São Paulo, Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2000 |
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João faz eco de velhos sucessos em novo CD
PEDRO ALEXANDRE SANCHES da Reportagem Local Pai da invenção, João Gilberto, 68, reitera a tradição em "João Voz e Violão", seu primeiro trabalho de estúdio em nove anos. Das dez canções, consumadas em 30 minutos e 15 segundos, cinco ele já gravara; delas, duas são "Chega de Saudade" e "Desafinado", que ele canta desde que a bossa nova é bossa nova. "João Voz e Violão" comporta um encontro de titãs. É "produção Universal Music dirigida por Caetano Veloso", o que poucos sabem bem o que significa -João jamais fala à imprensa sobre seus trabalhos, Caetano agora resolveu também se calar. Ainda fala um pouquinho, no material promocional do disco: "Seria demasiada pretensão de minha parte eu me considerar um produtor, porque as decisões foram tomadas daquela maneira misteriosa pelo próprio João". A "maneira misteriosa" ocultaria, segundo relatos e boatos, um processo tumultuado -o jornal carioca "O Globo" veiculou que a certa altura Caetano teria ameaçado se retirar do projeto, aos prantos; os envolvidos que falam negam com veemência. Profissionais do círculo de Caetano estiveram nos arredores do projeto -Alexandre Agra (que não atendeu a chamados da Folha até o fechamento desta edição) seria produtor executivo (por sugestão de Paula Lavigne, mulher de Caetano), mas cedo foi retirado do projeto; o maestro Jaques Morelenbaum foi cogitado para arranjos orquestrais que acabaram não havendo; o engenheiro de som Moogie Canázio, presente nos trabalhos mais recentes de Caetano, fez mixagens que afinal João rejeitou em prol dos primeiros takes de gravação. "Confirmo essa informação", diz Canázio, 44, por telefone, de Los Angeles, onde mora. Afirmando que o álbum foi gravado em rápidos quatro dias, em julho passado, ele explica: "O que de fato foi utilizado nesse CD foi o quarto dia de gravação (foram quatro dias). O CD é oriundo das cópias de monitor do quarto dia. João quis as primeiras versões. Ele é extremamente exigente, e é gênio. Tem um modo de operar, ele é o artista, ele é que está exposto." Canázio comemora que os primeiros takes -quase como uma performance ao vivo do artista- tenham sido aproveitados: "É ótimo que tenha sido assim, numa época em que se manipula tudo, em que tudo é feito em função do que toca em cada momento". Ele tenta, então, explicar a participação de Caetano: "O grande trabalho do produtor, no caso Caetano, é viabilizar o disco. Digamos que João cante "Você Vai Ver" (uma das faixas do CD) e Caetano não gosta. Ele fala, cria a dúvida. O produtor é muito mais importante do que o que a gente vê no disco pronto". Diz que Caetano foi ativo na seleção de repertório: "Foi uma surpresa para ele João gravar duas músicas suas, "Coração Vagabundo" (67) e "Desde Que o Samba É Samba" (93), mas fora essas teve grande participação na escolha das faixas". Seja qual for a alquimia entre João e Caetano -este cada dia mais incisivo quanto a sua dívida artística com o co-inventor da bossa nova-, "João Voz e Violão" encerra período conturbado, que teve como foco o episódio em que ambos se apresentaram na inauguração da casa de shows Credicard Hall, em setembro. Irascível, João entrou em confronto com a casa -pelo resultado acústico sofrível- e com o público -que passou a vaiá-lo diante de seus insistentes protestos contra o eco no palco, provocando por sua vez a ira de Caetano. O caso entrou, em instantâneo, na mitologia que pinta João Gilberto como difícil, temperamental. Mas até nessa Canázio tenta jogar panos quentes: "João, diferentemente da maior parte dos músicos com que já trabalhei, não é um cantor que toca violão ou um violonista que canta. Ele próprio é um som. É sempre considerado problemático porque tem uma maneira de cantar e tocar que você não pode separar. Confesso que esse João que descrevem não foi o com quem trabalhei. Ele foi a pessoa mais educada possível". Quem poderia atestar está, agora, mais calado que o silêncio. Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Redundâncias e maravilhas Índice |
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