São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2004

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MÚSICA

Bar na cidade é animado pela banda Forró in the Dark, com integrantes que migraram de diversos estilos musicais

Forró ocupa lugar do samba em Nova York

BEN RATLIFF
DO "NEW YORK TIMES"

Depois do samba, o forró é a forma mais resistente do ritmo predominante na música popular brasileira do século 20. Pode-se ouvi-lo em todo o país e, a despeito de sua idade e de sua falta de sofisticação, não causa embaraços e continua a ser genuinamente popular. Com um atraso de apenas 60 anos, o forró virou moda no East Village (sul de Manhattan).
No Nublu, um bar da avenida C, uma banda chamada Forró in the Dark tem se apresentado quase todas as semanas há mais de um ano, e o grande movimento de público e o clima do lugar se tornaram quase tão importantes quanto a música.
Como o conceito do forró é a de uma festa com dança para casais, na qual músicos e dançarinos participam todos do mesmo ritual, o bar Nublu é perfeito em termos dessa intimidade. O espaço do bar é apertado, e por isso o clima acaba sendo favorecido.
Mas a música que eles tocam, para ser exato, é o baião, um estilo mais ou menos inventado por Luiz Gonzaga (1912-1989) durante os anos 40. Gonzaga aproveitou danças folclóricas de origem africana que eram comuns no Nordeste do Brasil.
O músico brasileiro criou uma fórmula para o som que continua a servir de base para o baião, com um ritmo pesadamente sincopado, em dois por quatro, tocado com uma zabumba, um triângulo e um acordeão. É música simples, e de ritmo muito forte.
O Forró in the Dark mantém essa base sonora, e acrescenta guitarra, trombone e percussão adicional, dependendo de quem aparecer para tocar.
Em geral o que se ouve se restringe à fórmula básica, com um repertório formado basicamente por canções de Gonzaga. Mas, quando instrumentos como o trombone e a guitarra se sobressaem na música, nota-se uma busca de novos ritmos, para além do forró, entre os quais o zydeco de Nova Orleans, o dancehall caribenho e a cumbia.
A banda é composta por músicos vindos de outros ritmos. O líder é Mauro Refosco, que toca zabumba, e é ex-integrante da banda de David Byrne e do Lounge Lizards. O acordeonista Rob Curto tem formação musical de jazz, e Smokey Harmel passou boa parte da última década tocando guitarra na banda de Beck.
No triângulo, dançando sem parar enquanto cuidava do balanço na última quarta-feira, estava Jorge Amorim, e, ao lado, Karina Zaviani se encarregava de cantar algumas das mais belas melodias do gênero, como "Asa Branca" de Gonzaga, e "Só Quero um Xodó", de Dominguinhos.
Na quarta-feira à noite, o trombonista de jazz Clark Gayton e o pandeirista Zé Maurício apareceram para uma canja e fizeram uma boa improvisação.
Outra parte da tradição do forró que a banda preservou é tocar em um círculo, apesar das dimensões minúsculas do Nublu, onde faria mais sentido que os músicos tocassem alinhados perto da parede. Para chegar aos fundos do bar, é preciso passar pelo meio da banda, mas não importa: basta pisar no bar e você já é parte da música.


Tradução Paulo Migliacci

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