São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

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ARTE PÚBLICA

Artista trabalha em "Etnias", painel de 30 m que liga o metrô Barra Funda ao Memorial da América Latina

Maria Bonomi aposta em temática indígena

GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de encerrada a "Epopéia Paulista" -painel de 70 metros para a Estação da Luz-, eis que Maria Bonomi e sua equipe se vêem novamente imersos em um projeto público de grandes dimensões.
Em fase inicial de produção e com inauguração prevista para abril deste ano, a obra "Etnias" ocupará o corredor subterrâneo de interligação entre a estação Barra Funda de metrô e o Memorial da América Latina, percorrendo temas e motivos indígenas ao longo de seus 30 metros de extensão.
Inteiramente trabalhado em relevo, o painel/passagem será dividido em três materiais: cerâmica, bronze e alumínio, permitindo que os passantes/espectadores caminhem em meio às estruturas.
"Quero ir do barro, da arqueologia, até chegar ao alumínio, que remete ao contemporâneo", explica Bonomi.
Aprovado pelo Ministério da Cultura e orçado em R$ 1,72 milhão, o projeto ainda se encontra em fase de captação, mas a obra já está em andamento. Desde o início da semana, Bonomi e sua equipe -seis artistas e assistentes- transportaram enormes placas de argila para o subsolo da galeria Marta Traba, no próprio Memorial, transformado em ateliê de trabalho.
"Queremos integrar os painéis a essa parte histórica da cidade, a essa América Latina em construção", diz Bonomi. "Fiquei muito contente em ver que a obra teve total apoio por parte de [Oscar] Niemeyer."
A obra será a segunda da artista no projeto do arquiteto. Seu mural "Futura Memória" ocupa o Pavilhão dos Congressistas desde a inauguração do edifício, há 16 anos. "Vinha aqui trabalhar, ainda durante a construção. Os operários me chamavam de "Maria Bom Nome'", relembra.
Quanto ao corredor de interligação com o metrô, este permaneceu fechado nos últimos dez anos; foi reaberto no final do ano passado. Segundo a artista, é animadora a idéia de colocar a obra num lugar de travessia, de grande fluxo humano.

Tombamento
Croquis e motivos indígenas de toda a espécie enchem as paredes do novo ateliê. O desenho dos painéis prevê trechos dedicados às cestarias, à plumagem e a mapas do Brasil. No setor feito em cerâmica, desenhos privilegiam a pré-história brasileira.
Há pelo menos cinco anos, a equipe vem estudando a temática, por meio de leituras e pesquisa iconográfica. "Estamos aqui fabricando o nosso passado e o nosso futuro. Como o Memorial é todo tombado, acho que posso dizer que estamos nos tombando", ironiza.
Durante o trabalho, o som alterna blues com cantos nativos das tribos brasileiras. "Tá baixo, aumenta o som", grita Maria, enquanto dois de seus assistentes se alternam no trabalho no torno.
O trabalho em equipe vem marcando a trajetória artística de Bonomi. Além de "Epopéia Paulista", a artista coordenou, no ano passado, o Ateliê Amarelo, onde nove jovens artistas selecionados se reuniram em um casarão da Cracolândia ao longo de 2005.
"Encerrado este primeiro ano, julgo que 80% dos artistas saíram de lá mais qualificados. Muitos receberam boas propostas de galerias e convites para expor", afirma Bonomi.
Para o edital 2006, já em andamento, a idéia é favorecer os jovens do interior. Dos nove a serem selecionados, cinco serão necessariamente de fora da capital.


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