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CRÍTICA
Produção opulenta não garante vida nem calor ao filme
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Ao longo dos anos, os filmes
de Anthony Minghella foram se encorpando em orçamento e ambição. Das singelas comédias "Um Romance de Outro Mundo" (1990) e "Mr. Wonderful" (1993), ele passou às ambiciosas adaptações dos livros de Michael Ondaatje ("O Paciente Inglês", 1996), e Patricia Highsmith
("O Talentoso Ripley", 1999).
Foram escolhas que o identificaram como o mais acadêmico
dos realizadores atuais, símbolo
de um novo padrão de bom gosto
artístico hollywoodiano com pedigree europeu (Minghella é inglês). Em "Cold Mountain", ele
insiste no formato "adaptação literária de uma obra de prestígio
com produção em larga escala para concorrer ao Oscar". Opção
que costuma gerar filmes belos,
porém mortos. E aqui, o desgaste
já é praticamente total.
O premiado romance de Charles Frazier que serviu de base para
o filme é uma versão da "Odisséia" no cenário da Guerra Civil
americana. Sua narrativa é, ao
mesmo tempo, épica e minimalista, alternando o drama de larga
escala e o detalhe minúsculo e intimista. Minghella procura reproduzir isso com uma imagem que
insere o ator na paisagem, valorizando os elementos da natureza
que, a toda hora, pontuam a narrativa, como num filme de Kurosawa.
O filme acompanha a saga de
Inman (Jude Law), o soldado que,
depois de sobreviver a um grave
ferimento, deserta para reencontrar Ada (Nicole Kidman), a mulher por quem se apaixonou pouco antes de partir para a batalha. É
uma bela história, sustentada em
eficiente montagem paralela (do
mestre Walter Murch) e pela fotografia (de John Seale). Enquanto
Inman viaja, Ada, como Penélope, espera em sua fazenda, ajudada pela caipira Ruby (Renée Zellweger, surpreendente, responsável pelas doses de humor).
Trata-se, portanto, de uma história de amor, mas também de tesão. Diante da possibilidade da
morte, Inman prefere abandonar
tudo para consumar um ato de
paixão. Mas Minghella parece ter
preferido o romantismo distante
e convencional à energia sexual
que deveria mover Inman e Ada
para o instante de seu reencontro.
A escalação de Nicole Kidman,
nesse sentido, é sintomática. Definitivamente, ela é uma atriz fria
demais para o papel.
Cold Mountain
Idem
Produção: EUA, 2003
Direção: Anthony Minghella
Com: Nicole Kidman, Jude Law, Renée Zellweger
Quando: a partir de hoje nos cines ABC
Plaza Shopping, Bristol e circuito
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