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"THE DIARY OF ALICIA KEYS"
Alicia Keys canta pela vitalidade do soul
JON PARELES
DO "NEW YORK TIMES"
O século 21 chegou acompanhado por um revival do
soul, movido por compositores
jovens e pelo reconhecimento tardio dos músicos dos anos 60. Mas
olhar para trás é mais fácil do que
andar para frente. Em 2003, cantores de soul que estão por aí há
muitos anos, como Aretha Franklin, Al Green e Howard Tate, lançaram álbuns em que aplicam
suas vozes magníficas a canções
apenas medianas. Foi preciso
"The Diary of Alicia Keys", o segundo álbum da cantora, para
provar que é possível continuar a
compor coisas de valor no soul.
Na maior parte do álbum, Keys,
22, volta ao que faziam os cantores soul clássicos: mergulhar nas
esperanças e nos tormentos do
amor com uma voz cheia de garra
e canções bem definidas. Lançado
em 2001, seu álbum de estréia,
"Songs in a Minor", premiado
com o Grammy e que vendeu 5
milhões de cópias, também tinha
bases no soul, tanto assim que um
refrão antigo de James Brown estava por trás de "Fallin", a música
que fez sua carreira deslanchar.
Com "Fallin" e "A Woman's
Worth", Keys criou o personagem que continua a representar
em "The Diary of Alicia Keys":
uma mulher disposta a abrir mão
de tudo pelo amor e que quer o
mesmo de volta.
"The Diary of Alicia Keys" é
profundamente imbuído de romantismo, focando uma cantora
que anseia ou luta para ficar ao lado de seu homem. A guerra dos
sexos e as brigas entre garotas
sempre presentes no hip hop e no
rhythm and blues não combinam
com Alicia Keys, apesar de seu álbum de estréia, que a apresenta
como uma cantora qualquer.
Keys possui o talento vocal e a
ambição necessários para evocar
cantoras como Aretha Franklin,
Betty Wright, Ann Peebles e
Gladys Knight. Em "The Diary of
Alicia Keys", ela faz a transição do
r&b para o soul sem qualquer dificuldade. Após uma introdução
de piano quase clássica, ouvimos
o rhythm and blues de "Karma",
com uma batida rítmica da velha
guarda, refrão em tom sombrio e
arpejos de violino clássico. "Não
brinque comigo", diz Keys, irada
e chorosa, ao homem que a maltratou mas agora quer voltar.
Em seguida, ela colabora com o
mago do ritmo do hip hop, Timbaland, em "Heartburn". Como
uma máquina do tempo, a faixa
deixa Alicia Keys exatamente onde ela quer ir. Ela refaz um sucesso de 1970 de Gladys Knight, "If I
Were your Woman", e faz duas
homenagens diretas à Aretha
Franklin de "A Natural Woman".
Ela recria as sedosas baladas
soul de meados dos anos 70 com
"You Don't Know my Name". Os
vocais gemem docemente, o piano traz torrentes de notas, como
Liberace, e uma seção de cordas
flutua nos fundos enquanto uma
garçonete cria coragem para namorar um cliente. O sujeito para o
qual ela liga no celular não é nenhum bandidão do hip hop -ele
veste terno e usa abotoaduras.
Boa parte do álbum é dominada
pela solidão e a carência. Depois
de 13 canções de amor, "Nobody
Not Really" conclui, num movimento musical que lembra
"What's Going On", de Marvin
Gaye, que "estou sozinha num
grande espaço vazio" onde ninguém se preocupa o suficiente para entendê-la.
THE DIARY OF ALICIA KEYS. Artista:
Alicia Keys. Lançamento: BMG. Quanto:
R$ 28, em média.
Tradução de Clara Allain
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