São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"FEIRA DAS VAIDADES"

Clássico inglês vira caricatura nas telas

SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN

Dizem que o escritor britânico nascido em Calcutá William Makepeace Thackeray (1811-1863) inventou a palavra "snob" (esnobe, em português).
A autoria é discutida, pois há quem diga que o termo é mais antigo e seria derivado da expressão em latim "sine nobilitate" (sem nobreza), enquanto o dicionário Oxford registra seu uso no começo do século 19, na Inglaterra, designando alpinistas sociais que faziam de tudo para integrar a elite.
O certo é que essa segunda versão, que segue valendo até nossos dias, teve em Thackeray, autor de "The Book of Snobs" (1846), seu principal divulgador. Ironizar a sociedade inglesa em que aristocratas decadentes e burgueses em ascensão disputavam poder e prestígio tornou-se sua principal obsessão. "Feira das Vaidades", baseado no livro homônimo, é uma transposição um tanto convencional para as telas do estilo satírico que consagrou o escritor. Com direção da indiana Mira Nair, conta a saga de Becky Sharp (Reese Witherspoon), uma órfã em sua busca insaciável por uma posição social e uma vida de luxo.
Até hoje, a adaptação cinematográfica mais conhecida de uma obra de Thackeray havia sido "Barry Lyndon", pelas mãos do genial Stanley Kubrick (1928-1999). Ainda que este seja considerado um dos filmes menores do cineasta inglês, "Barry Lyndon" é incontestavelmente superior à "Feira das Vaidades" -excessivamente televisivo e caricato.
Becky manipula desejos masculinos, carências de solteironas ricas, não dá a mínima para o filho pequeno e casa-se por conveniência. Ainda sendo a vilã da história, o público é levado a torcer por ela, tamanha a crueldade e a futilidade daqueles contra quem ela luta. Aos moldes de outra anti-heroína célebre da literatura britânica, a bandida que protagoniza "Moll Flanders" (1722), de Daniel Defoe, Becky é encantadora e inteligente, e ninguém quer que ela sucumba.
O fato de ser estrangeira dá a Nair a possibilidade de ser pouco complacente aos modos e costumes ingleses. O filme ainda explora a maneira preconceituosa como os britânicos olhavam para suas colônias, lugares habitados pelo exótico e pelo selvagem.
Entre as interpretações apenas corretas que predominam no elenco, é de se ressaltar as atuações do veterano Gabriel Byrne -o sombrio marquês de Steyne, que acompanha Becky desde a infância e, ao final, tenta "comprar" sua alma- e a da atriz Eileen Atkins, que encarna uma avarenta milionária solteirona e idosa de quem a moça se aproxima.
Ideal para matinês ou fãs de reconstituições históricas -a Londres do século 19 está perfeita, apesar de o filme ter sido rodado na cidade de Bath. Para os demais, vale o clichê: prefira o livro.


Feira das Vaidades
Vanity Fair
   
Produção: EUA/Inglaterra, 2004
Direção: Mira Nair
Com: Reese Witherspoon, Gabriel Byrne e Roger Lloyd-Pack
Onde: em cartaz a partir de hoje nos cines Bristol, Frei Caneca Unibanco Arteplex, Jardim Sul e circuito


Texto Anterior: Cinema/Crítica: "Soy Cuba" dá vida aos sonhos da revolução
Próximo Texto: A era do gelo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.