São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

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Para diretor do CCSP, decisão é resultado de diálogo e reflexão

DA REPORTAGEM LOCAL

Procurado pela reportagem para comentar a retirada da obra do artista João Loureiro, o diretor do Centro Cultural São Paulo, Martin Grossmann, enviou um texto em que defende que a decisão "foi resultado de um processo de diálogo, transparente, e de reflexão acerca não só da arte, mas da prática cultural institucional".
Leia a íntegra a seguir:

 

"Centros culturais não são museus, são equipamentos culturais plurais. O Centro Cultural São Paulo não é qualquer centro cultural: seu projeto, sua arquitetura, sua atuação na cidade e seu uso diferem substancialmente de outros espaços semelhantes. É, talvez, o espaço cultural mais democrático da cidade.
Mais do que receber público, abriga usuários que se apropriam de seus ambientes, criam pertencimento com o local, participam ativamente. Uma verdadeira multidão (em média, 2.000 pessoas por dia) ocupa de maneira diversa as dependências de sua arquitetura aberta e transparente que estimula o livre acesso ao conhecimento e à cultura.
Mas não é só: há também um grupo de usuários formado por cerca de 450 funcionários, responsáveis por um equipamento público de 46 mil metros quadrados. De 2007 a 2008, operacionalizamos e finalizamos um processo de reforma administrativa cujo planejamento foi iniciado na gestão à frente do centro cultural do atual secretário de cultura do município, Carlos Augusto Calil (2001 a 2004).
Essa nova estrutura administrativa possibilitou, entre outros ganhos: a integração das cinco bibliotecas em torno da praça das bibliotecas; a inclusão do deficiente visual nesse ambiente com a transferência para o local da biblioteca Louis Braille; um programa modelar de acessibilidade; novas formas de mediação cultural e educativa; o primeiro serviço Wi-Fi gratuito em um equipamento cultural público; a integração da programação artística e cultural; a integração técnica dos quatro acervos (Coleção de Arte da Cidade, Arquivo Multimeios, Discoteca Oneyda Alvarenga e Missão de Pesquisas Folclóricas), bem como a implantação de um novo espaço administrativo que hoje abriga por volta de 200 funcionários.
Foi este novo espaço de trabalho que o artista João Loureiro escolheu para realizar sua obra site-specific. O convite para idealizar uma obra inédita em diálogo com as particularidades físicas, conceituais, funcionais e discursivas do centro cultural visava uma maior cumplicidade e interação entre os artistas e a instituição.
Ocorre que, por se tratar de uma obra que comenta criticamente aspectos da prática institucional, acabou provocando, nesse contexto (fora dos espaços de exposições considerados como neutros), uma série de reações ligadas ao seu conteúdo e intencionalidade.
Nomear de "fantasma" o espaço administrativo no momento em que toda a equipe vem trabalhando incansavelmente para sua revitalização, investindo todos os esforços na qualificação e expansão de sua programação e atendimento ao público, provocou uma reação adversa no seio da instituição.
Entendemos que a retirada antecipada da obra foi resultado de um processo de diálogo, transparente, e de reflexão acerca não só da arte, mas da prática cultural institucional. A obra correspondeu à proposta da curadoria e, esperamos, às intenções do artista, cumprindo assim seu propósito. A instituição também cumpriu seu papel garantindo a produção e exposição da obra, até o limite aqui exposto."


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