São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 2003

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Mostra "Albert Eckhout Volta ao Brasil" chega a SP após receber 200 mil pessoas no Recife

O Brasil em tamanho natural

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Após receber mais de 200 mil visitantes no Recife, a mostra "Albert Eckhout Volta ao Brasil" chega a São Paulo -hoje para convidados e amanhã para o público- com uma nova ênfase: a valorização do trabalho artístico do pintor holandês.
Mesmo trabalhando dentro dos cânones tradicionais da pintura holandesa do século de ouro, Eckhout foi influenciado pela natureza brasileira, o que agregou novas texturas à sua obra.
"Buscamos escapar da armadilha ufanista e folclorizante que se armou em torno de Eckhout. Por isso apresentamos a sua obra no contexto da produção da arte holandesa no século 17 e também ressaltamos a importância artística e o caráter inovador de sua obra", diz Marcelo Araujo, diretor da Pinacoteca do Estado, instituição que sedia a versão paulista da exposição.
A contextualização da obra de Albert Eckhout (1610-1665) é feita nas duas primeiras salas da mostra. Em uma estão dispostos mapas e livros de época -de diversos colecionadores brasileiros- que atestam a originalidade do artista e o diálogo de sua obra com o período. Suas pinturas são feitas nos mesmos moldes dos retratos do século 17, mas o pintor não "europeizou" os tipos retratados, como o fez Lischoten, um dos artistas expostos na sala, holandês que retratou africanos.
"A grande diferença é que Eckhout esteve aqui e não pintou apenas a partir de testemunhos, como era comum em sua época", diz Araujo.
Nessa sala estão ainda três pinturas -retratos de dom Miguel de Castro, enviado do reino do Congo, e dois de seus servos- obras em geral atribuídas a Eckhout (inclusive no catálogo da mostra), mas que na Pinacoteca têm sua autoria posta em dúvida, apontando Jasper Becx como seu possível autor. Com isso, em vez de 24 obras anunciadas, Eckhout comparece com 21 trabalhos: oito retratos, a tela "Dança dos Tapuias" e 12 naturezas-mortas.
Como há poucos documentos sobre a obra de Eckhout, a controvérsia (leia texto nesta página) é uma de suas características. Na outra sala introdutória, há um vídeo sobre a mostra.
Eckhout participou da ocupação holandesa em Pernambuco (1637 a 1644), liderada pelo conde Maurício de Nassau, reconhecido por estimular valores humanistas. Além de Eckhout, Nassau trouxe também Frans Post, a quem incumbiu a pintura de paisagens.
Ambos, Eckhout e Post, podem ser considerados os principais responsáveis pela disseminação da imagem do Brasil na Europa até a chegada da corte portuguesa no Rio de Janeiro, no início do século 19. "Com a banalização da imagem em nossos dias, especialmente pela televisão, é difícil imaginar o poder que essas pinturas significaram nos séculos 17 e 18, mas seguramente suas pinturas consolidaram a imagem do Brasil no exterior, pois eram as únicas representações do país disponíveis", afirma Marcelo Araujo.
A mostra busca ainda reconstituir o espaço no qual as pinturas de Eckhout teriam sido expostas, com a sala denominada "Hipóteses de Exposição Original".
Cópias dos retratos pintados por Eckhout, feitas pelo artista plástico brasileiro Paulo von Poser, estão dispostas a cerca de dois metros do chão, em meio a painéis modulares, como os que existem em palacetes holandeses. Com isso, os pés dos retratados estão na linha de visão dos visitantes. "Provavelmente Eckhout fez essas pinturas pensando em tal disposição, pois os pés estão em primeiro plano, dando a impressão de perspectiva", conta.
Entre as inovações da pintura de Eckhout, ele foi, segundo a curadora Elly de Vries, o primeiro artista a pintar naturezas-mortas ao ar livre e o primeiro a retratar nativos e não personalidades da sociedade. A diversidade brasileira é outro tema do artista. Não apenas frutos e animais típicos do país estão representados em suas telas. Um exemplo é o periquito, pássaro africano, na mão de uma criança na tela "Mulher Negra". "O apelo em suas obras não está na questão técnica, mas na temática da abundância das terras brasileiras", afirma Vries.


ALBERT ECKHOUT VOLTA AO BRASIL - Mostra com 21 pinturas do artista holandês e obras que contextualizam a produção do século 17. Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/ 229-9844). Quando: abertura hoje, às 19h30 (para convidados); de ter. a dom., das 10h às 18h. Até 30/3. Quanto: grátis. Patrocinador: Banco Real.


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