peixoto, ao recente "Crede-Mi" (1997), de Bia Lessa e Dany
Roland, a seleção reúne diretores
que dedicaram a vida ao cinema
-apesar da obra de volume minúsculo, caso de Peixoto- e
aqueles que flertaram com a arte
de filmar no intervalo de uma carreira no teatro (José Celso Martinez Corrêa, Antunes Filho), ou na
música (Caetano Veloso, Jorge
Mautner), entre outros exemplos.
"O Pai do Povo" é uma comédia
"sobre um país pobre que tem a
sorte de ter a matéria-prima", na
definição de seu diretor. Depois
da explosão de três bombas atômicas no planeta, um habitante
da ilha Silvestria, "que é o Brasil
em miniatura", segundo Jô, transforma-se no único homem fértil
da Terra. A partir daí, ocorrem intrigas políticas e econômicas.
Para promover as duas sessões
do longa (uma para convidados,
hoje, e outra para o público, no
dia 17), o Sesc, que organiza o festival, financiou uma cópia do filme, que tinha somente negativos,
na Cinemateca do MAM, no Rio.
Foram feitas novas cópias de
três outros filmes: "Cleo e Daniel", do escritor Roberto Freire,
"Gimba - Presidente dos Valentes", do diretor teatral Flávio Rangel, e "Compasso de Espera", do
encenador Antunes Filho.
Antunes planeja fazer um segundo longa. "Mas preciso pensar
bem no que filmar, porque não
quero falar bobagem. Gosto do cinema que tem razão de ser."
O diretor classifica "Compasso
de Espera" (1973) como uma espécie de crítica e autocrítica. "Eu
era da turma do [restaurante paulistano" Gigetto. Todo mundo
discutia e não fazia nada. Coloquei tudo no filme, o patrulhamento, o blablablá e tratei do negro com suas contradições."
O longa de Antunes Filho aborda um triângulo amoroso formado por um negro e duas brancas.
"Naquela época, eu estava muito
influenciado por Godard. Hoje,
faria algo mais cinematográfico,
menos palavroso."
Antunes afirma que o cinema é
"exaustivo". "Quando você filma,
fica fora de si." Mais ainda nas
condições de produção de "Compasso de Espera": "Eu tinha de
varrer, limpar, lavar copo, prato.
Da próxima vez quero um pouco
mais de infra-estrutura. Luxo,
não, porque o luxo estraga tudo".
Única mulher na mostra, Paula
Gaitán, viúva de Glauber Rocha,
pretende lançar o documentário
"Uaká" (1988) no ano que vem.
Premiado em festivais, o filme
nunca estreou. "Ele ficou pronto
numa época muito ruim para o cinema brasileiro", diz Gaitán.
"Mas estou tranquila, porque é
supercontemporâneo."
Gratuita, a mostra "Um Só Pecado" desenha um novo cartão-de-visitas para o Cinesesc, endereço das sessões. "O objetivo é valorizar uma programação menos
comercial", diz o diretor de programação Luiz Alberto Zakir.
UM SÓ PECADO. Mostra de realizadores
de um único filme. Onde: Cinesesc (r.
Augusta, 2.075, tel. 0/xx/11/3082-9213).
Quando: de amanhã a 23/12. Hoje, só
para convidados. Quanto: grátis.
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