São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

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CRÍTICA

Produção opulenta não garante vida nem calor ao filme

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Ao longo dos anos, os filmes de Anthony Minghella foram se encorpando em orçamento e ambição. Das singelas comédias "Um Romance de Outro Mundo" (1990) e "Mr. Wonderful" (1993), ele passou às ambiciosas adaptações dos livros de Michael Ondaatje ("O Paciente Inglês", 1996), e Patricia Highsmith ("O Talentoso Ripley", 1999).
Foram escolhas que o identificaram como o mais acadêmico dos realizadores atuais, símbolo de um novo padrão de bom gosto artístico hollywoodiano com pedigree europeu (Minghella é inglês). Em "Cold Mountain", ele insiste no formato "adaptação literária de uma obra de prestígio com produção em larga escala para concorrer ao Oscar". Opção que costuma gerar filmes belos, porém mortos. E aqui, o desgaste já é praticamente total.
O premiado romance de Charles Frazier que serviu de base para o filme é uma versão da "Odisséia" no cenário da Guerra Civil americana. Sua narrativa é, ao mesmo tempo, épica e minimalista, alternando o drama de larga escala e o detalhe minúsculo e intimista. Minghella procura reproduzir isso com uma imagem que insere o ator na paisagem, valorizando os elementos da natureza que, a toda hora, pontuam a narrativa, como num filme de Kurosawa.
O filme acompanha a saga de Inman (Jude Law), o soldado que, depois de sobreviver a um grave ferimento, deserta para reencontrar Ada (Nicole Kidman), a mulher por quem se apaixonou pouco antes de partir para a batalha. É uma bela história, sustentada em eficiente montagem paralela (do mestre Walter Murch) e pela fotografia (de John Seale). Enquanto Inman viaja, Ada, como Penélope, espera em sua fazenda, ajudada pela caipira Ruby (Renée Zellweger, surpreendente, responsável pelas doses de humor).
Trata-se, portanto, de uma história de amor, mas também de tesão. Diante da possibilidade da morte, Inman prefere abandonar tudo para consumar um ato de paixão. Mas Minghella parece ter preferido o romantismo distante e convencional à energia sexual que deveria mover Inman e Ada para o instante de seu reencontro.
A escalação de Nicole Kidman, nesse sentido, é sintomática. Definitivamente, ela é uma atriz fria demais para o papel.


Cold Mountain
Idem
 
Produção: EUA, 2003
Direção: Anthony Minghella
Com: Nicole Kidman, Jude Law, Renée Zellweger
Quando: a partir de hoje nos cines ABC Plaza Shopping, Bristol e circuito



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