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Mostra "Albert Eckhout Volta ao Brasil" chega a SP após receber 200 mil pessoas no Recife
O Brasil em tamanho natural
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Após receber mais de 200 mil visitantes no Recife, a mostra "Albert Eckhout Volta ao Brasil" chega a São Paulo -hoje para convidados e amanhã para o público-
com uma nova ênfase: a valorização do trabalho artístico do pintor
holandês.
Mesmo trabalhando dentro dos
cânones tradicionais da pintura
holandesa do século de ouro, Eckhout foi influenciado pela natureza brasileira, o que agregou novas texturas à sua obra.
"Buscamos escapar da armadilha ufanista e folclorizante que se
armou em torno de Eckhout. Por
isso apresentamos a sua obra no
contexto da produção da arte holandesa no século 17 e também
ressaltamos a importância artística e o caráter inovador de sua
obra", diz Marcelo Araujo, diretor
da Pinacoteca do Estado, instituição que sedia a versão paulista da
exposição.
A contextualização da obra de
Albert Eckhout (1610-1665) é feita
nas duas primeiras salas da mostra. Em uma estão dispostos mapas e livros de época -de diversos colecionadores brasileiros-
que atestam a originalidade do artista e o diálogo de sua obra com o
período. Suas pinturas são feitas
nos mesmos moldes dos retratos
do século 17, mas o pintor não
"europeizou" os tipos retratados,
como o fez Lischoten, um dos artistas expostos na sala, holandês
que retratou africanos.
"A grande diferença é que Eckhout esteve aqui e não pintou
apenas a partir de testemunhos,
como era comum em sua época",
diz Araujo.
Nessa sala estão ainda três pinturas -retratos de dom Miguel
de Castro, enviado do reino do
Congo, e dois de seus servos-
obras em geral atribuídas a Eckhout (inclusive no catálogo da
mostra), mas que na Pinacoteca
têm sua autoria posta em dúvida,
apontando Jasper Becx como seu
possível autor. Com isso, em vez
de 24 obras anunciadas, Eckhout
comparece com 21 trabalhos: oito
retratos, a tela "Dança dos Tapuias" e 12 naturezas-mortas.
Como há poucos documentos
sobre a obra de Eckhout, a controvérsia (leia texto nesta página)
é uma de suas características. Na
outra sala introdutória, há um vídeo sobre a mostra.
Eckhout participou da ocupação holandesa em Pernambuco
(1637 a 1644), liderada pelo conde
Maurício de Nassau, reconhecido
por estimular valores humanistas.
Além de Eckhout, Nassau trouxe
também Frans Post, a quem incumbiu a pintura de paisagens.
Ambos, Eckhout e Post, podem
ser considerados os principais
responsáveis pela disseminação
da imagem do Brasil na Europa
até a chegada da corte portuguesa
no Rio de Janeiro, no início do século 19. "Com a banalização da
imagem em nossos dias, especialmente pela televisão, é difícil imaginar o poder que essas pinturas
significaram nos séculos 17 e 18,
mas seguramente suas pinturas
consolidaram a imagem do Brasil
no exterior, pois eram as únicas
representações do país disponíveis", afirma Marcelo Araujo.
A mostra busca ainda reconstituir o espaço no qual as pinturas
de Eckhout teriam sido expostas,
com a sala denominada "Hipóteses de Exposição Original".
Cópias dos retratos pintados
por Eckhout, feitas pelo artista
plástico brasileiro Paulo von Poser, estão dispostas a cerca de dois
metros do chão, em meio a painéis modulares, como os que
existem em palacetes holandeses.
Com isso, os pés dos retratados
estão na linha de visão dos visitantes. "Provavelmente Eckhout
fez essas pinturas pensando em
tal disposição, pois os pés estão
em primeiro plano, dando a impressão de perspectiva", conta.
Entre as inovações da pintura
de Eckhout, ele foi, segundo a curadora Elly de Vries, o primeiro
artista a pintar naturezas-mortas
ao ar livre e o primeiro a retratar
nativos e não personalidades da
sociedade. A diversidade brasileira é outro tema do artista. Não
apenas frutos e animais típicos do
país estão representados em suas
telas. Um exemplo é o periquito,
pássaro africano, na mão de uma
criança na tela "Mulher Negra".
"O apelo em suas obras não está
na questão técnica, mas na temática da abundância das terras brasileiras", afirma Vries.
ALBERT ECKHOUT VOLTA AO BRASIL -
Mostra com 21 pinturas do artista
holandês e obras que contextualizam a
produção do século 17. Onde: Pinacoteca
do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/
229-9844). Quando: abertura hoje, às
19h30 (para convidados); de ter. a dom.,
das 10h às 18h. Até 30/3. Quanto: grátis.
Patrocinador: Banco Real.
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