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São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2003

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"THE DIARY OF ALICIA KEYS"

Alicia Keys canta pela vitalidade do soul

JON PARELES
DO "NEW YORK TIMES"

O século 21 chegou acompanhado por um revival do soul, movido por compositores jovens e pelo reconhecimento tardio dos músicos dos anos 60. Mas olhar para trás é mais fácil do que andar para frente. Em 2003, cantores de soul que estão por aí há muitos anos, como Aretha Franklin, Al Green e Howard Tate, lançaram álbuns em que aplicam suas vozes magníficas a canções apenas medianas. Foi preciso "The Diary of Alicia Keys", o segundo álbum da cantora, para provar que é possível continuar a compor coisas de valor no soul.
Na maior parte do álbum, Keys, 22, volta ao que faziam os cantores soul clássicos: mergulhar nas esperanças e nos tormentos do amor com uma voz cheia de garra e canções bem definidas. Lançado em 2001, seu álbum de estréia, "Songs in a Minor", premiado com o Grammy e que vendeu 5 milhões de cópias, também tinha bases no soul, tanto assim que um refrão antigo de James Brown estava por trás de "Fallin", a música que fez sua carreira deslanchar. Com "Fallin" e "A Woman's Worth", Keys criou o personagem que continua a representar em "The Diary of Alicia Keys": uma mulher disposta a abrir mão de tudo pelo amor e que quer o mesmo de volta.
"The Diary of Alicia Keys" é profundamente imbuído de romantismo, focando uma cantora que anseia ou luta para ficar ao lado de seu homem. A guerra dos sexos e as brigas entre garotas sempre presentes no hip hop e no rhythm and blues não combinam com Alicia Keys, apesar de seu álbum de estréia, que a apresenta como uma cantora qualquer.
Keys possui o talento vocal e a ambição necessários para evocar cantoras como Aretha Franklin, Betty Wright, Ann Peebles e Gladys Knight. Em "The Diary of Alicia Keys", ela faz a transição do r&b para o soul sem qualquer dificuldade. Após uma introdução de piano quase clássica, ouvimos o rhythm and blues de "Karma", com uma batida rítmica da velha guarda, refrão em tom sombrio e arpejos de violino clássico. "Não brinque comigo", diz Keys, irada e chorosa, ao homem que a maltratou mas agora quer voltar.
Em seguida, ela colabora com o mago do ritmo do hip hop, Timbaland, em "Heartburn". Como uma máquina do tempo, a faixa deixa Alicia Keys exatamente onde ela quer ir. Ela refaz um sucesso de 1970 de Gladys Knight, "If I Were your Woman", e faz duas homenagens diretas à Aretha Franklin de "A Natural Woman".
Ela recria as sedosas baladas soul de meados dos anos 70 com "You Don't Know my Name". Os vocais gemem docemente, o piano traz torrentes de notas, como Liberace, e uma seção de cordas flutua nos fundos enquanto uma garçonete cria coragem para namorar um cliente. O sujeito para o qual ela liga no celular não é nenhum bandidão do hip hop -ele veste terno e usa abotoaduras.
Boa parte do álbum é dominada pela solidão e a carência. Depois de 13 canções de amor, "Nobody Not Really" conclui, num movimento musical que lembra "What's Going On", de Marvin Gaye, que "estou sozinha num grande espaço vazio" onde ninguém se preocupa o suficiente para entendê-la.


THE DIARY OF ALICIA KEYS. Artista: Alicia Keys. Lançamento: BMG. Quanto: R$ 28, em média.

Tradução de Clara Allain


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